quarta-feira, 27 de junho de 2018

Açaí guardiã

Nunca me esquecerei da primeira vez que comi açaí. Estava com meu amigo Douglas, companheiro na monitoria da bizarra exposição D. Pedro II na Terra Santa, realizada no Sesc Vila Mariana. Lembro que, após o açaí, provado em um café na esquina da Humberto I com a Pelotas, morremos de rir com os dentes pretos um do outro e fiquei tomada de amores com a mistura bem geladinha de açaí preparado com banana e xarope de guaraná e granola. Apesar da paixão à primeira vista, logo soube que ele tinha milhares de calorias e me contive no consumo desde então.
Outro dia, calhou de eu ver no GNT o Rodrigo Hilbert gravando na Amazônia e preparando pratos à base de açaí, como um pudim de açaí e brigadeiros de açaí enrolados em flocos de tapioca. Quis aproveitar as polpas que tinha na geladeira, mas descobri que já eram o preparado criado pelos cariocas malhadores, e não a fruta natural. Então ontem preparei tal como conheci, como os cariocas inventaram, com banana cortada fininha e granola. Pura energia.
Coincidência ou não, na última semana terminei de assistir às aulas do chef paraense Thiago Castanho na pós. Como não podia deixar de ser, muito tucupi, farinha e açaí nas receitas, além dos peixes diversos, é claro. Quando estive na Amazônia, mais especificamente em Manaus, provei a polpa pura e acompanhada de tapioca flocada, na companhia de outro amigo da mesma exposição bizarra do Sesc, o James. Achei forte, mas bom. Depois, em Belém, conheci a maravilhosa e inigualável sorveteria Cairu, na companhia de minha cunhada. Os sabores mais famosos, claro, eram de tapioca, tapioca + açaí (chamado Mestiço) e castanha-do-pará. Como já disse e não canso de repetir, maravilhosos.
Por fim, o açaí tem até trilha sonora, uma das melhores loucas letras de Djavan. Ao ser perguntado sobre o significado de "açaí, guardiã", o cantor alagoano mais querido de todos deu uma explicação mais louca ainda, a de que a palmeira do açaí dá a vida, dá tudo de si, "por isso é guardiã". Louco, mas bonito, como tanta coisa que o Djavan nos legou. E o açaí, terroso, telúrico, forte, agradece por todas as atenções.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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