domingo, 28 de abril de 2013
Moussaka de domingo
Com patrocínio do grill do fogão Electrolux, que deixou esse gratinado incrível, contrastando com o molho transbordante de alegria.
Gourmandise XXII - Medialunas
Contando os dias para a viagem a Mendoza, resolvi fazer medialunas, com a receita do livro de pães do Paulo Sebess, o famoso chef boulanger argentino.
Elas (ainda) não ficaram tão lindas quanto as de lá, mas o gosto... hummm, ficou ótimo!
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segunda-feira, 15 de abril de 2013
Para que serve um livro?
Confesso que tive dúvidas sobre este post, o segundo da série "Para que serve". Pensei em chamá-lo "Para que serve a literatura", ou "...a leitura", ou "...aprender a ler", até chegar a este mais "objético". Afinal, estamos falando da utilidade, certo?
Bom, além disso, o objeto livro abre um mundo de possibilidades funcionais. Alguém pode arremessar um livro (de preferência, grande e pesado) durante uma briga, um livro pode servir de peso de porta, enfeitar uma estante, ajudar a causar sensação quando se deseja dar pinta de intelectual...
Também ainda é, mesmo com todas as facilidades tecnológico-internéticas, um "lugar" que reúne as informações necessárias para quem vai prestar um concurso público, um exame vestibular. Ajuda a passar o tempo, instrui; em alguns casos mostra que não estamos sós, que há solução para nossos problemas e até que é possível atingir o sucesso seguindo alguns passos ou fórmulas.
Ainda por cima, pode ser o limiar para um outro mundo.
Outro mundo. Para mim, é para isso que serve um livro: adentrar uma outra dimensão. E assim recriar o real, saber de si, saber do outro. Claro, é difícil pensar que livros para concurso, didáticos, autoajuda e outros instrucionais sejam um passaporte para outra realidade. Mas penso na maioria dos livros que li na minha vida. Penso naqueles que me encantaram lá no início da minha carreira de leitora, aqueles que provavelmente eu leria com estranheza, até um certo pejo, hoje. Daí a importância da sensação trazida pela leitura - pois embora seja uma arte predominantemente intelectual, como desvinculá-la da emoção das descobertas de toda ordem?
Com um livro podemos ir a qualquer lugar, ser quem quisermos, amar e odiar sem sentir culpa. Descobrimos com estupefação que há alguém no mundo capaz de saber e exprimir exatamente o que sentimos, e normalmente com palavras a um só tempo muito elaboradas e precisas como um bisturi. Livros são objetos vivos, que pedem para serem lidos (alguns praticamente saltam das prateleiras!), como as personagens pirandellianas, mas cada um em seu tempo, ou no nosso melhor momento. Longe de nos manipular, o livro precisa de nós, do olhar pessoal que dará forma às suas personagens e paisagens, da nossa imaginação - afinal, sem ela, a história será apenas uma tela em branco num cinema vazio. Uma triste imagem da ausência de imagens.
Aliás, que triste é o mundo sem imagens e sem palavras, que triste é não ver e não poder fazer ver. Por isso é tão angustiante que haja tantos Fabianos para além da ficção. E por isso são tão enternecedoras as histórias de quem supera essa "cegueira" para o livro, a palavra, a leitura. Como, por exemplo, acontece no filme de Jean Becker de 2010, Minhas tardes com Marguerite. Embora haja quem enxergue nesse filme um traço paternalista no pior sentido (a senhora letrada que "ilumina" - e assim domestica - o rude trabalhador), eu identifico nessa história simples o mesmo alumbramento que me tomou quando comecei a ler. Sinto a mesma alegria da personagem de Gisèle Casadesus diante do "iletrado" Gérard Dépardieu quando testemunho a mágica que se opera na minha sobrinha ao desvendar o mistério das palavras repletas de imagens, ou a transformação em um aluno, que tem de repente o rosto todo iluminado: Eu entendo! Eu vejo!
Porque eu também vivi, e vivo, isso na pele. Ler me faz esquecer a forte miopia mais que o uso dos óculos, me faz colocar as limitações em perspectiva. Isso me faz pensar em como, embora o produto livro seja ainda tão caro no Brasil, pode ser democrático o seu papel, uma vez que seja apresentado a alguém! Dê um livro a uma criança, e uma ou outra dica de como "utilizá-lo", se necessário (e quase sempre será, mais por afeto e apoio moral que por outra razão) acompanhe as primeiras leituras, e depois corra para não ser esmagado por um universo em expansão, fenômeno que mais cedo ou mais tarde VAI acontecer.
