Rolê por São Paulo é sempre um bagulho loko. Mesmo que desta vez eu não tenha feito meu itinerário de pequenas compras de temperos e insumos - compras um pouco maiores eu já tinha abandonado faz tempo com o despacho de bagagem cobrado à parte -, deixando este último rolê para reencontrar minhas pessoas, muitas delas não vistas desde sete anos atrás, a coisa foi corrida como sói acontecer em Sampa.
Dei muita sorte de não pegar a friaca que tomou a cidade na semana seguinte à minha viagem. Andei num clima ameno, sob céu azul, com solzinho (e voltei a usar chapéu). A maioria das pessoas, de máscara pela rua, no metrô, no ônibus (quem não usava, levava logo uma chamada de motorista ou funcionário do metrô).
Muitos moradores de rua vagando pelo centro. Famílias inteiras, mães com carrinhos de bebê em barracas. Todas as vezes em que parei pra respirar, pra checar uma placa, pra comprar um QR code para tomar metrô (sim, meu bilhete único de décadas não vale mais), no aeroporto, dentro de restaurantes, fui abordada por alguém querendo um prato de comida ou uma passagem - todas as vezes, sem exagero.
A gentrificação desabalada do centro só torna ainda mais horrorosa a face da desigualdade. O Copan virou uma espécie de Vila Madalena; ruas como Major Sertório, Rego Freitas e General Jardim viraram endereços hype, com bares, restaurantes e baladas descolados, enquanto espectros circulam ao redor dos hipsters. Eu mesma andei por alguns desses endereços de hipster: Temumami, La Guapa, Bia Hoi, Amélia (neste, teve barman correndo com faca na mão porque alguém tentou levar uma cadeira da calçada, surreal). Fui à Liberdade, onde constatei o fechamento de um dos meus restaurantes favoritos. Numa doceria portuguesa ao lado do CCBB, percebi que não era tão tranquilo tomar café na mesa externa - um homem passou lentamente, me encarando o tempo todo, enquanto eu falava ao telefone com Guga. Passei sob o Minhocão pra buscar uma blusa da Mieko e percebi a deterioração do entorno, com muito lixo espalhado, e também o espalhamento da população mais vulnerável. Não me senti insegura de andar pelo centro - até fiquei no basfond da Vieira de Carvalho -, mas foi impossível ignorar como tudo está mais urbana e humanamente decadente.
Daí, quando se vai visitar a exposição Amazônia, do Sebastião Salgado (e o Sesc Sompeia foi o único lugar onde se exigiu cartão de vacinação e máscara para entrar), só nos resta chorar. A beleza da floresta e dos povos originários em oposição a todo o horror que temos visto nos últimos anos, especialmente com o desgoverno atual, na destruição de tudo - natureza, direitos, pessoas, democracia. Afora a saudade que dá de um lugar como o Sesc, que representa tanta coisa em que acredito e que ainda sobrevive. Bom até o pão de queijo massudinho da cafeteria, tão característico de SP e que acaba impregnando também o ar nas estações de metrô e terminais de ônibus.
Falando em comidinhas, comi mais doces do que planejava. São Paulo, ainda mais no outono-inverno, pede café. Encontrar amigos pede café. E café pede doce. Tabletón da Paola Carosella (bem bom, bem caro), torta de chocolate com caramelo salgado do empório Amélia (bom), guardanapo de malveira da Maria Cristina Doces Portugueses (razoável, com leve gosto de margarina), panetone com massa de cacau, gotas de chocolate e creme de cupuaçu da Temumami (muito, muito bom, caro), pastiera di grano (OK) e tiramisù (bem bom) da Speranza e o indefectível pudim de leite com fava de baunilha do Senhor Pudim, trazido pelo Rafa. Ainda bem que andei muito, embora não o suficiente para queimar tanto açúcar.
Vi minhas pessoas de sempre, dei abraços apertados e atrasados, cantei a plenos pulmões, fui ao interior para segurar as mãos de um amigo imobilizado mas de olhar sempre vivo e cheio de amor, fiz reunião familiar com quem topa conversas difíceis mas também risadas e emoções, interagi com pets dos amigos e nas ruas, me emocionei com o sabor da marguerita, ponguei nos vinhos bons das adegas amigas (inclusive um Erika Goulart, de que ouvi falar em Mendoza), levei marmita de finger food da Ná pro hotel, como o perfeito cuscuz paulista, tomei conhecimento de mais histórias doidas e preocupantes vividas pela minha mãe.
Poucos dias, mas muito mais intensos do que qualquer rolê que eu tenha feito desde que saí de lá. Doce e amargo numa só visita.
Daí, quando se vai visitar a exposição Amazônia, do Sebastião Salgado (e o Sesc Sompeia foi o único lugar onde se exigiu cartão de vacinação e máscara para entrar), só nos resta chorar. A beleza da floresta e dos povos originários em oposição a todo o horror que temos visto nos últimos anos, especialmente com o desgoverno atual, na destruição de tudo - natureza, direitos, pessoas, democracia. Afora a saudade que dá de um lugar como o Sesc, que representa tanta coisa em que acredito e que ainda sobrevive. Bom até o pão de queijo massudinho da cafeteria, tão característico de SP e que acaba impregnando também o ar nas estações de metrô e terminais de ônibus.
Falando em comidinhas, comi mais doces do que planejava. São Paulo, ainda mais no outono-inverno, pede café. Encontrar amigos pede café. E café pede doce. Tabletón da Paola Carosella (bem bom, bem caro), torta de chocolate com caramelo salgado do empório Amélia (bom), guardanapo de malveira da Maria Cristina Doces Portugueses (razoável, com leve gosto de margarina), panetone com massa de cacau, gotas de chocolate e creme de cupuaçu da Temumami (muito, muito bom, caro), pastiera di grano (OK) e tiramisù (bem bom) da Speranza e o indefectível pudim de leite com fava de baunilha do Senhor Pudim, trazido pelo Rafa. Ainda bem que andei muito, embora não o suficiente para queimar tanto açúcar.
Vi minhas pessoas de sempre, dei abraços apertados e atrasados, cantei a plenos pulmões, fui ao interior para segurar as mãos de um amigo imobilizado mas de olhar sempre vivo e cheio de amor, fiz reunião familiar com quem topa conversas difíceis mas também risadas e emoções, interagi com pets dos amigos e nas ruas, me emocionei com o sabor da marguerita, ponguei nos vinhos bons das adegas amigas (inclusive um Erika Goulart, de que ouvi falar em Mendoza), levei marmita de finger food da Ná pro hotel, como o perfeito cuscuz paulista, tomei conhecimento de mais histórias doidas e preocupantes vividas pela minha mãe.
Poucos dias, mas muito mais intensos do que qualquer rolê que eu tenha feito desde que saí de lá. Doce e amargo numa só visita.