Os últimos trinta dias trouxeram um abalo mais forte, como o tremor que sacode de leve o prédio com a demolição de três casas da rua, uma triste promessa que enfim se cumpriu. Embora o barulho não seja enorme, eu e os vizinhos temos sentido a vibração da escavadeira enchendo de entulho os dez caminhões perfilados na nossa rua, antes tão sossegada.
Também teve o abalo do já esperado mas sempre surpreendente aviso da minha demissão. Foram dez anos de parceria, mas todo fim é melancólico, não é mesmo? Meu segundo melancólico fim em menos de um ano, haja resiliência. E esse fim com mais impactos econômicos que o primeiro também me leva a logo me despedir deste apê que ora treme.
Mas quase tudo foi bom nos últimos trinta dias. Comecei a tão desejada dança contemporânea na tradicional Escola de Dança da Funceb, que tem até gato residente, além de ficar no amado Pelô. Por fim, conheci o novo MAC, casarão lindo na Graça com acervo contemporâneo de arte e que estava recebendo o BazaRozê no dia. Já de olho em planos para futuro próximo, fui fazer um curso de projetos culturais no MUNCAB, com o ótimo Aléxis Góis. Almocei com Vivi no Boteco do Piri, que serve comida deliciosa e sofisticada em sua simplicidade - coxinha de polvo e feijoada de frutos do mar foram nossas pedidas mais do que acertadas, com direito a abraço do Piri no final. No mesmo dia, fomos ver a maravilhosa Luana Xavier arrancar lágrimas e risos com a adaptação feita por Aldri Anunciação para o teatro do Pequeno manual antirracista, uma emoção-aprendizado que ainda vibra (por falar em abalos) dentro de mim.
Achei uma máquina de waffle no precinho, quase realizando meu sonho de morar numa padaria. Fui ao show de Arismar do Espírito Santo, Robertinho Silva e Carlos Malta na Caixa Cultural, e experimentei uma emoção que há tempos não vivia, num show de música instrumental, de estar no lugar certo na hora certa, vendo aqueles monstros da música se divertindo como meninos.
Em função da minha demissão próxima, ganhei de meu irmão Hideki um livro para iluminar as ideias, o de meu amigo Natale em parceria com Cristiane Olivieri, Guia Brasileiro de Produção Cultural. Voltei a fazer pão casca dura, sem sova, que ficou ótimo, o que já me deixa feliz da vida. Enfim fui experimentar o arroz de hauçá, no restaurante Axego, saindo da aula de dança, em companhia de Liu, Igor e Sueli - que delícia de prato! Depois de um cafezinho no Marrom Marfim, ainda demos uma espiada na batalha de dança no Largo Tereza Batista, testemunhando o arraso dos dançarinos de vogue.
Recebi Vivi em casa até que ela consiga outro apê, depois de problemas com a proprietária do que ela havia alugado. Penso que é uma oportunidade de eu devolver ao Universo toda a ajuda que já recebi por aí, e continuo recebendo.
E senti minha ancestralidade aflorar mais um pouquinho assistindo à maravilhosa série Xógum, no Star+. Agora quero aprender japonês, entre tantas ideias que tenho alimentado e que mantêm minha nau em curso.
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