Gosto de trazer souvenirs de viagens. Gosto de ganhar souvenirs, um sinal de que alguém se lembrou de mim em outro lugar. Cada vez mais, escolho souvenirs que tenham a ver com meus espaços - não compro mais "qualquer coisa" só para dizer que estive em tal lugar. Prefiro até objetos que tenham outra utilidade além da de lembrar algo - assim, a memória de coisas queridas se integra ao cotidiano.
Quando fui organizar minhas miudezas-souvenirs, notei que se dividiam em subgrupos principais: proteção, recipientes e bichos. Eram pequenas coleções, e assim as distribuí entre os livros.
*
Enquanto reorganizava visualmente as memórias, lembrei de situações em que dividi experiências com alguém que tinha uma lembrança completamente diferente do que ocorreu - aquela coisa de uma única versão puxando a sardinha para o seu lado, que tem muito de memória seletiva. Eu também faço isso, confesso, ainda que sem querer. Edito, às vezes; olho como quem fotografa, deixando parte da imagem de fora.Depois me ocorreu que, como eu edito e fotografo, muita gente prefere reinventar suas lembranças. Recria-as mesmo, depois de algum tempo sugere uma nova versão para o que hoje é memória. Também é uma espécie de seleção, mas com descarte total, sem direito a "reserva técnica".
Porque lembrar não é algo automático. Lembrar exige coragem, principalmente quando as memórias não são das mais agradáveis. Podemos reorganizar, editar e até descartar, mas evitar o lembrar faz de nós seres incompletos. Quem somos, senão o que vivemos? O que vivemos, senão o que lembramos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário