sexta-feira, 18 de abril de 2014

O presente no pão

Presentificar faz parte de uma existência mais zen, mais feliz, mais sábia. Mas é uma tarefa difícil quando há contas pra pagar, quando não se vê uma saída mais à frente. Ficamos tentando enxergar a luzinha lá adiante, no final do túnel, e não a escuridão ao redor, onde obviamente não se vê nada. Difícil curtir o escuro, a menos que seja na hora de dormir, no meio do mato, com grilos e sapos batendo papo.
Eu bem que tento focar no presente, não sofrer por antecipação. Quando minha cabeça entra num vórtice ensandecido, numa sequência desembestada de pensamentos que não levam a lugar nenhum, só paralisam, tento fazer algo prático. Ontem foi pão e encerar o piso, não ao mesmo tempo, claro.
Perdi um pouco a mão nos pães - logo se vê na foto do pão com cara de peixe amazônico. Esse foi outro pão de alecrim, e ainda por cima com farinha trocada (confundi o pacote da integral com o da de centeio), o que deixou a massa mais molenga e crescida para os lados. Ficou gostoso, de qualquer modo. Foi bom comer pão fresco na casa que cheirava a limpeza.
Por algumas horas, os problemas se diluíram, se dissolveram na sova da massa. O presente se tornou o cheiro do pão assado, o perfume do alecrim ainda nas mãos, a casa limpa, o olor da erva-cidreira no aromatizador presenteado por um amigo.
Poderia ter sido o sumiê, o bordado, a leitura, mas foi a hora e a vez do pão, alimento de corpo e alma.

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