Não mencionei nem um décimo das ditas consequências livrescas. De qualquer modo, seja para ouvir confissões, aconselhar, seja para teletransportar, fazer enxergar, para o uso que se quiser fazer dele - o fato é que depois de um livro ninguém pode continuar sendo o mesmo.
Bom, além disso, o objeto livro abre um mundo de possibilidades funcionais. Alguém pode arremessar um livro (de preferência, grande e pesado) durante uma briga, um livro pode servir de peso de porta, enfeitar uma estante, ajudar a causar sensação quando se deseja dar pinta de intelectual...
Também ainda é, mesmo com todas as facilidades tecnológico-internéticas, um "lugar" que reúne as informações necessárias para quem vai prestar um concurso público, um exame vestibular. Ajuda a passar o tempo, instrui; em alguns casos mostra que não estamos sós, que há solução para nossos problemas e até que é possível atingir o sucesso seguindo alguns passos ou fórmulas.
Ainda por cima, pode ser o limiar para um outro mundo.
Outro mundo. Para mim, é para isso que serve um livro: adentrar uma outra dimensão. E assim recriar o real, saber de si, saber do outro. Claro, é difícil pensar que livros para concurso, didáticos, autoajuda e outros instrucionais sejam um passaporte para outra realidade. Mas penso na maioria dos livros que li na minha vida. Penso naqueles que me encantaram lá no início da minha carreira de leitora, aqueles que provavelmente eu leria com estranheza, até um certo pejo, hoje. Daí a importância da sensação trazida pela leitura - pois embora seja uma arte predominantemente intelectual, como desvinculá-la da emoção das descobertas de toda ordem?
Com um livro podemos ir a qualquer lugar, ser quem quisermos, amar e odiar sem sentir culpa. Descobrimos com estupefação que há alguém no mundo capaz de saber e exprimir exatamente o que sentimos, e normalmente com palavras a um só tempo muito elaboradas e precisas como um bisturi. Livros são objetos vivos, que pedem para serem lidos (alguns praticamente saltam das prateleiras!), como as personagens pirandellianas, mas cada um em seu tempo, ou no nosso melhor momento. Longe de nos manipular, o livro precisa de nós, do olhar pessoal que dará forma às suas personagens e paisagens, da nossa imaginação - afinal, sem ela, a história será apenas uma tela em branco num cinema vazio. Uma triste imagem da ausência de imagens.
Aliás, que triste é o mundo sem imagens e sem palavras, que triste é não ver e não poder fazer ver. Por isso é tão angustiante que haja tantos Fabianos para além da ficção. E por isso são tão enternecedoras as histórias de quem supera essa "cegueira" para o livro, a palavra, a leitura. Como, por exemplo, acontece no filme de Jean Becker de 2010, Minhas tardes com Marguerite. Embora haja quem enxergue nesse filme um traço paternalista no pior sentido (a senhora letrada que "ilumina" - e assim domestica - o rude trabalhador), eu identifico nessa história simples o mesmo alumbramento que me tomou quando comecei a ler. Sinto a mesma alegria da personagem de Gisèle Casadesus diante do "iletrado" Gérard Dépardieu quando testemunho a mágica que se opera na minha sobrinha ao desvendar o mistério das palavras repletas de imagens, ou a transformação em um aluno, que tem de repente o rosto todo iluminado: Eu entendo! Eu vejo!
Porque eu também vivi, e vivo, isso na pele. Ler me faz esquecer a forte miopia mais que o uso dos óculos, me faz colocar as limitações em perspectiva. Isso me faz pensar em como, embora o produto livro seja ainda tão caro no Brasil, pode ser democrático o seu papel, uma vez que seja apresentado a alguém! Dê um livro a uma criança, e uma ou outra dica de como "utilizá-lo", se necessário (e quase sempre será, mais por afeto e apoio moral que por outra razão) acompanhe as primeiras leituras, e depois corra para não ser esmagado por um universo em expansão, fenômeno que mais cedo ou mais tarde VAI acontecer.
