Ele me criou. Bonachão, inteligente, bonito, bravo, carinhoso, justo na maioria das vezes. Dele provavelmente herdei o gosto pelas palavras, pelas longas conversas, além de um quê de mestre de cerimônias, o prazer de ter uma mesa cheia de convidados.
Foi a pessoa que mais apostou em mim, enquanto juntos vivemos. Orgulhava-se de cada pequena conquista, se emocionava ao me ouvir recitar versos para ele. Já muito doente, não coube em si de alegria ao me ver vestida para a formatura do ginásio.
Mesmo quando ele não estava perto, sempre foi um pai/avô presente. Brigamos algumas vezes, quando eu já era adolescente. Doeu muito quando o vi uma vez caído na rua. Ele foi sendo derrotado pela bebida, por uma conjunção de diabetes e cirrose hepática.
Morreu em casa, diante de mim. Ouvi seu último suspiro. Não acreditei quando percebi que ele não abriria mais os olhos.
Muito longe da perfeição - havia sido mulherengo, no final da vida deu para beber, não deixou nenhuma herança material -, meu avô, porém, foi o melhor que pôde ser para mim. Sempre acreditou, sempre investiu, sempre defendeu, sempre vibrou. Amou, acima de tudo, com toda sua imperfeição e sinceramente.
Eu não poderia ter tido um pai melhor, seu Antonio. Mesmo tanto tempo depois da sua partida, meu coração se enche de amor e saudade ao lembrar de ti.
domingo, 9 de agosto de 2015
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