quinta-feira, 27 de julho de 2017

O bordado e as gerações

Quando cismei de bordar, como já disse aqui, foi por uma premência interna, já lá pelos 40 anos. Ou seja, nada a ver com pressões e padrões sociais - não TINHA que aprender a bordar para ser uma mulher prendada, valorizada pelos dotes casadoiros etc. Fui bordar porque queria, e no vaivém de linha e agulha descobri muito sobre mim.
Agora bordar e costurar estão na moda, como parte de um retorno a saberes antigos, talvez também por questões práticas relacionadas à crise financeira nacional e mundial, o faça-você-mesmo movido por necessidades econômicas.
Mas o que dizer quando uma menina de 6 anos se interessa muito por bordar? OK, teve algum contato com costura na escola bacana onde estuda e onde há alguns professores com ideias libertárias, tal e tal. Lulu teve algumas noções de costura, saber pregar botão e agora está às voltas com a confecção de um manto "pessoal", algo claramente inspirado no trabalho de Arthur Bispo do Rosário. E veio me pedir para ensiná-la, eu que pouco sei, mas que muito amo ensinar o pouco que sei, nunca perdendo uma oportunidade de aprender enquanto ensino.
Bueno, ontem, dez minutos antes do horário combinado, lá veio ela, meio esbaforida, pelo caminhozinho que traz à nossa casa: "tia Sol, tinha me esquecido da minha aula de bordado!" Porém, chegou adiantada, e logo foi se apropriando de linha, agulha e tecido. Pouco depois, chegou Tina, de 8 anos, mais interessada em pinturas, mas ainda assim disposta a acompanhar a prima no curso de bordado.
Tinha arrumado a mesa do lado de fora para bordarmos, mas logo começou a ventar e chuviscar forte, então entramos e elas se acomodaram na bancada da cozinha. Expliquei como colocar a linha na agulha, que elas poderiam escolher com quantos fios bordar. Pedi que fizessem um desenho no tecido, as duas fizeram... árvores. Expliquei como usar o bastidor, e lá se foram as duas, concentradas no alinhavo, conversando e filosofando enquanto bordavam.
Que o bordado continue entrelaçando as gerações, tecendo caminhos, narrativas e momentos como este.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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