Levanto uma hora depois de o alarme do celular tocar. Abro as janelas, ligo o computador, preparo o café. Chamo o marido, que, antes de qualquer coisa, liga a TV.
Empilho a louça na pia, troco de roupa. Cada vez que me troco, lembro como engordei. Não me animei ainda para retomar as caminhadas na esteira da pequena academia de bairro. Quando penso em caminhar pelo mato crescido até chegar à pequena academia, lembro da minha limitada mobilidade. Penso em ir de bike ao pilates no qual ainda não me inscrevi. Penso na pista a atravessar de bike. E me ocorre comprar uma lambreta. E faço cálculos de gastos com obra, contas, geladeira, lava-louça e, por fim, lambreta.
Vejo o que falta na casa - de obras a produtos de limpeza - enquanto edito meu material. Aprendo a entrar em acordo, a não sair simplesmente resolvendo as coisas. É preciso esperar o tempo do outro. De repente, já é hora do almoço. É preciso pensar em um prato rápido. As experimentações culinárias vão perdendo lugar no curto calendário semanal.
Separo roupas para lavar, verifico a comida do gato. Mais um café. De repente, me lembro de ideias que tive para a pós. A essas ideias distantes se somam a sensação de impotência de emagrecer e a percepção de pouca mobilidade.
Na hora de lavar a louça, percebo uma corda terminada por uma pequena cabeça se movendo no canto da pia. Grito. É uma cobra. O marido mata a cobra, após uma curta perseguição. No mesmo dia, não picada pela cobra, sou picada por uma caçarema, que caiu do telhado sem forro sobre mim. Sonho com o início das pequenas obras, que incluem o forro em parte do telhado.
Dói a mão, dói o polegar esquerdo. Preciso marcar uma consulta médica.
Agora só rego os vasos de temperos, pois a horta iniciada não vingou.
Leio malcriações de diagramadora, me irrito. Proponho um cinema ao marido, para desopilar. Também preciso comprar coisas que faltam para mim. De novo, desanimo ao perceber como engordei. Lembro da pequena academia, do mato alto, do pilates do outro lado da pista, da minha pouca mobilidade, da lambreta...
domingo, 24 de abril de 2016
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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