Adoro os filmes de Guillermo del Toro: os poucos a que assisti já o colocam ao lado de Wes Anderson, Christopher Nolan, Pedro Almodóvar, ou seja, os bambas do cinema para mim.
O labirinto do fauno (2006) é um dos melhores filmes de todos os tempos - nele acontece o encontro da doce Ofélia com o fauno que habita um labirinto misterioso. O pano de fundo da Guerra Civil Espanhola muitas vezes salta do fundo e se mostra como a verdadeira fonte do terror experimentado pela protagonista. Fotografia, maquiagem, direção, roteiro, tudo é maravilhoso neste filme.
Já O orfanato (2007), dirigido por Juan António Bayona (aliás, diretor também de Sete minutos da meia-noite, lindíssimo) e produzido por Del Toro, é um thriller com temática já conhecida, a da chegada da personagem a um lugar assombrado (no caso, um lugar onde ela passou a infância), o que se complica com o desaparecimento de seu filho. Tudo seria mais do mesmo se não houvesse o cuidado da direção/produção (sim, porque há uma marca de Del Toro bem clara ali, como também em Sete minutos) em manter o terror no nível do inesperado, da insinuação, um terror "branco", sem sangue.
A forma da água, que este ano concorre a 13 Oscars, estreou há menos de um mês no Brasil, já cercado pelas polêmicas de plágio de uma peça teatral dos anos 1960. Fomos ver no dia mesmo da estreia e nos espantamos com o comportamento da plateia, ora apática, ora indignada com a "bizarrice" do filme, um longa de fantasia explícita à la Guillermo del Toro. O que vimos foi um filme belíssimo e comovente, de uma plasticidade líquida e profunda no seu chiaroscuro, com personagens solitárias e amorosas perfeitamente dirigidas. Aliás, esses três filmes têm em comum a solidão e o desajuste, além, é claro, da paixão de Del Toro por figuras monstruosas ou sem rosto e o fato de mulheres serem as protagonistas.
O diretor mexicano consegue transformar, por meio da fantasia, a solidão em encontro. Mas isso o público do cinema no shopping não conseguiu perceber, pois já se amalgamou a este mundo sem magia onde vivemos e (alguns de nós) resistimos.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
O cinema de Guillermo del Toro em um mundo sem magia
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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