Como o dia a dia nem sempre é fácil e às vezes os desafios da vida parecem chegar todos de roldão, não perco a oportunidade de celebrar. Coisas pequenas, a vida em si, os afetos. Gosto não só de brindar (uma espécie de bênção), mas também de preparar algo, mesmo simples, para a ocasião.
Ontem, no final de um dia de calor cáustico, em que o trabalho rendeu pouco, com muitas questiúnculas, e sofrendo com uma tosse renitente, tive uma ótima notícia. E eu e Guga resolvemos fazer um jantarzinho hoje, para dois. Simples, mas caprichado.
Fiz uma salada com folhas e tomates da cesta de orgânicos que encomendei (resolvi experimentar; só me decepcionei com o tamanho da cesta, muy pequeña), com molho de aceto balsâmico, azeite e azeitonas (o que me lembrei de uma receita do Jamie Oliver) e uma omelete de gruyère com ervas. Só. E o ponto alto do jantar para mim, hormigona assumida: creme de cupuaçu sobre ganache, nas tacinhas herdadas de minha avó.
Tinha feito um ganache, receita do Panelinha, que não deu certo. Acho que errei no ponto do creme, que virou um brigadeiro e depois um pé de moleque, horror dos horrores (o gosto não era dos piores, mas a consistência...). Quando, ainda por cima, resolvi que seria parte da sobremesa comemorativa das boas novas, me enfezei, joguei fora o creme monolítico, fui às compras e fiz outro ganache, desta vez com dicas do Gourmandise (que até agora me parece infalível nas dicas de pâtisserie). Simplesmente, aqueci o creme de leite, desliguei e derreti nele o chocolate picado, mexendo sempre. Só acrescentei depois um pouco de maple syrup. Ficou ótimo, muito mais afeito a uma comemoração.
Amanhã começa tudo de novo. Mas com outra perspectiva, mais doce e cheia de esperança.
Tintim.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Gourmandise XII - Divino flan
Simplesmente adoro pudim (do inglês pudding, é o mesmo que flan ou flã, do francês e do espanhol flan). Acho uma sobremesa perfeita: embora calórico, leve; fresco sem ser gelado; doce sem ser enjoativo, e muito macio. E fica incrível em uma infinidade de variações: de pão, laranja, limão, banana, o clássico de leite. Acho que nenhum bate o de doce de leite, que já mencionei aqui mais de uma vez.
O que mais me chama a atenção nos pudins é a maneira variada de fazê-los, e não apenas pelos seus diversos ingredientes possíveis. Por exemplo, os ingredientes do flan de leite condensado podem ser batidos todos juntos, em temperatura ambiente, no liquidificador (3 ovos, 1 lata de leite condensado, duas vezes a mesma medida de leite). Já o imbatível flan de dulce de leche é feito com o doce de leite diluído e aquecido em meio litro de leite integral - ao líquido quente se acrescentam os ovos batidos.
O último que fiz foi o flan aux marrons, também receita do blog Gourmandise. Neste caso, todos os ingredientes (creme de marrons, ovos, leite, creme de leite e açúcar demerara) foram batidos juntos, também em temperatura ambiente. A diferença foi não haver uma forma previamente caramelizada, mas só untada com manteiga (e achei mais difícil de desenformar). Como não tinha o açúcar de vanille (um açúcar armazenado com favas de baunilha), misturei essência de baunilha à calda de açúcar branco, demerara e água - e ficou suave e bem gostoso (meu provador oficial já sugeriu utilizarmos como cobertura de panqueca!). E também bati creme de leite fresco (rendeu muito esse creme!) com açúcar para fazer chantili - e se formou um trio perfeito para sobremesa.
O que mais me chama a atenção nos pudins é a maneira variada de fazê-los, e não apenas pelos seus diversos ingredientes possíveis. Por exemplo, os ingredientes do flan de leite condensado podem ser batidos todos juntos, em temperatura ambiente, no liquidificador (3 ovos, 1 lata de leite condensado, duas vezes a mesma medida de leite). Já o imbatível flan de dulce de leche é feito com o doce de leite diluído e aquecido em meio litro de leite integral - ao líquido quente se acrescentam os ovos batidos.
