Num ano tão atípico, o Natal parece que chegou ainda mais cedo. Fizemos o possível para nos antecipar e não precisar "frequentar" aglomerações desnecessárias em shopping ou supermercado. Estivemos somente nós mesmos, de novo no arranjo lindo à la Toscana que minha sogra sabe organizar tão bem.
Ganhei muitos produtos de beauté, de marcas diversas, o que foi maravilhoso, porque costumo usar tudo mesmo e já tenho um estoque para uns 3 ou 4 meses sem precisar me preocupar com sabonete, hidratante, perfume e batom. Também ganhei de minha sogra uma rosa-do-deserto, uma planta que sempre quis ter mas achava muito cara - neste ano, um verdadeiro símbolo de resistência ao que temos vivido.
Fiz as fotos dos meus presentes com meu celular para mostrar a diferença da qualidade dessas fotos em relação a fotos anteriores postadas aqui no blog. Isso se deu porque meu celular teve de ser remontado numa lojinha local depois de pegar fogo na mesma lojinha aonde eu tinha ido simplesmente trocar a bateria. Embora o rapaz tenha garantido utilizar na remontagem os mesmos componentes do modelo do meu celular, evidentemente a câmera não é a mesma. Todas as fotos ficam lavadas, mesmo com aplicação de filtro. Ou seja, tive de engolir esse prejuízo, ou ficar sem celular, ou ter de desembolsar, de última hora, uns mil reais num celular novo (já que o rapaz me ofereceu apenas 600 reais pelo carbonizado nas suas mãos - depois, é importante dizer, de ele ter tentado remover a bateria com o celular ligado e em curto). Nada que eu estivesse planejando, portanto, e que passa a fazer parte da minha lista de gastos para o próximo ano.
No balanço geral do ano, não me atrevo a reclamar do que foi até aqui vivenciar uma pandemia, porque não perdemos ninguém próximo, continuamos trabalhando, mantivemos a saúde, ainda temos comida, teto, água, bichos de estimação, chuveiro, internet, energia elétrica. Acho que só assim para percebermos o quanto temos, o quão privilegiados somos e como precisamos de menos em um país em que tantos não têm nada. Claro que foi um jeito de descobrirmos mais sobre nós mesmos. Enquanto os amigos descobriam a culinária como uma forma de relaxar, eu descobri que odeio mesmo o trabalho doméstico, o "ter de fazer" como se fosse o meu papel enquanto mulher. Essa ojeriza em relação aos papéis "femininos" não me impediu de experimentar uma receita nova de chocotone do Luís Américo Camargo, para mim a receita definitiva, depois de ter experimentado tantas ao longo do aprendizado padeiro. Se não tenho fotos do meu chocotone, é culpa da câmera instalada no celular remontado pós-carbonização.
Sobre ser mulher, tenho sabido cada vez mais, e a pandemia também foi responsável por mostrar as mulheres não só como vítimas do feminicídio crescente mas sobretudo como a maior força responsável por ações de solidariedade no país. Foram as mulheres que organizaram as ações comunitárias, a autogestão, a doação de alimentos in natura e de cestas básicas, a proteção às vítimas de violência doméstica. Vi amigas cozinhando para moradores de rua e angariando presentes e ceias natalinas para famílias carentes. Essa tendência feminina à doação, que não deve ser confundida com subserviência, teve destaque no meu TCC justamente como tática de luta, de guerrilha.
Não vou, portanto, reclamar do meu ano pandêmico, embora persista a dificuldade de planejar o futuro, essa suspensão do tempo. Cumpri minhas tarefas e metas, finalizei cursos, sobrevivi ao trabalho doméstico, conheci o piriforme, aprendi coisas novas, defini o que é importante e o que é intolerável para mim. Acho que posso considerar isso tudo um presente - talvez não o mais bonito, mas o mais útil no momento.
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