terça-feira, 26 de agosto de 2025

Reaproveitamento chique: presunto cru

Ainda tinha presunto cru do meu aniversário - delícia, mas haja sódio. De todo jeito, não ia jogar fora, com o preço das coisas! 
Tinha massa de pizza congelada, comprei uma burrata, usei na pizza, parte com pesto, parte com o presunto. O que restou do presunto ainda foi compor uma salada (e eu não sou boa de salada) delícia com cream cheese, tomate, rúcula e pesto. E azeite Verdenso, que comprei na oferta, uma sorte em horinhas de descuido.   

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Livros "de mulher"?

Outro dia, vi que a PUC-RS, onde fiz meu curso de gastronomia lato sensu, estava oferecendo um minicurso do Luiz Antonio Assis Brasil de escrita literária. Oba, pensei, mais um curso para ir afinando ideias, ainda mais de um professor desse quilate, e tal. Também ganhei de Guga o livro do renomado professor, Escrever ficção, para incrementar minhas leituras, junto com Francine Prose, Daniel Pennac, James Wood. Um brasileiro, ora.
Maravilha, comecei o curso, um pouco lento no início (gosto mais do livro, já sei), mas a coisa foi se constituindo. No outro dia, ao prosseguir na plataforma, selecionei uma aula mais à frente, sem querer, e tive um choque com os comentários feitos pelo professor sobre a literatura atual. Ele disse, num tom despeitado, que tudo hoje é sobre gerações de mulheres, histórias de abuso e homens enfraquecidos. Que "está na moda". Epa. 
Interessante é que ele, para dar um exemplo de uma grande obra, tenha citado O tempo e o vento, que, ora vejam, tem gerações de mulheres, histórias de abusos e alguns homens enfraquecidos - embora conte com as presenças dos heróis fundantes do Rio Grande do Sul, reais e imaginários. 
Comentei isso com Guga, e ele disse que só tem visto livros de mulheres, pouco encontrando autores homens. Tenho certeza de que não, de que o que acontece é que ele nunca tinha visto tantas mulheres escrevendo e ganhando destaque. Prova disso é o que a Flip mostrou este ano - muitas mesas com mulheres. E aqui volto ao comentário ranzinza de Assis Brasil.
Algumas das autoras da Flip (que são só uma gota no oceano, claro) realmente falam em seus livros sobre abuso, de vários tipos. Provavelmente, porque não integram somente suas experiências, mas a da maioria das mulheres. Falar de outras gerações é uma ferramenta para entender a sua situação no mundo, o "estado das coisas" - até porque muitas delas se repetem para as mulheres. E quando essa "revisão" acontece, os homens ainda presos ao machismo, reais ou não, perdem força. Como Assis Brasil gosta de repetir, "simples assim". 
Eu já me perguntei se haverá um dia em que as escritoras e os escritores negros possam se livrar da experiência de racismo e deixar de falar dela. Nem todas e todos falam, é claro. Mas um número suficiente o faz, a ponto de chamar a atenção de alguém que não sofre racismo da mesma forma - e isso é fundamental. O mesmo pode ser dito das mulheres de todas as raças e classes - nem todas falam de abuso, mas várias falam, enquanto quase autor homem (branco) nenhum menciona esse tipo de acontecimento. Aliás, homens brancos bem nascidos parecem muito mais livres para abstrair, até fabular. Ao restante da humanidade, sobra a realidade, em matizes de dureza associados a gênero, raça e classe social. 
O efeito que se deseja nesses livros "de mulher" é justamente o de choque de realidade em quem não vive essa realidade mais dura. Que mais pessoas possam ecoar o que disse, sabiamente, Jamil Chade no encontro com as Juristas Negras: que ele não irá mais participar de mesas em que não haja mulheres, sobretudo mulheres negras. Nós, mulheres, não esperamos menos que isso. 

Organizar livros para organizar a vida

Provavelmente foi na minha primeira viagem a Recife que, visitando a irmã de minha avó, tia Edna, e sua família, ganhei um livro que teria pertencido a meu pai. Tio Luís, meu tio-avô, veio, todo misterioso e cheio de pompa, dizer que ia me presentear com o livro de um grande homem - no caso, meu pai. O próprio.
Era uma coletânea de contos russos. Já era um exemplar velho quando recebi de tio Luís, letras pequenas, papel amarelado - não estimulava muito a leitura. Mas guardei, como uma espécie de relíquia, uma herança indireta - e a única - de meu pai. 
Na última semana, resolvi limpar e reorganizar meus livros - desde a mudança, estavam dispostos em uma ordem ínfima, dificultando encontrar o que eu queria, mesmo sendo uma estante de literatura e outra de assuntos diversos. A limpeza também não estava lá essa beleza toda, então me dispus a pegar um a um para limpar. A umidade da Bahia não deu trégua a alguns, como eu imaginava.
Mas qual não foi minha surpresa ao ver cair um pozinho escuro justamente do livro de contos russos? Dentro dele, os cupins já haviam aberto caminho. Aparentemente, só ele recebeu a visita, ainda bem. Achei sintomático. De todo jeito, ficou uma herança melhor e mais efetiva, o apreço pelos livros, cada um com sua maneira de se relacionar com eles. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Brinde e luta

