O fato é que eu queria um gatinho só, mas a cuidadora, Carol, não queria separar os dois irmãos grudados, que ela chamava de Tico e Teco. Combinamos fazer um test-drive pra ver se eu me adaptava - não só porque nunca tive gato, mas porque desconfio fortemente que sou alérgica à saliva dos bichanos.
Para incrementar o quadro, eles chegaram numa época de estiagem, fatal para os alérgicos como eu. À minha crise de rinite seguida de sinusite emendou-se uma gripe. E por isso tudo a casinha deles fica na varanda. Acesso negado, claro, ao meu quarto (até porque, embora respeite quem faça isso, acho que cada um no seu quadrado é ótimo, bichos de um lado, humanos de outro).
A adaptabilidade deles me encanta e ensina: também não faço a linha "sou escrava do meu bicho" (pelo menos por enquanto!), então estabeleço muitos limites. Claro que eles são naturalmente teimosos - tentam burlar a vigilância duas, três, quatro vezes -, mas também são inteligentes, e acredito que entendem as regras da boa convivência. Mesmo levando umas broncas, são carinhosos (especialmente o Chico, maior que o irmão Zen, um pouco mais arisco).
E assim é: devemos ficar juntos, a menos que a vida nos separe, por uns bons 15 anos. Imagino uma vida mais livre para eles também daqui a pouco, quando eu tiver um cantinho mais com minha cara, uma vida mais a ver comigo. Pretendo continuar viajando, mas agora somos três. Nada disso me assusta, porém. Resolvi enfrentar a alergia por eles, mas principalmente por mim, que quero poder respirar com toda força dos meus pulmões.
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