Como a maioria das pessoas que assistiram a Julie e Julia e têm alguma
pretensão culinária, eu também quis fazer o Boeuf Bourguignon, que no filme
acaba queimado no forno por distração da protagonista. Diante da ênfase
dada ao dito, minhas papilas se assanharam e pensei: este é O PRATO.
Mas prepará-lo foi uma saga: embora tenha encontrado a receita no site do
Mixirica (a Tatu traduziu a receita do livro de Julia Child, Mastering the
Art of the French Cooking, e acrescentou algumas dicas) logo depois de ter
assistido ao filme, encasquetei que precisava de uma panela de cerâmica ou de
ferro para fazer o prato, pois ela deve ir ao lume do fogão e ao forno. Não me
animei a pagar 400 reais ou mais por uma daquelas lindas panelas esmaltadas
francesas e pesquisei outras panelas que resistissem a mais de 200 graus de
calor, mas não achei nada efetivo. Além disso, o preparo do prato demanda
tempo – são cerca de 3 horas entre o mise-en-place e o “mise-sur-le-table”.
Como estava envolvida em outras coisas – curso de cozinha, de pães, saída do
trabalho etc. –, o projeto Boeuf Bourguignon ficou em segundo plano.
Foi então que, nas férias de julho, minha sogra me disse que suas poderosas
panelas de inox com fundo triplo também iam ao forno. Corri para a rua Paula
Souza atrás delas. E além da minha felicidade em cozinhar em panelas novinhas,
deu tudo certo – minhas luvas de silicone nem derreteram, apesar de o metal
esquentar muito.
Agora sobre o prato. É realmente delicioso. Dá tanto trabalho quanto (ou
mais) uma feijoada caprichada. E aqui vai minha heresia: nossa carne de panela,
se acrescida de um vinhozinho e legumes glaceados, ficaria parelha. Pronto,
falei. É claro que o cozimento em vinho e caldo de carne, o entra e sai do
forno, o toucinho separado do bacon (cada um entra numa parte da receita), as
ervas cozidas com a carne, as minicebolas e os cogumelos glaceados, o caldo tirado
do próprio cozido que é encorpado e derramado depois sobre o prato dão outros status
e sabor ao “feito”. Mas essa é a graça da gastronomia: cada prato inspira
dezenas de outros.
Para acompanhar, fiz dois tipos de arroz: o branco tradicional e um com
abobrinha e açafrão. Em termos de sabor, é melhor ficar com o branco, pois o
prato é bem temperado. Também deve cair bem com batatas (sem gratinar, para não
ficar pesado) ou massas simples, mas achei que ficaria over para uma refeição
noturna. De entrada, fiz bruschettas ensinadas pela sogra, inspirada na receita
do Panelinha: tomate, pepino japonês, manjericão, sal, pimenta do reino e
azeite sobre uma camada de torradinhas picadas (no lugar dos croûtons da
receita do site). A sobremesa foi a já aprovada mousse de chocolate também do
Panelinha, acompanhada de morangos. E voilà: tivemos mais um jantar bonito, gostoso e feliz.
Arranjos para o jantar: nos chawans, a bruschetta com torradinhas e na jarra o molho para servir sobre o cozido. Foto artística de Guga para o Boeuf, com carioquinhas e arroz ao fundo
sábado, 28 de julho de 2012
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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