Foi em uma escola pública, na quarta série, que conheci minha amiga Tomie, que faz parte da minha vida de uma forma ou de outra desde então, mesmo com separações esporádicas.
Na oitava série, resolvemos organizar, com uma turma para lá de animada, nossa formatura com direito a colação de grau e baile. Nunca havia acontecido isso na escola do bairro - quando muito, ao fim do curso, era entregue um diploma simbólico no pátio mesmo da escola. Nós queríamos mais, queríamos festejar nossa vitória, celebrar a vida e a amizade. E então, de forma muito simples e natural, começamos a arrecadar dinheiro por conta própria, inventando atividades entre nós, de modo tão entusiasmado e crescente que a diretora da escola resolveu nos apoiar cedendo a estrutura do prédio para organizarmos gincanas e festas. Lembro de ter pintado correios-elegantes a mão, de ter ido pedir prendas pelo bairro, de ter criado com os colegas dias específicos para usar tal roupa ou acessório - quem não o fizesse pagava uma pequena multa. E lembro, principalmente, do envolvimento e da alegria de todos.
Os pais da Tomie nos ajudaram quando, de posse do dinheiro acumulado até então, não tínhamos onde guardá-lo. Foi aberta uma conta bancária para administrar os gastos com aluguel de um clube, contratação de bufê e banda. Se não me engano, teve ônibus fretado para levar o pessoal ao baile. Teve até fotógrafo profissional - um tio da Tomie. Eu cheguei a desenhar o meu vestido, que foi feito na rua São Caetano, um luxo para mim àquela época - lembro do meu avô emocionado ao me ver vestida a caráter para comemorar minha vitória juvenil.
Hoje minha amiga velha de guerra me enviou as fotos escaneadas. Eu e minhas expressões exageradas de sempre (hoje gosto muito delas), as amigas caprichando nos modelitos, os rapazes, tão jovens. No nosso semblante, a alegria da vitória, tão óbvia para nossos jovens corações. Tudo parecia tão simples, em nenhum momento pensamos em não realizar nossa festa. Carregamos conosco até quem não conseguiu colaborar financeiramente durante o ano.
Talvez não pareça grande coisa, um bando de adolescentes da periferia de uma grande cidade se organizar para fazer uma festa em um clube simples da região central. Mas toda vez que quero me lembrar como é ter confiança em si e em quem está ao seu lado me lembro desse episódio. Houve outros momentos assim na minha vida, mas esse foi o primeiro deles, e pleno de uma coragem juvenil ainda não conspurcada por quedas e decepções. Tínhamos essa inocência de quem ainda não foi "escaldado" e que tinha simplesmente o mundo inteiro à sua frente. Tínhamos apenas 13, 14 anos.
Olhando para esse passado alegre, vejo como ele pavimentou o caminho de coragem, que às vezes vacila, mas está sempre lá. E quase acredito que Milton compôs isso para nós:
"Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração
Juventude e fé"
Tomie, obrigada por me fazer lembrar.
Beijos por ter lembrado, e ainda teve duas bandas cada uma tocando duas horas, e com o dinheiro que sobrou a escola foi cercada com grades.
ResponderExcluirÉ verdade! Duas bandas! :D
ExcluirFoi um feito e tanto, e sou feliz por ter participado dele. beijos!
Boas lembranças com sabor de inocência e coragem, dois ingredientes poderosos pra inaugurar um caminho de vida! Vejo as fotos dessa menina vibrante, cheia de vida e reconheço a mesma mulher corajosa e brilhante que tenho a alegria de ser amiga! Beijos!
ResponderExcluirObrigada, Tamis! Ser sua amiga aumenta minha alegria! beijos, querida!
ExcluirQue linda história, Sol!
ResponderExcluirQue a energia da realização continue acompanhando você e seus amigos e arrebatando-os sempre, mesmo quando não for necessário lembrar que a vida é uma dádiva a ser sempre celebrada.
Beijos,
Marisa
Má, essa história sempre me alegra e emociona - foi muito bom ter lembrado dela, e por isso quis compartilhá-la. Para mim, ela serve para tomar consciência dessa energia de realização de que você fala, valorizando-a todo dia. :)
Excluirbeijos!
O melhor da vida, as lembranças do que se VIVEU e com quem. Lendo as suas memórias, lembrei-me das minhas. Ah, um dia eu conto!
ResponderExcluirWagner
Conta, Wagninho! Vai ser uma delícia ler ou ouvir. ;)
Excluirbeijos!