quarta-feira, 7 de abril de 2021

Tem gente com fome em meio ao genocídio

Tenho cá pra mim que toda a extravagância jupiteriana chocolateira foi para aplacar a tristeza com o Brasil chegando a 4 mil mortos por dia, mais de 330 mil pessoas em um ano. Porque realmente não sabemos o que será. Ainda rolou brownie a pedido do marido, uma comilança pascoalina sem fim nos últimos dias do fechamento de trabalho. 
Mas também já decidi que no lugar desse tipo de "consolo" vou me organizar para ajudar outras pessoas a terem o que comer, a última fronteira entre o humano e o desumano. Dá pra cozinhar pra galera? Não, com pandemia não dá. E também estamos longe dos grandes centros, onde costuma haver sempre quem se mobilize para preparar e distribuir comida a quem precisa. Que podemos fazer? Doações para esses projetos preciosos. Quanto? Quanto pudermos, enquanto pudermos. 
Volto a dizer da importância da luz que essa pandemia jogou sobre a iniquidade nacional. Sempre soubemos que assim era. Mas, como disse minha amiga Liu, a questão agora é: o que eu posso fazer para ajudar? Porque a luz pandêmica também mostra como somos privilegiados em comparação a quem não tem o básico. 
Não sei se estamos testemunhando por fim o declínio capitalista de que falava Marx. Temos visto, porém, os efeitos extremos de viver em uma sociedade capitalista, baseada na exploração de uma pessoa por outra, ou de muitas pessoas por poucas. Enquanto, durante a pandemia, aumentou o número de bilionários no país, cresceu em quase 10% o número de pessoas em pobreza extrema, que não tem o que comer nem a quem recorrer, porque o Estado brasileiro, coerente com a desigual sociedade brasileira, dá completamente as costas aos miseráveis. Para o Estado e o atual governo, quanto mais pobres morrerem, tanto melhor - é uma forma sórdida de se resolver o problema da pobreza, por meio da eliminação, por uma torta seleção "natural". 
Gente com fome, o auge da iniquidade. Tantas, tantas pessoas. O horror arrancou o véu só pra que a gente visse atrás dele todas essas pessoas. Tantas, tantas. Que a gente possa aprender a realmente dividir o pão, iniciar a mudança. 

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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