Ouro Preto mora definitavemente no meu coração. A cidade de bruma e mistério pintada por Guignard me conquistou desde a primeira visita, há 16 anos. E me encanta cada vez que volto.
Tudo é muito bem cuidado - das cidades brasileiras que conheço (não são tantas assim), ela me parece a que melhor recebe o turista, a mais bem preparada para isso. Não é uma cidade das mais baratas, mas paga-se pelo charme e pela preservação histórica.
Desde a estrada, com sua paisagem de mares de morros, até a entrada tímida, por uma rua estreita, na cidade, que de repente descortina um horizonte de igrejas e prédios coloniais (parece impossível não ver uma igreja para onde quer que se olhe), essa joia colonial vai revelando mineiramente seus encantos. Ela é de fato muito pitoresca - daí o fascínio dos modernistas por ela na década de 1920 (embora nem mesmo os desenhos de Tarsila possam dar uma pálida ideia do que é ESTAR lá). E a divulgação da cidade pelos artistas modernistas, é preciso dizer, teve grande importância no seu tombamento como Patrimônio da Unesco - por isso também Ouro Preto saiu na frente de outras cidades brasileiras no quesito preservação.
Falar das delícias gastronômicas pode soar redundante, mas como não lembrar que é um paraíso de doces (muitos feitos em outras cidades mineiras, é verdade), das cachaças (observação idem), de tutus, feijões tropeiros, torresmos etc., tudo isso cercado de história?
Melhor ainda é voltar tanto tempo depois e ver que a cidade continua se reinventando, com outros lugares interessantes, como a nova loja da cachaçaria Milagre de Minas (que tem não só uma parede de cachaças incríveis, mas também conservas ótimas, como as mostardas chiquérrimas que Guga me deu), o restaurante Bené da Flauta (boa comida, mas espaço melhor ainda), alguns cafés charmosos (e caros), cervejaria, espaços culturais, lojas e fábricas de chocolates, pousadas com forro de madeira policromada (a caprichosa Laços de Minas, cuja pintura do teto reproduz querubins à moda de Mestre Athaíde). E o que dizer do doce de leite com calda de morango? Eu não conhecia e fiquei em êxtase - comi um pote (pequeno, OK) inteiro na volta (e agora suo na academia pelos "morangos extras").
Também é ótimo revisitar o já conhecido - igrejas (não muitas, para não exaurir namorido - afinal, era uma comemoração de dia dos namorados, e não encontro de pesquisadores do Barroco, certo?), a Casa dos Contos, o café Beijinho Doce (que continua servindo seu bolo de morango, que dessa vez resolvi deixar apenas na minha memória afetiva), restaurantes já conhecidos e aprovados.
Ainda por cima, fomos premiados com a descoberta de uma loja de artesanato - Oro Preto, escrito assim mesmo -, de propriedade de uma física nuclear, montada na antiga casa do pai de Aleijadinho. É a cientista quem mora no andar superior - embaixo fica a loja. E nós conhecemos tudinho, que está muito preservado, guiados por seu assistente. Foi a grande surpresa da viagem.
De resto, tudo lindo, com pessoas simpáticas - não só os comerciantes, mas também os passantes na rua, que nos saudavam com um bom dia sorridente -, um sol lindo, um céu azul inacreditável, temperatura perfeita (calorzinho durante o dia, friozinho à noite). E sabem que até as ladeiras pareciam menos íngremes?
Fotos de Guga: as 2 primeiras, fachada, interior e prato do Bené da Flauta, minha foto na Casa dos Contos, nossa foto (o casal bonito) e a paisagem com Itacolomi.