O último que fiz foi o flan aux marrons, também receita do blog Gourmandise. Neste caso, todos os ingredientes (creme de marrons, ovos, leite, creme de leite e açúcar demerara) foram batidos juntos, também em temperatura ambiente. A diferença foi não haver uma forma previamente caramelizada, mas só untada com manteiga (e achei mais difícil de desenformar). Como não tinha o açúcar de vanille (um açúcar armazenado com favas de baunilha), misturei essência de baunilha à calda de açúcar branco, demerara e água - e ficou suave e bem gostoso (meu provador oficial já sugeriu utilizarmos como cobertura de panqueca!). E também bati creme de leite fresco (rendeu muito esse creme!) com açúcar para fazer chantili - e se formou um trio perfeito para sobremesa.
Gourmandise XI - Risotos, limão siciliano e etapa gastronômica atual
Quando eu era bem jovenzinha (faz tempo, eu sei...), gostava de desenhar minhas roupas para que alguém as fizesse. Na época, não conhecia uma boa costureira, mas, mesmo assim, o que curtia era imaginar os tecidos e, principalmente, as estampas dos modelitos. Quase sempre encontrava o que queria, mas muitas vezes via meu sonho fashion acabar (= ser destruído) nas mãos de pseudocostureiras do bairro...
Bom, isso era só pra dizer que, na minha atual etapa gastronômica, também imagino primeiro uma combinação de ingredientes que gostaria de usar. Depois, caso haja dúvidas, faço uma pesquisa para saber se, juntos, funcionam, se desandam ou não (o que aumenta muito a possibilidade de o sonho gastronômico ser realizado!). Quando encontro uma receita que, de ler, já me assanha as papilas gustativas, vou em frente, mas, não raro, subverto-a com alguns acréscimos de ingredientes e alterações de medidas.
Deve ser por esse lado "variação do tema" que gosto tanto de fazer risotos. OK, isso pode valer pra gastronomia de modo geral - aliás, pro ser humano, pra vida de modo geral. Mas o ponto é que o risoto é um prato de fácil entendimento, e o mais é ter paciência para mexer o arroz no caldo e usar a criatividade na hora de juntar os ingredientes quando ele estiver al dente. Os meus ingredientes da vez são abobrinha italiana, pistache, queijo brie, manjericão, alecrim, sálvia, shitake, shimeji, cogumelos Paris... E depois de um ótimo espaguete com shimeji e limão siciliano feito pela cunhada, resolvi marinar shimeji e shitake no limão antes de refogar no alho com manteiga (muita manteiga). Ficou muito bom, leve e refrescante. Ainda por cima, usei o creme de leite fresco que tinha sobrado do flan aux marrons (receita salvadora do blog Gourmandise, pois não sabia o que fazer com o vidro de marrons e baunilha da Casino que estava na geladeira), somente no final, com o fogo desligado, e salpiquei salsinha.
Aliás, achei, na minha pesquisa pré-risoto, uma receita que levava limão siciliano e shitake, mas só um pouco da casca ralada, e sem muitas explicações da feitura (Cozinhando com Bernardete). Eu usei shimeji e shitake (tinha champignon na geladeira, mas acho que essa marca não é tão legal quanto outra que costumo achar no supermercado), o suco de 1 limão siciliano, 1 cebola grande, 3 dentes de alho picados, 100 g de manteiga, queijo ralado (quase no final, antes do creme de leite). No lugar do vinho, usei saquê, para reforçar o lado nipônico do prato italiano. Como não tinha tempo para fazer o caldo de galinha, usei dois potinhos daquele caldo Knorr (da propaganda do Alex Atala, lembram?) e ficou muito bom.
O limão siciliano, que me surpreendeu pela primeira vez numa pasta com frutos do mar (como combinam!), num restaurante bacanudo, entrou pra valer na lista de ingredientes do coração.
