Depois de mais de cem dias de quarentena, tomei sol. Eu sei, parece loucura, eu vivendo no Nordeste e não tomar um solzinho. Aconteceu, na realidade, uma pane mental com essa história de pandemia, e como deixamos de ir à praia parece que por extensão deixei de tomar sol no quintal, como se não tivesse direito a. Além disso, chovia a qualquer hora, e ficou difícil planejar o bronzeamento em meio a faxina e demais tarefas.
Pois na semana passada rolou um solzinho. Até era dia de lavar banheiro, mas resolvi tomar um sol antes de fazer umas tantas coisas. Foi ótimo. Talvez essa falta estivesse influenciando ainda mais a tristeza diante de tudo o que temos vivido.
Também fazia mais de cem dias que não pedalava. Atendendo a pedidos, fui entregar alguns pães, de bike. Isso já foi mais estressante, sair de máscara, quase sufocar, aquele temor de chegar perto de outros passantes, mas, aparentemente, deu tudo certo. Só não foi exatamente uma curtição, embora tenha sido bom sentir o corpo em movimento quando achei que nem sabia mais me equilibrar sobre a bicicleta.
Um dos aspectos da pandemia tem sido nos lembrar como nos acostumamos a tudo, inclusive a não fazer nada, um perigo para a existência. Aliás, numa situação de exceção, parece que primeiro há uma paralisação geral, um embotamento dos sentidos, a aceitação da morte em vida. Daí temos que explicar à mente que, na verdade, continuamos vivos. No caso brasileiro, vai-se ao outro extremo, de as pessoas acharem que já está tudo normalzinho - hoje, de carro, vimos dezenas de ciclistas pedalando em bandos. Talvez seja uma tendência suicida do nosso povo, mas seria importante que alguém avisasse à galera que tudo se aprende nessa vida, inclusive a viver, conviver, respeitar, ajudar.
Enquanto ninguém faz isso, seguimos acostumados aos cuidados, mas reintroduzindo o sol.
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