Não mencionei nem um décimo das ditas consequências livrescas. De qualquer modo, seja para ouvir confissões, aconselhar, seja para teletransportar, fazer enxergar, para o uso que se quiser fazer dele - o fato é que depois de um livro ninguém pode continuar sendo o mesmo.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Para que serve uma pessoa?
Este post inaugura uma curta série, "Para que serve", inspirada no utilitarismo de nossos tempos.
Também eu tenho sido forçada a pensar na utilidade das pessoas, não no sentido do que elas podem fazer de útil, mas no de elas terem ou não alguma utilidade, como um guarda-chuva ou uma garrafa térmica (dois objetos que me ocorrem num dia que começou frio e chuvoso). Penso nisso especialmente quando vejo como a nenhuma importância de um número crescente de pessoas faz que sejam descartadas enquanto dormem ao relento ou esperam um ônibus ou entram em uma loja de conveniência ou saem de um banco com o dinheiro da aposentadoria. Ou quando vejo filhos tratando seus pais como roupas velhas, esquecidas no fundo do armário ou fazendo as vezes do pano de chão, sendo tratados como menos que empregados, pois sua obrigação com a prole é eterna mesmo quando não têm mais forças para tanto. Ou pais marcando para sempre a alma dos filhos com palavras duras e impensadas. Ou parceiros se digladiando às cegas. Assim como em algum momento o guarda-chuva e a garrafa térmica se tornam pouco necessários (o sol surge, a chuva passa, e ninguém mais quer uma bebida quentinha), parece também que as pessoas deixam de ter alguma utilidade e por isso não são mais sequer vistas. E daí o descaso, o abandono, a intolerância e a consequente violência, que quase não espantam mais.
Talvez por tudo isso sejam tão tocantes e urgentes filmes como Amour (Michael Haneke, 2012) e Hanami - Cerejeiras em flor (Doris Dörrie, 2008). Ambos tratam da vida de casais maduros, filhos criados e todo tempo que lhes resta para... ficar por sua própria conta. Na minha opinião, o mais bonito nesses filmes é a verdade dos relacionamentos - são difíceis em todas as instâncias, mostrando como cada pessoa é um planeta solitário, o último falante de uma língua em extinção. E mesmo assim, com toda dificuldade, com toda fugacidade da vida, há um esforço contínuo de compreensão, ou pelo menos de comunicação, até os limites de cada um. Até o fim (do fillme, da vida, dos relacionamentos) aprende-se algo. E percebe-se que o tempo todo se esteve em aprendizado, desde que mente e coração não estivessem trancados para isso.
O metódico marido que se constrangia ao ver a esposa dançando butô mergulha depois na exótica cultura oriental, aos pés do Fuji, para que a lembrança da companheira se entranhe em sua pele. Aliás, o casal plenamente misturado na dança garante as cenas mais belas de Hanami.
Já os protagonistas de Amour são mais francesa e docemente secos, mas igualmente humanos e falhos. Sabem o tempo todo para onde caminham, e seguem sua trajetória de solidões acompanhadas, perdendo-se um do outro quando (e somente quando) a comunicação não é mais possível.
Com seu quinhão de melancolia, esses dois filmes, porém, acabaram soando para mim como um manifesto lírico contra o utilitarismo, uma bandeira de esperança. Que as pessoas não signifiquem nada umas para as outras, que não sirvam para nada neste mundo que cobra uma utilidade para tudo, é de se esperar. Mas que ainda haja histórias refletindo a escolha consciente de estar junto, amar, conversar, cuidar, CONVIVER (mesmo sabendo da inevitabilidade do fim de todas as coisas e de todos nós) feita por pessoas comuns, isso sim é uma coisa alegremente espantosa.
Também eu tenho sido forçada a pensar na utilidade das pessoas, não no sentido do que elas podem fazer de útil, mas no de elas terem ou não alguma utilidade, como um guarda-chuva ou uma garrafa térmica (dois objetos que me ocorrem num dia que começou frio e chuvoso). Penso nisso especialmente quando vejo como a nenhuma importância de um número crescente de pessoas faz que sejam descartadas enquanto dormem ao relento ou esperam um ônibus ou entram em uma loja de conveniência ou saem de um banco com o dinheiro da aposentadoria. Ou quando vejo filhos tratando seus pais como roupas velhas, esquecidas no fundo do armário ou fazendo as vezes do pano de chão, sendo tratados como menos que empregados, pois sua obrigação com a prole é eterna mesmo quando não têm mais forças para tanto. Ou pais marcando para sempre a alma dos filhos com palavras duras e impensadas. Ou parceiros se digladiando às cegas. Assim como em algum momento o guarda-chuva e a garrafa térmica se tornam pouco necessários (o sol surge, a chuva passa, e ninguém mais quer uma bebida quentinha), parece também que as pessoas deixam de ter alguma utilidade e por isso não são mais sequer vistas. E daí o descaso, o abandono, a intolerância e a consequente violência, que quase não espantam mais.
