Resolvi cancelar minha assinatura da HBO porque quase não vinha assistindo nada no streaming e estou fazendo uma limpa nas despesas, mas aproveitei, já que tinha alguns dias de lambuja, para assistir à série I may destroy you, escrita, dirigida e protagonizada por Michaela Coel e premiada no Emmy há alguns anos. Michaela é uma sobrevivente de abuso sexual e escreveu sobre a experiência mais aterrorizante que uma mulher pode ter.
Mas a série não é apenas sobre um episódio de abuso. Embora o fio condutor seja o estupro de que a personagem Arabella se lembra somente por flashes, a história acompanha a protagonista e seus amigos Terry e Kwame em aventuras por Londres, em busca de trabalho, diversão e amor. A questão do consentimento nas relações sexuais está presente na história dos três, e vemos que não é somente Arabella que é vítima de abuso. Aqui e ali vemos o racismo, a lgbtfobia, a luta de jovens em busca de sucesso, inclusive sendo bombardeados pelo poder das redes sociais - caso de Arabella, que, alçada a escritora pelo TikTok, torna-se influencer instantânea contra abusadores e logo sofre com o assédio de haters. Poucas vezes assisti a uma série ou filme tão bem inserida no contexto contemporâneo, com tantas questões fundamentais colocadas sem artificialismos. É claro que também tenho uma queda por produções britânicas, normalmente mais cruamente humanas (Fleabag, Rain dogs, River, Slow horses, filmes do Ken Loach etc.) que as estadunidenses. Mas I may destroy you rompe as fronteiras, mergulha no espaço das redes e traz personagens colapsadas - e Michaela Coel é simplesmente brilhante em cada expressão, na construção do dinamismo fraturado de Arabella, que se equilibra em um fio enquanto segura um espelho diante de nós.
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