Ele sempre entrou na minha vida e saiu dela com estrépito. Derrubando coisas, partindo cristais. A sutileza e a cordialidade que eu amo, ele nunca as teve. Parcimonioso em demonstrações de afeto, peremptório em seus juízos, não tinha amigos, somente concorrentes.
Mas, por mais que visse ameaças em seus próprios filhos, era o pai que eu tinha. Por mais que vivesse longe de nós, cada um se lhe assemelha de algum modo. Essa herança (que há algum tempo aprendi a ver como bênção, já que cada um faz da sua vida o que escolhe fazer) livra-o, afinal, mesmo com sua presença intermitente, de ser um desconhecido. Não o livra, no entanto, de ser estranho. Contraditório e inteligente, carismático e apático, envolvido em lutas sociais e imerso em seu próprio mundo.
Agora esse homem estranho sai de novo da minha vida. Desta vez, porém, estranhamente sem ruído, e para não mais voltar.
quarta-feira, 9 de março de 2011
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla