No último final de semana, mi madre fez 70 anos. Nem parece, até porque ela foi favorecida pela genética nipônica que cria seres atemporais e espiões insuspeitos.
Para comemorar, resolvi fazer um jantarzinho. Até poucas horas antes do jantar, não sabia qual seria o quórum, pois questiúnculas familiares nublavam o céu. E por conta disso acabei me atrasando nos preparativos - tinha inventado de estrear uma receita de nhoque, o que exigiria, pelo contrário, começar muito antes.
Bom, o nhoque ficou meio pedaçudo - não consegui espremer completamente as batatas, que já tinham esfriado. Fica uma lição fundamental: concentrar-se no que está fazendo enquanto cozinha, nada de colocar ordem na louça quando é preciso espremer as batatas ainda tépidas. No fim, faltou um pouco de sal e as bolinhas de nhoque ficaram meio grandes (por isso não me animei muito a fotografar). O que poderia salvar o prato? O molho vermelho feito por Guga.
E ele conseguiu. Claro que em nenhum momento deixou de ser a vedete da noite, rendendo mil elogios ao seu criador, mas ele ajudou meu pobre nhoque estreante a passar pelo palco sob a mesma chuva de aplausos (endereçados ao molho). Ninguém percebeu a falta de sal, graças ao molho.
Aliás, essa história de o molho ajudar a "encobrir" o gosto dos alimentos é bem antiga. Não só molhos, mas temperos em geral. Quando estive na Inglaterra, vi como tudo era muito temperado, não só por influência indiana, mas, ainda hoje, para disfarçar o gosto do que não é muito fresco. E nem é preciso ir tão longe: para que tanto ketchup num sanduíche ou num prato de fritas?
Da próxima vez, espero que o molho venha realçar o que o prato tem de bom, e não esconder o que ele tem de ruim. Tem que rolar um dueto.
Quanto às diferenças familiares, nada de molhos nem panos quentes - que os azedos não precisem ser disfarçados mas deem lugar um dia aos sabores mais doces.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
Que cuidado a gente tem que ter pra não espalhar molho sobre tudo! ;)
ResponderExcluirbesitos