De madrugada, sinto um calor sufocante, acordo encharcada de suor, acho que estou com febre, tenho medo de ter sido infectada pelo coronavírus. Custo a dormir de novo, perco a hora do pilates, acordo com dor de cabeça. Por WhatsApp, combino com a professora repor a aula mais tarde, mas aguardo uma confirmação do chefe sobre uma reunião pedida pelo birô; no final, a professora também não me envia o link, também não insisto, não faço a aula. Cochilo mais de uma vez ao longo do dia, sinto bastante as pernas, provavelmente pelo esforço do pedal de ontem, com vento na cara e sensação de não chegar nunca mais a lugar nenhum, como me sinto no meio desta pandemia. Mais um dia em que quase não trabalho, só fico ocupada com almoço e jantar (faço moqueca e escondidinho de couve-flor e frango, que sofisticação, que versatilidade, que delícia), com colocar roupas para lavar, tirar do varal as que secaram. Nem rego as pimenteiras, nem a árvore da felicidade moribunda que o gato resolveu agora adotar como pufe. Descubro que posso usar o verso do papel de aquarela. Participo por videoconferência da reunião mais curta de todos os tempos, fico aguardando para assistir uma aula ao vivo de história da arte levando em conta a representação do negro, continuo ouvindo a aula pelos fones enquanto vou preparar o famigerado escondidinho. Volto ao computador para assistir ao final da aula, depois do jantar, não tenho nenhuma vontade de ver as notícias na TV (embora espie pela internet). Coloco a louça na máquina, lavo o restante já que encerrei a ajuda simbólica do marido. Aproveito para lavar lençóis. O dente trincado lateja. Atualizo as agendas com tudo o que não consegui fazer e também com o que virá, como a "não faxina" de sexta (definições de faxina atualizadas na última semana). Não fui ao supermercado hoje, o suposto dia "bom" para feira, então amanhã só devo encontrar verduras e frutas mais murchas e menos variadas. Penso que devo voltar a estudar história, história da arte, a ler literatura sistematicamente, a praticar pintura, desenho e bordado. Mas o que faço é assistir ao curso de design instrucional, porque o futuro. Vejo a foto de uma cozinha pequena, reformada pelo dono, exatamente do jeito que imagino a minha, e logo desanimo. Fico triste com a morte súbita do meu monitor cardíaco, que resolveu virar lixo eletrônico. Acho sinceramente que preciso de um batom cor de boca no tom da minha pele - descobri há pouco uma marca nacional que tem várias opções para negras e asiáticas, além das brancas. Desafiada por uma amiga, faço uma selfie, toda sem jeito, em PB - e gosto do que vejo. Apesar de tudo. Amanhã, amanhã.
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla
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