A gente vai levando. Assim é desde há muito, mas muito piorado com a ascensão do facínora, que teve como pano de fundo perfeito de seu governo uma pandemia como nunca antes vista. Trinta e três milhões de pessoas passam fome no Brasil de hoje, nossos biomas têm sido devastados numa velocidade pandêmica, a violência contra crianças, mulheres, negros e LGBTs não cessa e tem se tornado mais banal que nunca. Nosso país cheira a morte, por toda parte - e o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips vem coroar essa trilha de horror que se tornou o Brasil. Podemos dizer que a última eleição trouxe num só mandante/mandato os quatro cavaleiros do apocalipse.
A tristeza é profunda e diária. E, no entanto, seguimos tendo de acordar diariamente, tendo de trabalhar. Às vezes, parece algo tão sem sentido, criar algo neste país cujo futuro foi roubado desde a origem. Gerar riqueza para quem? Enquanto 33 milhões passam fome, os povos originários e seus defensores são dizimados, multidões passam a morar nas ruas das grandes cidades e os velhos representantes da política colonial e patriarcal riem na nossa cara?
A tristeza é profunda e diária. E, no entanto, seguimos tendo de acordar diariamente, tendo de trabalhar. Às vezes, parece algo tão sem sentido, criar algo neste país cujo futuro foi roubado desde a origem. Gerar riqueza para quem? Enquanto 33 milhões passam fome, os povos originários e seus defensores são dizimados, multidões passam a morar nas ruas das grandes cidades e os velhos representantes da política colonial e patriarcal riem na nossa cara?
Ainda por cima, tem o texto pungente de Eliane Brum não só sobre o assassinato de Bruno e Dom e o extermínio dos indígenas, ambientalistas e dos biomas brasileiros mas principalmente sobre as guerras em que o Brasil está mergulhado hoje, sobre a urgência de assumir um lugar na guerra que é de todos. E vimos outro dia, por fim, o tocante Sertão velho cerrado, filme de André d'Elia, que lança luzes sobre nossa ignorância cotidiana acerca do Brasil ao redor, para além da nossa bolha. Só fazemos confirmar os mandatários de sempre e como é urgente e imprescindível organizar uma resistência efetiva contra o sistema vigente.
A gente vai levando, e para desfazer o nó no peito a rotina não basta. O que salva é a arte, do tamanho que for, do jeito que for. Às vezes, é a literatura, às vezes, o bordado deixado na sala escura é que vem iluminar a casa toda, essa casa que é a alma. Não à toa, como quereria Jung, bordo casas.
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