Li há alguns dias um texto ótimo da sempre ótima Ana Paula Xongani sobre o filme Marighella, dirigido por Wagner Moura e por fim disponível nos cinemas brasileiros após dois anos de boicote descarado do genocida governo atual.
Não bastasse o interesse na figura de Marighella, ainda havia a questão de honra de assistir ao filme boicotado pelo Bozo e de formar parte da resistência ao desgoverno e ao desmonte das políticas sociais no país. Eu gostei muito da atuação de Seu Jorge como o destemido líder revolucionário baiano, que eu conheci dos célebres livros de Jacob Gorender e frei Betto, dos relatos de meu primo Takao e da poesia do próprio Marighella. A visão que eu tinha do líder da ALN era de um cara mais incisivo em tudo, um Ogunzão à frente da batalha (mas daí descobri que ele é de Oxóssi, um orixá caçador, mas mais low profile, estratégico, menos atirado).
Xongani chama a atenção, contudo, para o fato de não se falar tanto do lado poético de Marighella, de todos os camaradas brancos serem heroificados e de tudo descambar para muita violência no filme - sim, acaba sendo um filme de ação e violento, embora não de uma violência gratuita, mas a que temos em mente quando falamos da ditadura brasileira dos anos 1960-70. Imagino que isso se deva a uma escolha do Wagner Moura, de enfatizar uma história que corre o risco de cair no esquecimento. Mas concordo com ela de como essas escolhas acabam por associar não só à galera de esquerda a violência da guerrilha urbana, mas também reiteram a violência associada às pessoas negras - e não era ele o líder da galera que assalta bancos e aterroriza os cidadãos de bem? As demais personagens negras, mulheres, por sua vez, pouco destaque têm na história. OK, há uma licença poética de transformar os freis Ivo e Fernando, da Livraria Duas Cidades, no pastor Henrique Vieira, que aproveita uma deixa para falar do Jesus histórico, provavelmente de pele escura.
Xongani chama a atenção, contudo, para o fato de não se falar tanto do lado poético de Marighella, de todos os camaradas brancos serem heroificados e de tudo descambar para muita violência no filme - sim, acaba sendo um filme de ação e violento, embora não de uma violência gratuita, mas a que temos em mente quando falamos da ditadura brasileira dos anos 1960-70. Imagino que isso se deva a uma escolha do Wagner Moura, de enfatizar uma história que corre o risco de cair no esquecimento. Mas concordo com ela de como essas escolhas acabam por associar não só à galera de esquerda a violência da guerrilha urbana, mas também reiteram a violência associada às pessoas negras - e não era ele o líder da galera que assalta bancos e aterroriza os cidadãos de bem? As demais personagens negras, mulheres, por sua vez, pouco destaque têm na história. OK, há uma licença poética de transformar os freis Ivo e Fernando, da Livraria Duas Cidades, no pastor Henrique Vieira, que aproveita uma deixa para falar do Jesus histórico, provavelmente de pele escura.
Depois de ler o texto dela, me ocorreu que uma figura importante como Takao não tenha sido mencionado. Sempre me chamou a atenção um revolucionário oriental no Brasil. E ele, que estava à frente do GTA, não está no filme nem mesmo com outro nome, como acontece com Joaquim Câmara ou com Sérgio Paranhos Fleury. Ainda não terminei de ler a biografia que deu origem ao roteiro para saber se Takao aparece na história, mas fiquei pensando se isso não tinha a ver com questões de pele também. Sei lá, me ocorreu.
Calhou que, em meio ao bordado, estava também montando minha paleta de cores de pele para representar esse Brasil tão pouco branco, tão mais mestiço. Como fazem falta, em todo tempo, a cor e a poesia para fortalecer as lutas diárias por igualdade, respeito e justiça.
Calhou que, em meio ao bordado, estava também montando minha paleta de cores de pele para representar esse Brasil tão pouco branco, tão mais mestiço. Como fazem falta, em todo tempo, a cor e a poesia para fortalecer as lutas diárias por igualdade, respeito e justiça.
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