quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Bater de asas

Acho que ando com fixação por aves e seres alados.
Depois de ler outro texto lindo da Si Adami, uma continuação dada ao poema de Manuel Bandeira "Namorados" (que ela traz de jeito doce-irônico para o "mundo real"), fiz essa Morpho menelaus para a série de desenhos instantâneos. E então me lembrei de como fiquei fascinada por essa borboleta quando a vi num atlas de flora e fauna brasileiras, e como fiquei "estupidificada" diante de sua aparição ao vivo, num parque, anos depois. Grande, brilhante. Azul.
A primeira vez que ouvi falar nela foi no livro de Lúcia Machado de Almeida, O caso da borboleta Atíria, da série Vaga-Lume. Foi quando comecei a colecionar borboletas a esmo, caçando as que voejavam pelo "jardim" do prédio e aprisionando-as numa caixa de papelão. Meu avô me prometia comprar o equipamento para colecioná-las corretamente, mas isso nunca aconteceu.
Por pressão da mulherada do prédio, tive de soltar as sobreviventes (a essas alturas, todas as crianças do prédio estavam me ajudando na captura das pobres criaturas aladas). Não pensava na época que estava fazendo uma maldade - aos 9 anos, era eu quem estava aprisionada em sua beleza voejante. Agora, no meio da vida, descobri que, numa de suas representações, Psique tem um pequeno par de asas de borboleta.
E aqui um trecho do belo texto tipicamente simoniano:

Foi só então que Antônia se deu conta de que ganhara um belo par de asas azuis, que nunca haviam sido usadas. O tempo, que tantos e irreparáveis estragos causa, às vezes nos presenteia com inesperadas metamorfoses. E ela se deu conta, também, de que não precisava ficar ali parada, esperando que as coisas voltassem a ser como eram antes: ela podia voar. E voou.

De lá de cima, no espaço infinito do céu azul, avistou Manuel, cabisbaixo. Ainda acenou um adeusinho, mas ele não viu. Estava ocupado demais pra ver, procurando no rés do chão outras lagartas listradas para admirar.

E Antônia voou, e voou, e voou. Ganhou o mundo, com suas novas asas.
Antônia, a ex-lagarta.

Que vontade de voar!

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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