Um dia desses eu falei que não costumo entrar em pânico. Acho que devo me explicar melhor: não entro em (ou aparento) pânico por mise-en-scène, para comover ou convencer ninguém. Ainda mais depois do que me aconteceu na última quinta, quando passei por minutos de pânico genuíno, que nada tiveram de pró-forma.
Tinha ido à última aula do Sérgio Rizzo no Espaço Cult, na Vila Madalena. Era um curso breve sobre cinema, e por isso os encontros ultrapassavam um pouco o horário, tantas coisas sempre havia por discutir. No tal último dia, a aula se estendeu até as 22h40. Todo mundo se despediu, entre feliz e frustrado, e eu resolvi dar uma passadinha no banheiro. Comentei com uma colega que desceria em seguida, mas acho que ela não prestou atenção - até porque não entendia muito bem português.
Gente, juro que foram dois ou três minutos! Quando abri a porta do banheiro, porém, parecia, como depois comentei com o Sérgio, que nunca havia estado ninguém ali - o breu e o silêncio eram completos. O mundo tinha acabado. Como não sabia onde estava o interruptor - e o escuro era mesmo total -, desci devagar as escadas. Quando cheguei lá embaixo, estava tudo TRANCADO!
Ainda vi o Sérgio dando ré no carro; bati no vidro, mas ele não me viu, até porque as luzes estavam apagadas. Acho que foram os cinco minutos de maior pânico que vivi. Chamei por Deus, xinguei, tudo ao mesmo tempo. Foi uma dificuldade digitar o telefone de Guga no celular; ele se assustou com minha histeria, meio rindo, meio desesperada.
Aí, fiat lux - achei os interruptores e minha mente clareou junto com a sala. Tinha pedido a Guga que chamasse a polícia, mas lembrei que devia haver uma agenda de telefones na mesinha da recepcionista. Ou post-its com telefones de qualquer pessoa - quem trabalha com livros e revistas costuma amar post-its, não é assim? Por sorte, tinha uma agenda novíssima na gaveta, e justamente o primeiro número que achei era o da idealizadora/dona do espaço - que não ficou nadinha feliz de saber que eu estava presa lá dentro (como se fosse culpa minha querer fazer xixi antes de ir embora - mas já sei que da próxima vez vou segurar a vontade, mesmo com o risco de uma cistite). Eu já estava pensando que talvez fosse dormir lá, e que talvez tivesse que assaltar a geladeira do café ao fundo - fazer o quê?
Por fim, a dona mandou uma funcionária abrir a porta pra mim - a mesma moça que tinha trancado tudo, achando que não havia mais ninguém. Ela veio se desculpando, toda preocupada, mas por sorte (dela e minha) devia morar ali perto. Logo a polícia estacionou na frente do espaço; informei meu nome e RG, assinei um papel e eles foram embora.
Temendo que mais alguma coisa acontecesse no caminho para o ponto de ônibus, peguei um táxi ali na frente. E tão pilhada estava que comentei o episódio com o taxista, que ainda por cima se lembrou de como isso se parecia com O iluminado, de Kubrick - pois "o cara tinha pirado justamente por ficar preso num lugar". Afe!
É isso: há pânicos e pânicos, minha gente. Mas, se puder escolher, melhor viver sem eles.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
Dá um conto.
ResponderExcluirDe terror! rsss
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