segunda-feira, 23 de abril de 2012

Obra aberta

Não, não é sobre o livro do Umberto Eco, embora tenha um pouco a ver.
Na verdade, este post foi inspirado na obra que estão fazendo em meu banheiro (impossível não pensar também num dos sentidos do verbo obrar - o mais escatológico - quando vejo o modus operandi dos profissionais envolvidos, que fazem tudo L-E-N-T-A-M-E-N-T-E e parece que sem muita certeza do que fazem). Começou há mais de três semanas - era para trocar uma tubulação e estancar um vazamento, virou uma rixa com minha banheira e com a bacia sanitária, e no final quebraram o banheiro todo, incluindo a banheira cinquentona. Resultado: estou sem casa há três semanas, hospedada há duas na casa do namorido, coitado.
O mais interessante é que eu tinha resolvido mudar algumas coisas em casa, pintar cozinha, trocar armários etc. Parece que a energia da mudança tomou tudo, mas acabou perdendo força no trabalho do pedreiro-chefe e seu assistente que só assiste mesmo, encostado no batente, jogando conversa e entulho fora.
Ainda por cima, apareceram outros problemas para resolver no prédio. Hoje, em princípio, iam finalizar o piso e instalar as louças do meu banheiro, o que já me permitiria voltar ao lar. Mas um apartamento do 1o andar foi alagado por conta de um entupimento (eu teria tido um treco!), e abandonaram de novo os trabalhos em mi casita.
Guga já falou do lado bom - um banheiro novo, de cima a baixo -, e eu sou mesmo da turma dos que veem o lado positivo de tudo, aprendizagens etc. Mas, para além do sentimento de desterro e da esperança no novo, fiquei pensando que a vida também pede mudanças de vez em quando, e algumas vezes pede todas de uma feita. E não se pode voltar atrás, como depois que a parede é quebrada. Diferentemente da reforma da casa, porém, ela está sempre pedindo mais, desafiando, colocando tudo abaixo para começarmos de novo sobre novos alicerces. Indefinida, como uma obra de arte contemporânea vista por Eco (olhem ele aí), mas a um só tempo "hoje" e "devir", passado em transformação. Talvez mais que uma opera aperta, um work in progress.

2 comentários:

  1. Casa se ferreiro o espeto eh de...... Por isso nao mexo no banheiro!!!!
    Saudades!!!!

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  2. Saudade também, Kacau. :)
    Ufa, e por fim a obra acabou!!!
    besitos,


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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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