segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A morte do cerefólio (e a vida que segue)

Meu cerefólio morreu!
Quando eu o trouxe da Sabor de Fazenda, como a erva que escolhi replantar no curso de Jardinagem Gastronômica, ele tinha duas ou três folhinhas amarelas, mas parecia impávido. Como não gostou do lugar onde o coloquei primeiro, com sol direto, mudei-o para um mais sombreado. Logo vários mosquitos vieram habitar o vaso - borrifar pó de café na planta não fez nenhum efeito.
Numa última tentativa, coloquei-o atrás do vaso de ervas "mediterrâneas", para que tivesse meia sombra. E vi o cerefólio minguar implacavelmente, as folhas delicadas amarelando e pendendo para a terra. As salsas pedem bastante cuidado, mas dá para achar o termo perfeito - comprei umas mudinhas (sou insistente com as salsas) que transplantei para o vaso mediterrâneo, e pelo menos uma delas curtiu o lugar. Já o cerefólio, foi ele quem decidiu não ficar, desde o início. Estaria doente? Como saber?
Só sei que tenho aprendido muito na observação das plantas. E esse mudo contemplar acaba sendo bastante útil na observação pessoal - aprendo a falar menos (juro que é possível) e a olhar mais, lendo nos gestos e silêncios o que não se ousa/consegue/deseja dizer. Quando é preciso ensolarar, quando é preciso aquietar à sombra. Mais ou menos nutrição. Revolver o solo. Tirar ervas daninhas, folhas velhas para trazer o renovo. Entender que às vezes "não rola", e tudo bem - perdemos de um lado, ganhamos de outro. Alegrar-se com as pequenas conquistas/bênçãos diárias. Um trabalho incansável, mas que vale muito, muito a pena.
A vida que segue.

domingo, 19 de agosto de 2012

Gourmandise XXIV - Risoto sertanejo

Puxa, mais uma postagem sobre comida! Tenho falado muito disso este ano - no ano passado, falei mais de filmes e shows, no outro ano, sobre impressões cotidianas. As postagens, afinal, tem sido fiéis a cada "momento presente".
Esta, ainda por cima, é para falar de mais um risoto. Criei hoje, para o almoço. Já estava a fim de fazer um risoto com vinho tinto - que, claro, combinaria divinamente com alguma carne.
Tinha comprado linguiça toscana para acompanhar a raizada, receita que aprendi com o pessoal da Sabor de Fazenda. Algumas receitas que encontrei me pareceram meio sem graça - ou só tinham linguiça, ou tinham combinações pouco promissoras. Como também tinha ainda abóbora cabotchá, resolvi juntar tudo. No final, ainda me lembrei do queijo coalho que estava na geladeira.
O risoto ficou bonito e bem gostoso. Pelos ingredientes, me lembrou um pouco baião de dois e quibebe. Algo meio sertanejo. Altamente calórico, mas igualmente compensatório.
Ficou assim:

Ingredientes (4 porções)
1 1/2 xícara de chá de arroz arbóreo
1 litro de caldo de carne
1 xícara de vinho tinto
2 linguiças do tipo toscana grelhadas e cortadas em pedaços pequenos
1 xícara de chá de abóbora sem casca e cortada em cubos
1 fatia de queijo coalho (pode ser daqueles para churrasco; o da marca Tirolez é ótimo)
1/2 cebola roxa
1/2 xícara de chá de bacon cortado em cubos
2 colheres de azeite
1 dente de alho descascado e picado miudinho
1 ramo de alecrim

Preparo
Grelhe as linguiças, espere esfriar, corte-as e reserve. Prepare o caldo de carne - pode utilizar um potinho de caldo de carne Knorr dissolvido em 1 litro de água fervente. Refogue em 1 colher de azeite o bacon em cubos, junte a cebola roxa, em seguida o alho e a abóbora. Coloque 1 colher de água, junte à mistura um ramo de alecrim e tampe a panela por 5 minutos. A abóbora deve cozinhar um pouco, mas não perder a firmeza, pois depois cozinhará mais um pouco no arroz. Desligue o fogo e reserve.
Grelhe também a fatia de queijo coalho; quando tiver esfriado, corte-a em pedaços pequenos e reserve.
Em outra panela, aqueça 1 colher de azeite e acrescente o arroz arbóreo. Despeje sobre ele uma xícara de vinho tinto e espere evaporar o álcool. Junte então o caldo de carne e vá mexendo até o arroz engrossar, não deixando de acrescentar mais caldo quando a mistura começar a secar. Quando o arroz estiver al dente, acrescente o refogado de abóbora e mexa mais um pouco. Em seguida, junte a linguiça e o queijo coalho e mexa bem.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Gourmandise XXIII - Pães em aperfeiçoamento