Nada como brindar antes de ir à luta. Assim foi o encontro promovido pelas Juristas Negras, organização capitaneada pela promotora pública Lívia Santanna Vaz, no Goethe Institut na última terça, com a presença luxuosa de Jamil Chade, um dos jornalistas e comentaristas políticos e de direitos humanos mais confiáveis da atualidade e desde há muito. Teve aluá, abará, cocadinha e cervejinha. Teve gente interessante e interessada. Teve trégua de são Pedro. E teve a conversa fundamental de Lívia e Jamil, trazendo tantas verdades em meio à distopia, lá nos Estados Unidos e cá no Brasil. 
Claro que dizer que devemos nos unir pela democracia não basta. Como chegamos a isso? Como promovemos a união? Ainda acho que precisamos tomar as formas de comunicação. Redes, impressos, boca a boca, as ruas. Não podemos continuar reféns da comunicação torta e "boateica" da extrema direita.  
Enquanto isso, tietei Lívia e Jamil, tão disponíveis os dois. E sim, me orgulho de ter estado literalmente no meio de quem luta por justiça e democracia neste país, neste mundo.  

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Carimbó

Desde a primeira vez que vi alguém dançando carimbó, essa mistura de ritmos indígenas, africanos, caribenhos e tão brasileira, fiquei apaixonada. Senti que era a pura representação do direito de todo mundo à alegria, à dança, à festa. É claro que há os melhores dançarinos, como em toda dança, mas o carimbó convida primeiro a se alegrar, a experimentar, para depois saber como se faz. Como crianças, somos chamadas e chamados para a roda, para sentir a pulsação, para ver a energia subindo pelos pés e percorrendo todo o corpo até fazer o sorriso desabrochar.
Foi exatamente assim na oficina de lundu e carimbó na Escola de Dança da UFBA. Beatriz e Maya, jovens que vieram de Belém para o congresso de antropologia, não só trouxeram a dança, mas também o legado dos mestres e mestras paraenses. Que lindo vê-las, e mais algumas paraenses presentes, dançando com todo prazer e orgulho! Lembrei de Chico César dançando com uma violoncelista do Quinteto de Cordas da Paraíba, uma leveza, uma alegria contagiante.
E foi essa alegria que também contagiou o grupo na sala de dança na última sexta. Sem a preocupação de saber dançar, e sim dançar para saber. Não se intimidar pelo medo da imperfeição, nunca, nunca. 

A sereia e o direito à imperfeição

Tinha marcado com Liu de ir ao BazaRozê e vi que haveria uma oficina de modelagem em argila. A oficina foi muito concorrida, mas conseguimos garantir nossos lugares. 
As bolotas de argila já estavam prontas. As mesas tinham cerca de 8 pessoas. Logo todos estavam concentrados em seus trabalhos, mas de uma forma apressada, como se estivéssemos participando do Masterchef. Desacelerei para curtir a textura da argila, todas as possibilidades nas minhas mãos. A luz era pouca, o que dificultou enxergar as imperfeições da minha sereia. 
Isso é algo em que tenho pensado muito - a dificuldade de se aceitar a imperfeição. Não minha, que já a assumi como parte de mim, incompleta e imperfeita. Sobretudo por influência das redes sociais, e antes da cultura da imagem, cada vez mais gente acaba não fazendo coisas por prazer, mas somente para atestar uma suposta perfeição. Só cantar se garantir 100% de afinação, só dançar se for para arrasar na coreografia, usar a IA para conceber um retrato ou um filtro para "corrigir" uma foto. 
Talvez por causa da idade, cada vez menos a perfeição tem me interessado. Não que eu não seja assombrada volta e meia pela necessidade de ser especialista em alguma coisa - e não sou em nada, no final das contas -, mas realmente vejo hoje quanto tempo se perde em busca da perfeição, e o quanto isso nos paralisa. E a vida, afinal, vai passando, caminhando para seu inexorável fim. 
Quando a sereia ficou um pouco mais seca, as imperfeições ficaram mais claras. Mas mais verdadeiras também. Nem por isso, ela deixa de estender sua mão que concede presentes, nem o abebé que reflete quem somos e também protege dos adversários. Nem por isso, ou justamente por isso, ela deixa de cantar, bailar, encantar, tecer histórias. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog