domingo, 15 de dezembro de 2013

Imaginar ou se escaldar

Quando agora me assalta o temor diante do novo, penso nas escolhas que tenho que fazer. No caso atual, não tenho muita escolha: é ir em frente ou ficar parada, a ver navios. Melhor então tomar "aquele velho navio", depois de descer as ruas todas.
Nunca me assustei muito com fazer o que deve ser feito. Mas agora parece que é algo muito grandioso. Por quê? Já me mudei antes, já desamei antes, já abri mão. Não sei, é algo que cheira a grande salto, como um que nunca dei. Mesmo quando fiz coisas que pareciam muito ousadas para os outros (largar emprego quando não tinha outro em vista, começar de novo, mudar de paradigma, ir aprender algo que não tinha nenhuma relação com o momento presente, me jogar numa viagem), elas me pareciam bem normais, o caminho claro a seguir. 
Agora tem o novo logo ali na esquina, e não sei o que há atrás dele. Não quer dizer que não seja melhor do que o que tenho agora. E afinal o que tenho agora não é nada, é coisa inerte, que não dá mais frutos. Talvez eu ainda me sinta sem fôlego, depois de tanta energia longamente dispendida (e estou me sentindo inclusive fisicamente assim, extenuada). E ao mesmo tempo, como li na coluna do Eugenio Mussak, na revista Vida Simples:

Imagine, e você se arrisca a conseguir. Não imagine, conforme-se, e você estará condenado à mesmice. Imagine e organize-se para tornar a imaginação realidade, e algumas coisas fantásticas começarão a acontecer.

Sinto que as ideias que eu prego estão me colocando à prova. Vivo dizendo que o primeiro passo para o sonho se realizar é imaginar, planejar, colocar na ordem do dia. Ou então parafraseio um amigo que fala dos 50% de não que já temos garantidos na vida - por que então não arriscar o sim? Agora estou vivendo a prova dos nove, torcendo para que seja a alegria.
Suspeito que esse súbito temor vem não só porque me escaldei um pouco mais, mas porque agora tenho mais consciência do escaldamento. No entanto, o movimento da vida de que fala Mussak é naturalmente oposto à inércia. Ou seja, um gato escaldado não deve ficar no mesmo lugar, ou corre no mínimo o risco de novo escaldamento, mesmo inerte. Claro que é difícil que ele se mantenha apenas esperto, e não também traumatizado, ressabiado, receoso das mãos que o tentam tocar lá na outra esquina.
E daí creio que vem o passo seguinte, depois da consciência: sabedoria. Será uma quimera, ela também?

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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