No último Natal, fomos convidados para ser padrinhos de casamento de Binho, amigo de Guga das antigas. O pedido, fofo, feito com uma lousinha que ainda guardo e chocolates, que duraram poucos minutos.
Pouco tempo depois, Nau, a noiva, me passou detalhes da cerimônia: casamento à beira da praia, madrinhas vestindo longo na cor salmão... Peraí - salmão? Sim, essa cor, que já foi uma das minhas favoritas na juventude, voltou à minha vida por conta desse casamento tão especial.
Até pensei em procurar um vestido em Sampa, já que ia para lá, mas não deu tempo. Achei que ia ser muito fácil encontrar por aqui, e quando Nau me perguntou se estava tudo em ordem, eu respondi, sem nenhuma dúvida, que "sim, claro". Depois ela me contou que eu fui a única madrinha a responder isso, que estavam todas à beira do pânico.
Bueno, quando fui a Salvador em missão especial para comprar ou alugar o vestido, vi que não seria tão simples assim. Salmão definitivamente não integra a cartela de cores deste outono/inverno. Também não estava nas lojas de aluguel de vestido, caríssimas, aliás. Quando soube o preço do aluguel, resolvi comprar um - também porque não conseguia me imaginar dentro de um daqueles vestidos oferecidos nas lojas de trajes de festa, com pedraria pesada, rebuscadíssimos.
A ideia de usar um vestido salmonamente fluido, de preferência de musseline, foi sendo abandonada à medida que eu me deslocava de táxi pelos vários bairros soteropolitanos. O comprimento era outro senão. Quando havia a cor em um modelo mais descolado, o vestido era muito curto. Se pudesse ser estampado, facilitaria. Mas não podia.
Acabei encontrando algo com a minha cara numa loja da Farm. Um vestido rendado, romântico, num tom mais escuro, entre o coral e o rosa sândalo, e que precisaria de uma combinação como forro. Mesmo assim, não completamente convencida (e talvez porque goste de uma epopeia), ainda fui buscar outras opções. Quando decidi voltar ao tal vestido, procurei na Farm de outro shopping, e não havia lá o modelo. Tive de voltar ao primeiro shopping - uma outra vendedora me atendeu, e ela não sabia a qual vestido eu me referia. Disse a ela para procurar no depósito. Ela voltou com um modelo nada a ver, branco. Olhei pra ela, espantada - parecia uma pegadinha. Por fim, ela encontrou o modelo, e eu o agarrei para não soltar mais. Dois dias depois, enquanto Guga buscava seu modelito praiano (muuuuuuito mais simples, camisa branca e calça cáqui), eu ainda iria atrás de uma combinação em cor neutra, já que o vestido vinha apenas com uma de malha, "salmão" e curtinha.
Afinal, chegou o dia. Que não foi completamente tranquilo, pois tivemos de correr para a veterinária com Cong, acometido de piodermite bacteriana. Depois de sermos esfolados monetariamente, fomos nos preparar para o casório, torcendo para que não chovesse.
E foi tudo lindo. Os noivos, felicíssimos. Os padrinhos, alegres, aproveitando para se rever após muito tempo. Ouvi elogios à minha elegância (afinal, estamos sempre muito à vontade, e o vestido é mesmo um chuchu).
Ao final da saga, pude ouvir o sonoro sim de Binho e Nau. Testemunhar a emoção geral, fazer parte de toda aquela lindeza, do alto dos meus sapatos e do meu vestido quase salmão. O que, sem dúvida nenhuma, valeu toda a aventura.
quarta-feira, 24 de maio de 2017
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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