Fazia tempo que queria falar das redes sociais, sobre como me assusta ver pessoas (algumas bem próximas) se alienando da realidade para mergulhar de fato no mundo virtual. Considero um privilégio viver numa época em que se tem acesso a tanta informação, que, se usada com critério e sabedoria, pode mudar para melhor a vida de muitos. Por isso mesmo, acho bem triste que tanta gente, em vez de se valer da acepção de troca, comunicação, própria das redes, acabe na verdade se enredando, caindo em uma armadilha da qual é difícil sair sem muitos arranhões.
Há gente demais no mundo, carros e celulares demais, competição demais, exposição e consumo demais. Comunicação, respeito e afeto de menos. Como ser feliz seguindo um modelo de sucesso se a cada hora esse modelo se transmuda em outro? Se temos que ser cada vez mais rápidos para acompanhar as tendências e os assuntos? Como pretender respeito à individualidade se promovemos a autoexposição? Não queremos só que nos "curtam" no Face - queremos ser invejados porque vamos a locais bacanas, e o TripAdvisor (que é um site muito útil para pesquisar lugares e planejar viagens) mapeia nossos passos pelos lugares que "importam". Eu arriscaria dizer que esse verdadeiro desfile de personas também ajuda a promover os atos gratuitos de violência - é como se as pessoas fossem se descolando de si mesmas até restar apenas uma casca, zero alteridade. Mas essa teoria é assunto para outro post.
Pessoalmente, acho saudável compartilhar informações e coisas legais que vemos e que nos acontecem. E cada um sabe qual é seu limite. O meu, por exemplo, é manter a vida privada realmente no âmbito mais íntimo e compartilhar com o grande grupo o que é socialmente compartilhável. Gosto de ver fotos dos amigos com a família, saber das alegrias com os filhos que crescem, mais um aniversário, um novo show de rock, a defesa da dissertação, uma nova exposição de seus trabalhos, pensamentos inspirados que ocorrem e tal. E fico meio deprê com os vazios que ecoam de quando em vez, com os perigos que rondam quem nem percebe que já passou para outra realidade. Entrar em outra realidade (sem trânsito, sem contas, sem casa para arrumar, sem discussões) para esquecer esta que é tão difícil, que nos maltrata diariamente, é uma grande tentação. E os pop-ups e links garantem o acesso ao labirinto sem outro fio que não o do discernimento para nos guiar.
Os tempos que vivemos podem ser tão confusos e difíceis que às vezes nem mesmo a arte pode nos servir de alento (e penso no filme Elefante branco, de Pablo Trapero, com Ricardo Darín - a ficção é tão real e pungente e tão nossa conhecida que ficamos estatelados quando sobem os créditos). Ainda bem que resta o humor, para rirmos de nós mesmos, como o de Hermes e Renato (cáustico o suficiente para diluir as cascas renitentes e quem saber chegar às pessoas dentro delas).
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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