Eu falei há algum tempo do tal curso de pães que fiz. Adorei etc. Foi muito legal participar da feitura, os pães são uma delícia. Incontestável.
Só que resolvi fazer o pão em casa, até porque os pães da boulangerie são bem caros. A apostila que ganhamos não ajuda em nada - é mais um roteiro de aula para o professor do que um passo a passo para o aluno (e tenho autoridade para julgar, não só porque já fiz muuuitos cursos, mas também porque editava materiais apostilados. Dããã!). Fui escavando na memória o que fizemos no curso, e claro que não me lembrei de tudo. Depois de muito tentar, nem fermento nem pão cresceram, e o resultado não me agradou: dois pães pequenos e massudos (fiz meia receita, mas daí a obter pães-anões...).
Escrevi para o pessoal da boulangerie, e li que, já que tenho ainda muitas dúvidas, "posso fazer o curso de novo" (???). Não gostei. (E esta semana não falei justamente do pessoal da Sabor de Fazenda como exemplo de gente que gosta de compartilhar o conhecimento?)
Fiz minhas pesquisas internáuticas, e cheguei a receitas complexas mas bem explicadas de levain naturel, pré-fermento, dicas de farinha adequada para pães (a Fleischmann tem uma de grano duro especialmente para isso). E, importantíssimo, pesquisei as conversões de medidas: nem todas as farinhas e demais ingredientes têm o mesmo peso, certo? Ou usamos as medidas-padrão (xícara, colher etc.), ou a balança digital (que tem a desvantagem de só conseguir aferir a partir de um determinado peso). O blog Gourmandise dá ótimas dicas de conversão de medidas.
E achei também um blog com uma receita de pão multicereais, no método direto (usando fermento biológico fresco), mais rápido. Acabei descobrindo que o tal blog é do Rogério Shimura, simplesmente uma das grandes autoridades (redundante?) em pães em São Paulo, um ex-colaborador do Alex Atala que em breve abrirá uma escola de panificação. Ele também tem um programa no canal Bem Simples, A confeitaria.
Segue o link com a receita do pão, que deu certo, ficou ótimo (a foto acima mostra que os pães cresceram; além de ainda mais gostosos, eles sairão mais bonitos na próxima):

http://rogerioshimura.wordpress.com/2012/02/01/pao-de-multicereais/

domingo, 5 de agosto de 2012

Manhã verde no meio da Pauliceia - Sabor de Fazenda

Sábado de manhã, e lá fui eu fazer mais um curso. Mas não "qualquer" curso. Esse era mais um dos que resolvi fazer na linha change your life, "coisas de que gosto, e ponto-final", porém também de caráter utilitário. Fui fazer um curso de jardinagem gastronômica na Sabor de Fazenda.
Tinha já ouvido falar do lugar há uns dez anos ou mais, quando li uma vinheta na Veja (quando ainda lia Veja) sobre um curso gratuito de temperos na Vila Maria. Estava começando meus experimentos na cozinha e me lembro de ter feito a inscrição, mas, por algum motivo, não consegui comparecer. Este ano, visitando o blog da Dri Haddad, vi a menção à Sabor de Fazenda e a suas proprietárias, Sílvia e Sabrina Jeha (a Dri deu um curso de papinhas orgânicas com a Sabrina). De imediato me lembrei do tal curso de temperos, e fui buscar novas informações. Dei de cara com o de jardinagem gastronômica e percebi que agora era tempo de fazer o curso, com mais prática culinária e muito mais interesse que antes.
Bom, o que dizer? O curso foi uma delícia, em um lugar "realidade paralela" em São Paulo, em meio a fábricas e grandes avenidas. Além da parte de reconhecimento (visual e olfativo) das ervas usadas na gastronomia, houve, na melhor linha do Eclesiastes, um momento para plantar, um para degustar, um para aprender a fazer. De comer de joelhos a raizada preparada com "azeite de todas as ervas para cozidos" (pode nome mais poético?). Salada com ervas diversas e inusitadas (para mim, para mim!), como azedinha. E, na minha opinião, the big surprise: o brigadeiro de capim-limão. U-A-U! (E também descobri que é pura sorte os meus temperos estarem vivos - preciso rever drenagem, tamanho e local dos vasos.)
Sabrina e Sílvia, e sua equipe toda, são, além de competentes, uma simpatia. Admiro sempre quem consegue (e gosta de) transmitir seu conhecimento com tanta leveza. E haja paciência para o nosso desconhecimento!




Minhas mudinhas da Sabor da Fazenda: tomilho-limão, orégano fresco, nirá, capim-limão e cerefólio. Turma reunida (eu já tinha ido embora, mas recebi essas fotos da Sabrina e resolvi postar aqui), turma na sala e a maravilhosa raizada em preparação, nham!

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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