Outro dia, assistimos a uma comédia britânica fofa, Questão de tempo, do querido Richard Curtis (Simplesmente amor, Quatro casamentos e um funeral, Notting Hill, Yesterday etc.) com o Bill Nighy e a Rachel McAdams. O protagonista, vivido pelo ator irlandês Domhnall Gleeson, poderia ser filho do Benedict Cumberbatch com o Martin Freeman, só que ruivo. Tudo adorável.
De repente, já ao final, meu marido me sai com essa: "Não tinha um ator negro nesse filme". Realmente não tem - todo mundo é branco, ou louro ou ruivo (só a Rachel McAdams tem cabelos escuros, e ela se refere a eles, num acesso de insegurança, como "too much brown", e também um rapaz que é meio mau-caráter e o chefe indiano meio escroto), ninguém tem problemas com grana, aliás, a família do protagonista tem uma casa maravilhosa na Cornualha, onde costuma tomar chá no jardim. Não há espaço para personagens negras.
Na verdade, o que mais chamou minha atenção foi meu marido ter indicado isso, até antes de mim. Significa que o barulho que os movimentos anti-racistas estão fazendo surte efeito, é capaz de mudar nossa percepção. Em 2013, ano em que o filme foi lançado, muito provavelmente não acharíamos - me incluo completamente nisso - tão estranha a falta de diversidade do elenco. Hoje é algo inconcebível, como também é bizarro que alguém não ache isso estranho.
Esse barulho necessário vale para todas as frentes que pregam igualdade e justiça social. Como os galos tecendo a manhã de João Cabral, uma tessitura linda e uma algazarra tão impossível de ignorar que só pode mesmo provocar mudanças, revolucionar uma época, refrescar olhares.
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