Das menores às maiores surpresas. Das comezinhas às ontológicas. Ando estupefata (ou estupefacta, que tem uma carga dramática adicional), mais que nunca.
Nos últimos dias, descobri, indo a uma ótica perto de casa, que meus óculos, pelos quais paguei muito caro há dois anos, não são multifocais. A optometrista constatou isso só de movimentá-los para lá e para cá. Ainda maior o preço pago pelos óculos "normais", para miopia apenas, em comparação ao orçamento da pequena ótica de vila, que cobra menos de um terço pelas tais lentes do tipo freeform (a marca, não sei). Fiquei muito chocada com o contraste e me senti um tanto otária.
Também descobri, no salão de cabeleireiro local, onde Guga foi duas vezes, que meu cabelo estava tortíssimo, desde novembro de 2020. O cabeleireiro não tinha espelho avulso, então tirou uma foto com o celular e me mostrou - mais um choque! O lado direito estava muito, muito maior que o esquerdo. E de repente me lembrei do cabeleireiro no salão todo arrumado de Salvador - no finalzinho, ele inventou de fazer uns repicados artísticos, e aí deve ter-se dado a merda. Para aumentar o choque, novo contraste: corte de salão local por 31 reais versus corte salão do shopping por 200 reais.
Outro motivo de espanto: fiz uma publicação simples no Facebook, comentando que não me lembrava de como Highlander era um filme tosco. Foi o suficiente para aparecer um defensor da película, um colega de Bienal, ufólogo, que vive postando sobre suas superações na vida. Longe de mim desmerecer as batalhas alheias, mas achei um tanto irritante que ele, que outro dia se doía por uma "carteirada" acadêmica que levou de alguém, tenha vindo ao meu post, do nada, para trazer informações retiradas da Wikipédia (sim, sim) como argumento de defesa do filme em questão. Que ele era historiador, especialista em cinema, que já assistiu 6 mil filmes, que o filme tosco na verdade era kitsch, que não era bom usar o termo "tosco", porque assim parecia que o filme era ruim, o que não era verdade, tudo era muito pensado e só quem tinha mais profundidade no assunto podia perceber isso. Ou seja, um falso modesto biscoiteiro querendo aparecer de forma tosca e com argumentos pífios. Acabou que um amigo comum, também da Bienal, mas alguém mais próximo a mim, veio participar da conversa, trazendo O nome da rosa (que o outro disse ter assistido umas 30 vezes, meodeos), e acabou concordando com nosso colega ufólogo que eu não tinha razão, que Highlander é ótimo, porque as luzes neon e tal. Mesmo uma amiga que concordou com a tosquice do filme foi questionada, porque, afinal, temos que zelar pela arte. Pensei em ser mal-educada, mas me contive. Porque, afinal, isso dá pano pra manga de outro post, sobre o sentido da arte, de que já falei aqui, mas que abre outra frente - o da importância da experiência individual diante da obra. A minha experiência, na conversa maluca no Facebook, por exemplo, foi totalmente desconsiderada. (Curiosamente, por dois homens. E aí me lembrei do outro "amigo" de FB que entrou no meu post só pra "discordar" da forma como chamei um prato. É muita petulância, por coincidência ou não, desses homens.)
Por fim, os espantos diários diante do desgoverno e de seus abduzidos asseclas que têm comparecido à CPI, como Nise Yamaguchi, que insiste no uso de medicamentos ineficazes, nega sua parceria com o Bozo e, por fim, foi pega no pulo pelo ótimo Alessandro Vieira, senador do Piauí, um dos poucos a fazer a lição de casa, mais preocupado em obter informações do que em falar do púlpito.
Eu quase que não consigo mais trazer o queixo de volta nestes dias.