Talvez por tudo isso sejam tão tocantes e urgentes filmes como Amour (Michael Haneke, 2012) e Hanami - Cerejeiras em flor (Doris Dörrie, 2008). Ambos tratam da vida de casais maduros, filhos criados e todo tempo que lhes resta para... ficar por sua própria conta. Na minha opinião, o mais bonito nesses filmes é a verdade dos relacionamentos - são difíceis em todas as instâncias, mostrando como cada pessoa é um planeta solitário, o último falante de uma língua em extinção. E mesmo assim, com toda dificuldade, com toda fugacidade da vida, há um esforço contínuo de compreensão, ou pelo menos de comunicação, até os limites de cada um. Até o fim (do fillme, da vida, dos relacionamentos) aprende-se algo. E percebe-se que o tempo todo se esteve em aprendizado, desde que mente e coração não estivessem trancados para isso.
O metódico marido que se constrangia ao ver a esposa dançando butô mergulha depois na exótica cultura oriental, aos pés do Fuji, para que a lembrança da companheira se entranhe em sua pele. Aliás, o casal plenamente misturado na dança garante as cenas mais belas de Hanami.
Já os protagonistas de Amour são mais francesa e docemente secos, mas igualmente humanos e falhos. Sabem o tempo todo para onde caminham, e seguem sua trajetória de solidões acompanhadas, perdendo-se um do outro quando (e somente quando) a comunicação não é mais possível.
Com seu quinhão de melancolia, esses dois filmes, porém, acabaram soando para mim como um manifesto lírico contra o utilitarismo, uma bandeira de esperança. Que as pessoas não signifiquem nada umas para as outras, que não sirvam para nada neste mundo que cobra uma utilidade para tudo, é de se esperar. Mas que ainda haja histórias refletindo a escolha consciente de estar junto, amar, conversar, cuidar, CONVIVER (mesmo sabendo da inevitabilidade do fim de todas as coisas e de todos nós) feita por pessoas comuns, isso sim é uma coisa alegremente espantosa.
terça-feira, 2 de abril de 2013
Um chá com Covas?
Então! Mais uma vez algum político tem a brilhante ideia de propor a mudança de nome de um local histórico para o nome de um outro político já desencarnado. Agora é a vez do Viaduto do Chá, um símbolo da São Paulo cafeeira, que corre o grande risco de passar a se chamar... Viaduto Prefeito Mário Covas!
O argumento dos vereadores proponentes (e 45 de 55 votaram a favor) é fazer que os paulistanos se lembrem do grande prefeito que Covas foi. Mas por que então não inauguram uma nova biblioteca ou uma nova escola homônima? De preferência, funcionando a contento, com equipamento adequado e pessoal qualificado.
Mas não - é mais fácil bulir com o já existente para fazer bonito. Investimento quase zero, exceção feita à placa reinaugurativa. À guisa de fazer lembrar o homem, fazem esquecer a história do lugar.
Aliás, o desejo de esquecer é a tônica em nossas paragens, não? Basta ver quanto tempo demorou para começarem a abrir os arquivos do Deops...
O argumento dos vereadores proponentes (e 45 de 55 votaram a favor) é fazer que os paulistanos se lembrem do grande prefeito que Covas foi. Mas por que então não inauguram uma nova biblioteca ou uma nova escola homônima? De preferência, funcionando a contento, com equipamento adequado e pessoal qualificado.
Mas não - é mais fácil bulir com o já existente para fazer bonito. Investimento quase zero, exceção feita à placa reinaugurativa. À guisa de fazer lembrar o homem, fazem esquecer a história do lugar.
Aliás, o desejo de esquecer é a tônica em nossas paragens, não? Basta ver quanto tempo demorou para começarem a abrir os arquivos do Deops...
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- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
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- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla