É surpreendente como podemos deixar de fazer algo de que gostamos sem nem perceber. Ainda mais no que se refere à arte, cuja apreciação serve de antídoto a tanta coisa nefasta.
Foi o caso na última semana. Retomar a apreciação da arte para aliviar o peso na alma.
Por isso vi quase de um só gole os Mestres do Renascimento no CCBB e Lucien Freud no Masp.
A bela exposição dos renascentistas tem algumas obras surpreendentes, como a de Carlo Crivelli - a Madona com o Menino tem movimento e graça inovadores para a época -, além das cores esperadas mas sempre espantosas nas cenas pias com fundo mercantil (as costumeiras cidades e os portos ao fim da perspectiva). Vi um Parmegianino ao vivo, o que me tocou muito, mesmo não sendo uma obra claramente maneirista. E o que mais me chamou a atenção foi a perfeita conservação das obras - quase nada craqueladas, com cores vibrantes e brilhantes. O único porém, de novo, é a iluminação do CCBB que nem sempre favorece os quadros de grandes dimensões num espaço tão exíguo.
No caso de Lucien Freud, reafirmei minha admiração pelo artista alemão, neto do pai da psicanálise. Sobretudo pelas gravuras, que não conhecia. Que meticulosidade! De repente entendi o que me parecia uma deformação dos modelos com intenção crítica - na verdade, um olhar tão próximo que distorce ao mesmo tempo que revela, mesmo efeito de uma grande angular usada a grande distância. Um obstinado atento aos mínimos detalhes. Se alguns dos modelos se queixaram de terem envelhecido ou desbotado nas mãos de Lucien Freud, o fato é que outros parecem muito mais belos na sua essência trazida à tona.
Ter visto beleza quando a alma estava tão anestesiada que a mente não conseguia pensar em nada que não fosse DOR foi, decididamente, como voltar a respirar fundo e devagar de novo, depois de quase me afogar.
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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