sexta-feira, 13 de março de 2020

Para que serve o feminismo

"Isso é falta de homem" é uma frase que ouvi mais de uma vez na vida. Uma das vezes, foi dita por um cobrador de ônibus com quem discuti porque apoiei os pés na estrutura de ferro sob seu banco. Uma outra, foi meu ex-cunhado, que avançou sobre mim para "defender" minha irmã em uma discussão corriqueira entre nós duas - o mesmo cunhado que, após avançar também sobre meu irmão, agrediria minha irmã e que manteria contato com uma ex enquanto era casado. Seriam ele e o cobrador exemplos do homem que me faltava?
Outro dia foi dia da mulher, e eu repostei uma imagem que lembrava duas turistas brasileiras que foram assassinadas durante uma viagem. A mensagem dizia respeito ao direito das mulheres de viajarem sozinhas (= sem homens) em paz. Logo veio um amigo questionar o feminismo "de hoje", que prega o ódio das mulheres aos homens, afe. 
Se eu achasse que vale a pena, teria dito a ele uma ou duas palavras sobre o feminismo. Mas ele, no fundo, não quer saber. Invadiu uma postagem que fala de outra coisa - feminicídio - para dizer o que ELE, ómi conservador, acha do feminismo. Ainda teve a audácia de dizer como deveria ser o post, que "o certo seria". Gente! 
Como ele, muita gente não quer mesmo saber que o feminismo prega a igualdade de direitos entre homens e mulheres, e não a prevalência de umas sobre os outros. Direito de ir e vir em segurança, direito a equiparação de salários, direito a fazer o que quiser do próprio corpo, direito a fazer outra coisa da vida que não seja ser mãe e dona de casa. 
Há mulheres que querem botar fogo no parquinho? Há. Há mulheres que não querem mais saber de homem? Ô se há! Mas o fato é que mulheres normalmente não estão interessadas em guerra, violência gratuita, competição desenfreada. Não querem violentar outras pessoas para mostrar seu poder. 
"Ah, e se fossem elas que estivessem no poder? Não fariam as mesmas coisas?" Pois é - vou repetir: feminismo não é querer tomar o poder. É dividir o poder. É poder fazer junto para fazer melhor. O que não quer dizer que nós, mulheres, vamos ficar esperando os ómi aceitarem a ideia e mudarem por conta própria. É preciso ação, é preciso fazer barulho sim. Nisso, nas ações, é que está a radicalidade  (e não radicalismo) do movimento. 
Ai, será que ficou mais claro? Posso fazer mais desenhos.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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