É sério: não consigo curtir fotos de amigos e conhecidos en voyage por aí, desde que a pandemia começou e ainda mais agora, no seu pior momento. Teve até quem tentasse se justificar, porque já havia comprado pacote de viagem e tal, mas me desculpe, acho que não há o que dizer a quem resolve viajar e ficar se exibindo sem máscara em paraísos tropicais, pobrezinho-tão-cansado-da-pandemia, enquanto contabilizamos mais de 250 mil mortos. É desrespeitoso e absurdo demais esperar que disso venha um like. Isso vale para anônimos e famosos. Mas é assim que chegamos a um ano de quarentena, assistindo a esse show de horrores humano, nas altas e baixas esferas.
Hoje tomamos sol na grama, no nosso privilégio de classe média baixa. A maior parte dos estados brasileiros vive situação de calamidade, com 90% ou mais de leitos ocupados, gente morrendo dentro de ambulâncias ou em cadeiras fazendo as vezes de leito em hospitais. O governador baiano chora ao se solidarizar com um pai que perdeu sua filha de 16 anos para a Covid-19. O perverso-mor continua lançando suas chispas de ódio, cortina de fumaça para os descalabros familiares, como a recém-comprada mansão do filho mais velho, que está conseguindo se livrar da maior parte das investigações contra ele. Continuamos apáticos diante da hecatombe, da onda gigante, tsunami de destruição. Nem em meus piores pesadelos eu sonharia em viver uma situação assim, em assistir ao desastre brasileiro, à derrocada humana, a uma crise humanitária mundial.
É desesperador imaginar que dias piores ainda virão, com muita gente morrendo não só de Covid, mas de fome e pela violência, porque tudo agora está interligado. Mesmo fazendo força para manter o equilíbrio, a alma não pode sair intacta. Mesmo tendo mais clareza do que importa, do que trago para dentro como mais valioso, é difícil sonhar o futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário