Na última semana, fomos assistir a uma comédia argentina (estamos muito "arxentinos" ultimamente), Um conto chinês, do diretor portenho Sebastián Borensztein. Com ninguém menos que Ricardo Darín, claro.
O cinema vem abaixo logo na primeira cena do filme, quando uma vaca cai do céu sobre um bucólico barquinho num lago chinês, interrompendo absurdamente um pedido de casamento. Mais não posso dizer, para que ninguém deixe de assistir a uma das melhores comédias dos últimos tempos. Comédia no sentido do que faz rir (e, como bem assinalou Guga, todo mundo pareceu sair mais leve do cinema) e também no de farsa reveladora. Quanta coisa nos diz o chinês que não ganha uma legenda sequer na película! Quanta coisa a personagem de Darín diz que gostaríamos de dizer!
Feita a sugestão, queria mesmo comentar, sem nenhuma novidade, como Ricardo Darín é um ator incrível. Não precisa fazer caras e bocas para ser convincente em qualquer papel. Porque seu principal papel é o do homem comum, pateticamente humano, pouco heroico, cheio de defeitos, medos e paixões e algumas coragens súbitas - por isso mesmo tão emocionante. Como nós, ordinary people. Quem não se reconhece no rabugento ex-combatente das Malvinas, que tem medo/culpa de ser feliz? Ou no dono de restaurante cuja maior preocupação parece ser o mascarpone que falta ao tiramisù, e que precisa confrontar o Alzheimer da mãe? Ou, ainda, no advogado que sofre calado por amor, mas que tem coragem para fazer justiça e honrar o amor alheio covardemente destruído?
Acabo de falar em "pouco heroico", mas entendam isso como "pouco poderoso". Porque, no fundo, Darín só faz ressaltar em suas personagens o que há de mais heroico no ser humano: a centelha divina que nos lança na difícil aventura de existir (coragem, esperança, teimosia? chamem como quiserem), diariamente. Não é assim? Mesmo quando parece não haver sentido para prosseguir, prosseguimos.
Gostei da avaliação! Vou assistir. Beijo
ResponderExcluirAssisti, adorei e recomendo ! Impossível não continuar morrendo de inveja do cinema feito pelos nossos hermanos. Bjs e Abcs do amigo Renato.
ResponderExcluirQue linda análise, Sô! Quero assistir. Me arrisco a dizer que, mais que heroísmo, essa chama divina que nos mobiliza ao horizonte impossível, relembrando um pouco Gilbert Durant, é a essência do drama humano, heroico e místico, solar, lunar, crepuscular.
ResponderExcluirbeijoca,
Tam
Queridos Fábio, Renato e Tam,
ResponderExcluiressas experiências cinematográficas (e o cinema argentino é grande responsável nisso, no meu caso) estão entre as que mais alimentam nosso espírito, nos deixam em estado de graça, mesmo com um pouquinho de melancolia - sintomas típicos de quem teve contato com a beleza. :)
beijos e bom feriado!
Sô