Amo uma feira, já devo ter dito aqui. Feiras e mercadões, pra ser mais precisa. Quando chego a uma cidade nova, já quero logo conhecer os locais de comércio popular, saber o que a população local consome, o que come, o que compra, o que considera indispensável em sua casa, parte de sua identidade mesmo.
Se a feira ainda for de produtos orgânicos, melhor ainda. Por aqui, ainda não tinha tido notícias de uma, além de nossa feirinha dominical, que é pequena, mas bem boa (com direito a rúcula rascante de tão adstringente).
Entonces, minha amiga Marisa me marcou em uma publicação do MST, de uma feira da Reforma Agrária que aconteceria em Salvador, a versão soteropolitana da tradicional feira do MST do Parque da Água Branca, em São Paulo. Mesmo lá, eu nunca tinha ido a essa feira, que é um verdadeiro evento, mas sempre me interessei ao ver imagens e comentários posteriores. Portanto, saber que a feira aconteceria por estas plagas só podia ser um sinal de que devíamos conhecê-la.
Combinei com o maridón bem antes. Também contatei Liu e Igor, que certamente gostariam de ir (e já tinham se programado para tal). Por sorte, hoje, dia da feira, não choveu, fez um dia lindo. E lá fomos nós, conhecer a produção de todos os cantos da Bahia.
Chegamos com a feira já a todo vapor, gente por toda parte do Largo da Piedade. Tudo meio apertadinho, mas bem organizado em regiões baianas - Norte, Oeste, Baixo Sul, Sul. Em cada banca que passávamos, uma conversa simpática, a postura de orgulho pelo que é feito, a clareza da identidade. E os produtores queriam conversar, estavam sequiosos de dividir seu saber e sua experiência, sem servilismos. Quando houve música militante, todos ali, onde estivessem, cantaram. Emocionante. Descobrimos uma editora que trabalha com temas relevantes para o movimento, Expressão Popular (não por acaso sediada na Rua da Abolição, na Bela Vista, um bairro tipicamente politizado).
E caminhamos no meio de bancas de taioba, cacau, cupuaçu, pimenta de todo tipo, amendoim, milho, mudas de árvores frutíferas, quiabo, mamão, manga, couve, fava, feijão fradinho e de corda, aipim, inhame, nibs e doces à base de cacau, cocada, artefatos de barro e de palha, banana, batata, jaca, xaropes mil, mel, coentro, farinha, azeite de dendê, manteiga de garrafa e tantas coisas que nem registrei. Lindeza reluzente.
No fim, não foi só um passeio pela feira. Foi ver de perto como é possível um projeto de vida solidário e conectado com a natureza, como a união faz mesmo a força na transformação de realidades. Em um cenário tão desolador como o que temos vivido no país - com economia solapada, política entregue aos ratos, saúde e educação em petição de miséria -, é um alento que gente nossa consiga mostrar o resultado de sua esperança, de sua capacidade de continuar acreditando que algo bom pode nascer de nossas mãos. Mas é preciso colocá-las à obra, mergulhá-las na terra, reconectar-se. Nisso reside o milagre.
sexta-feira, 15 de junho de 2018
Um passeio pela feira da Reforma Agrária
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