Bom, isso era só pra dizer que, na minha atual etapa gastronômica, também imagino primeiro uma combinação de ingredientes que gostaria de usar. Depois, caso haja dúvidas, faço uma pesquisa para saber se, juntos, funcionam, se desandam ou não (o que aumenta muito a possibilidade de o sonho gastronômico ser realizado!). Quando encontro uma receita que, de ler, já me assanha as papilas gustativas, vou em frente, mas, não raro, subverto-a com alguns acréscimos de ingredientes e alterações de medidas.
Deve ser por esse lado "variação do tema" que gosto tanto de fazer risotos. OK, isso pode valer pra gastronomia de modo geral - aliás, pro ser humano, pra vida de modo geral. Mas o ponto é que o risoto é um prato de fácil entendimento, e o mais é ter paciência para mexer o arroz no caldo e usar a criatividade na hora de juntar os ingredientes quando ele estiver al dente. Os meus ingredientes da vez são abobrinha italiana, pistache, queijo brie, manjericão, alecrim, sálvia, shitake, shimeji, cogumelos Paris... E depois de um ótimo espaguete com shimeji e limão siciliano feito pela cunhada, resolvi marinar shimeji e shitake no limão antes de refogar no alho com manteiga (muita manteiga). Ficou muito bom, leve e refrescante. Ainda por cima, usei o creme de leite fresco que tinha sobrado do flan aux marrons (receita salvadora do blog Gourmandise, pois não sabia o que fazer com o vidro de marrons e baunilha da Casino que estava na geladeira), somente no final, com o fogo desligado, e salpiquei salsinha.
Aliás, achei, na minha pesquisa pré-risoto, uma receita que levava limão siciliano e shitake, mas só um pouco da casca ralada, e sem muitas explicações da feitura (Cozinhando com Bernardete). Eu usei shimeji e shitake (tinha champignon na geladeira, mas acho que essa marca não é tão legal quanto outra que costumo achar no supermercado), o suco de 1 limão siciliano, 1 cebola grande, 3 dentes de alho picados, 100 g de manteiga, queijo ralado (quase no final, antes do creme de leite). No lugar do vinho, usei saquê, para reforçar o lado nipônico do prato italiano. Como não tinha tempo para fazer o caldo de galinha, usei dois potinhos daquele caldo Knorr (da propaganda do Alex Atala, lembram?) e ficou muito bom.
O limão siciliano, que me surpreendeu pela primeira vez numa pasta com frutos do mar (como combinam!), num restaurante bacanudo, entrou pra valer na lista de ingredientes do coração.
Meninos, eu vi - "Os homens que não amavam as mulheres"
Não li a trilogia Millenium de Stieg Larsson, mas, diante do entusiasmo do namorido, fiquei bem curiosa com o trailer de Os homens que não amavam as mulheres, de David Fincher (e o diretor já seria um bom atrativo, mesmo que ele "só" tivesse feito Seven). E lá fomos nós para nosso programa carnavalesco - afinal, feriado não é só trabalhar e encher a barriguinha com experimentações gastronômicas, certo? ;)
Embora Guga já tivesse me explicado a urdidura mais lenta da trama escandinava, o filme é eletrizante. O espectador fica tenso ao tentar acompanhar as alternadas descobertas que podem explicar um crime ocorrido há 40 anos, só a ponta do iceberg de uma série de assassinatos. A trama, ainda por cima, foge da do serial killer americano (pelo menos o de hoje), que precisa explicar "por que fulano resolveu matar um grupo de pessoas", suas motivações psicológicas, pai ou mãe ausente etc. Um pouco como Mersault, de Camus, o assassino criado por Larsson (mesmo que tenha suas motivações) simplesmente faz aquilo. Sua causa primeira é "fazer". Estraguei a surpresa? Não, podem crer que há muito mais para ser visto.
Além disso, Rooney Mara (A rede social, do mesmo Fincher, e outros pequenos papéis anteriores) explica, com sua performance, por que foi indicada ao Oscar de melhor atriz.
A única coisa que não recomendo é assistir ao filme no Pátio Higienópolis, sempre confuso (mesmo eu tendo comprado os ingressos pela internet, com uma suposta promessa de que era só apresentar meu cartão de crédito na entrada para evitar a fila - o que não aconteceu), lotado e equipado com poltronas para pessoas de 1,60 m de altura (para minha sorte, mas não para a de Guga).
