Estou pra escrever sobre o Christopher Nolan há meses. Empaquei. Achei chato tudo o que comecei. Mas não abandonei a ideia - ou melhor, ela não me abandonou.
A questão é que estou me sentindo emburrecer. Talvez seja um resultado do panorama geral, das informações fáceis, dos absurdos cotidianos, mas é sobretudo porque parei de estudar, de pesquisar, de ler outra coisa que não seja material didático. Quer dizer, tenho até voltado a ler literatura, achados maravilhosos como obras de Jhumpa Lahiri e Patricia Highsmith, mas o estudo mais profundo mesmo, este ficou de lado. Já havia sentido essa diferença na minha última incursão à pós-graduação; agora, o quadro se agravou.
Aí resolvi simplificar o texto sobre o Nolan. Ia fazer uma lista dos filmes que vi (Amnésia, A origem, Interestelar, mas também Batman begins e O grande truque, por que não?), apontar algumas especificidades e então me deter nos labirintos que me parecem caracterizar seu cinema. Não simples quebra-cabeças, mas, um pouco ao gosto de Borges, jogos de espelhos, passagens secretas, mundos infinitos. Aquelas cenas em que universos, sejam mentais ou espaciais, se desdobram. Uma clareza metafórica às vezes só alcançada com o cinema, mas perfeitamente cabível numa biblioteca total, na memória infinda de uma personagem, num mapa impossivelmente mensurável.
Poderia até comparar os filmes de Nolan com Matrix, o primeiro. Afinal, também há nele os universos paralelos, o questionamento do que é verdade/real ou não. Mas Matrix é noir, sombrio, subterrâneo. Os filmes labirínticos de Nolan (Amnésia, A origem e Interestelar) são quase insuportavelmente solares, de uma luminosidade assemelhada a Deus e o Diabo na Terra do Sol, a O estrangeiro de Camus. Clareza cegante, como em Informe de ciegos, de Ernesto Sabato (ainda que nesta obra os cegos percorram um escuro submundo). Nolan tem muita proximidade, nesse sentido, do mundo latino ou mediterrâneo.
Mas isso é tudo, no momento, que posso dizer. Vai, ideia minha, ser gauche na vida.
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