Embora Guga já tivesse me explicado a urdidura mais lenta da trama escandinava, o filme é eletrizante. O espectador fica tenso ao tentar acompanhar as alternadas descobertas que podem explicar um crime ocorrido há 40 anos, só a ponta do iceberg de uma série de assassinatos. A trama, ainda por cima, foge da do serial killer americano (pelo menos o de hoje), que precisa explicar "por que fulano resolveu matar um grupo de pessoas", suas motivações psicológicas, pai ou mãe ausente etc. Um pouco como Mersault, de Camus, o assassino criado por Larsson (mesmo que tenha suas motivações) simplesmente faz aquilo. Sua causa primeira é "fazer". Estraguei a surpresa? Não, podem crer que há muito mais para ser visto.
Além disso, Rooney Mara (A rede social, do mesmo Fincher, e outros pequenos papéis anteriores) explica, com sua performance, por que foi indicada ao Oscar de melhor atriz.
A única coisa que não recomendo é assistir ao filme no Pátio Higienópolis, sempre confuso (mesmo eu tendo comprado os ingressos pela internet, com uma suposta promessa de que era só apresentar meu cartão de crédito na entrada para evitar a fila - o que não aconteceu), lotado e equipado com poltronas para pessoas de 1,60 m de altura (para minha sorte, mas não para a de Guga).
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Vale a pena: "Guerra" e "Paz", de Portinari, no Memorial da América Latina
Fazia um tempão que eu não ia ao Memorial da América Latina. Fomos hoje por um ótimo motivo: ver os painéis Guerra e Paz, pintados por Portinari na década de 1950, oferecidos pelo pintor à ONU.
Somente depois de atestar o crescimento dos prédios ao redor do espaço (outrora) aberto projetado por Niemeyer (e que é tão subaproveitado) e de palmilhar uma vez mais a cordilheira dos Andes na maquete de Gepp e Maia, entramos na fila de meia hora para ver os murais.
E valeu muito a pena. Depois de cerca de 15 minutos admirando os dois murais de 14 x 10 metros (que mereciam, é justo dizer, uma sala mais ampla), assistimos a uma projeção dos esboços que resultaram nas obras, com a iluminação simultânea das cenas nos painéis e a envolvente cantiga de roda que evocava a paz. Parece piegas, mas foi emocionante. Além disso, em um prédio vizinho, os estudos para a obra, em crayon, lápis e pastel, podem ser ainda mais dramáticos do que as grandes imagens. Recomendo tudo. A exposição vai até 21 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h. E, sem mais que dizer, deixo registros de uma tarde especial.
Lá no alto, São Paulo e Rio na maquete onde-está-Wally de Gepp e Maia;
fila para ver os murais de Portinari; texturas; recortes dos murais. O Memorial da América Latina, tão subaproveitada arquitetura de Niemeyer.
Somente depois de atestar o crescimento dos prédios ao redor do espaço (outrora) aberto projetado por Niemeyer (e que é tão subaproveitado) e de palmilhar uma vez mais a cordilheira dos Andes na maquete de Gepp e Maia, entramos na fila de meia hora para ver os murais.
E valeu muito a pena. Depois de cerca de 15 minutos admirando os dois murais de 14 x 10 metros (que mereciam, é justo dizer, uma sala mais ampla), assistimos a uma projeção dos esboços que resultaram nas obras, com a iluminação simultânea das cenas nos painéis e a envolvente cantiga de roda que evocava a paz. Parece piegas, mas foi emocionante. Além disso, em um prédio vizinho, os estudos para a obra, em crayon, lápis e pastel, podem ser ainda mais dramáticos do que as grandes imagens. Recomendo tudo. A exposição vai até 21 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h. E, sem mais que dizer, deixo registros de uma tarde especial.
Lá no alto, São Paulo e Rio na maquete onde-está-Wally de Gepp e Maia;
fila para ver os murais de Portinari; texturas; recortes dos murais. O Memorial da América Latina, tão subaproveitada arquitetura de Niemeyer.
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla