terça-feira, 21 de março de 2023

Arancini delícia feito do risoto cacio e pepe

Fazia muito, muito tempo que eu não fazia risoto. 
Quando comecei a fazer, há mais de dez anos, preparava uma quantidade grande - maior que nossa fome - e acabávamos comendo demais. E a constância era grande também, e assim fiz risoto com tudo que é ingrediente. Depois enjoeei, Gustavo já não queria mais comer carboidratos, e nunca mais fiz até o último final de semana, quando preparei o cacio e pepe para aproveitar os divinos queijos de cabra que comprei no Capril R.A.
Como estava todo esse tempo sem fazer, exagerei nas medidas e sobrou muito risoto. Só que risoto no dia seguinte não funciona, então fiquei pensando o que poderia criar com ele. Aventei até a possibilidade de comê-lo como arroz doce, imagine. Joguei no Google "aproveitar risoto" e logo santa Rita Lobo me respondeu com "bolinho de risoto (arancini)".
Eu não sabia que arancini era sempre feito com risoto. Comi uma vez um delicioso no interior de SP, na companhia de Li e Luís, num restaurante de um italiano da gema (aliás, lá comi o melhor tiramisù da vida, até aprender a fazer o meu, modéstia às favas). Acabei seguindo um pouco a receita de arancini do Panelinha com dicas blog Fritadeira sem Óleo. Fiz bolinhas de risoto, coloquei dentro um cubinho de requeijão caprino, passei no ovo batido e em seguida na farinha de rosca. Daí coloquei no congelador até a hora de preparar.
Preaqueci a airfryer, pincelei as bolinhas com azeite e deixei 10 minutos a 200 graus. O arancini ficou parecendo bolinho de boteco bom, perfeitinho. Melhor ainda que o risoto, diga-se de passagem.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Pizza de requeijão de cabra, pera, mel e rúcula + risoto cacio e pepe

Consegui, enfim, esgotar os queijos comprados no Capril R.A. Finalizei com a pizza de requeijão de cabra, pera, mel e rúcula num dia e o risoto cacio e pepe, feito com o caprino romano, no outro.
A pizza, me parece que precisa de mais queijo para fazer diferença. No caso do risoto, fazia muito tempo que eu não preparava, e tive imensa preguiça de começar horas antes para fazer molho de queijo e deixá-lo separando em fases na geladeira, então fui cozinhando o arroz na água (não fiz caldo, tampouco) para então acrescentar os pedacinhos de queijo, pimenta moída na hora e uma ou outra folhinha de salsa. Pizza e risoto ficaram bem bons, mas não são algo que eu repetiria em breve, em comparação com outras receitas recentes. Mas a experiência com os queijos do Capril R.A. segue sendo algo a se destacar, e a repetir logo, logo.

quinta-feira, 16 de março de 2023

Salada de rúcula, feta, shitake, mandioquinha, beterraba e amêndoas

Já tinha subvertido essa receita do Spot aqui em casa, usando ricota temperada e boleada no lugar do queijo de cabra. Mas, agora, de posse de um feta divino do Capril R.A., não poderia não experimentar repetir a receita, agora comme il faut. Dessa vez, em vez de cozinhar, assei beterraba e mandioquinha, passei os shitakes inteiros na manteiga, com um pouco de sal de pimenta, salteei amêndoas no azeite com um pouco de sal. 
O único porém é que é preciso mesmo deixar esfriar tudo (legumes, cogumelos, amêndoas) antes de incorporar às folhas de rúcula, para que estas não murchem. No mais, ficou uma delícia, temperado com molho de mostarda Dijon, azeite e mel. 

Bifum à carbonara com queijo caprino romano do Capril R.A.

Quando vi o tal caprino romano, irmão do pecorino, entre os queijos vendidos no Capril R.A., me veio logo à cabeça fazer uma pasta à carbonara com ele. Mas, como não tenho consumido muito macarrão, só integral ou bifum, só me restava o bifum, massa longa, para fazer a experiência. 
Fiz a receita como faria com uma massa à base de trigo, ou de ovos, ou de grano duro, só lembrando que o macarrão de arroz cozinha muito mais rápido. Então bati primeiro 1 ovo e 1 gema com o queijo já ralado, fritei os pedacinhos de bacon e só então cozinhei o bifum. Dali foi só misturá-lo pronto ao bacon e ao creme de ovos e queijo. 
Para a foto, só faltaram umas lascas grossas de queijo caprino romano, mas ficou muito bom.

terça-feira, 14 de março de 2023

Capril R.A.: Lar de cabras fofas e de queijos maravilhosos em Mata de São João

Fomos com Jô e Eduardo visitar o capril que fica em Mata de São João, perto do meliponário que conhecemos no ano passado. Aliás, o litoral norte é cheio de surpresas boas, todas ligadas à natureza. Ainda iremos fazer observação de pássaros, por aquelas bandas também.
Apesar da falta de placas no caminho, encontramos o lugar depois de perguntar a um grupo de moradores. No local, havia uma única placa, já na entrada, mas logo rolou a dúvida: havia uma igreja batista no lugar. Onde ficava, então, o capril?
Logo apareceu um senhor de chapéu, camiseta, bermuda e chinelos para nos acompanhar. Soubemos que, além de pai do dono do capril (Rivelino), ele é pastor da igreja mencionada. As cabras estavam num espaço coberto logo atrás da igreja. 
O lugar é muito simples, e embora eu já tivesse provado um queijo coalho ótimo produzido ali e trazido por Carol na última visita que nos fez, me preparei para algo igualmente simples na hora da degustação, que aconteceu depois da explanação do nosso guia pastor, que apresentou todas as cabras presentes, cerca de 20, destacando-se a veterana cabra Mariana, de uns 6 anos (idade em que elas passam a ser menos produtivas), que fotografei com Jô, e uma cabrinha topetudíssima e fofa na última baia. 
Passamos então para a degustação, conduzida pela esposa do mestre queijeiro, a dentista Juliete, que sabe tudo sobre os queijos e é muito simpática, como todos da família, inclusive o filhinho louco por brie. Provamos coalho comum, coalho com ervas, brie, boursin, boursin com ervas, requeijão, caprino romano (um irmão do pecorino), feta e ambrosia. Meodeos, que coisas deliciosas! 
O mais impressionante na oferta dos produtos é a alta qualidade, a elegância de tipos que Rivelino escolheu produzir e dos sabores que ele obteve. Não ficam a dever a nenhum queijo gringo. O feta e o boursin são verdadeiras iguarias, como também o pirâmide, que não trouxe desta vez (trouxe requeijão, caprino, feta e ambrosia, tudo com objetivos culinários bem claros). 
Só faltava nesse passeio uma conversa sobre a produção propriamente dita, e aí seria mais do que perfeito. Mas, embora curta, foi uma experiência ótima - e já soubemos que ele faz entregas por aqui, que maravilha!

terça-feira, 7 de março de 2023

O maravilhamento do aprendizado

Aproveito essa imagem da marca Aragäna, que conheci outro dia, para falar do meu maravilhamento com o fato de poder andar de bicicleta. Eu nem me lembro como aprendi, mas certamente foi junto com meus irmãos, revezando o uso das duas bikes, observando como eles faziam, provavelmente sendo ajudada por eles na primeira pedalada. Quando hoje pedalo, volta e meia sou tomada pela epifania do movimento milagroso que é ficar sobre as duas rodas, deslizando, o vento no rosto, uma liberdade imensa de ir aonde quiser. 
Mesma coisa sinto quando penso na magia que é saber ler, saber escrever. Quando aprendi? Não me lembro. Mas que coisa maravilhosa é poder juntar letras e palavras e assim formar imagens, conseguir se expressar, poder defender suas ideias! Uma das coisas mais tristes que existem, na minha opinião, é alguém ter suas possibilidades de mundo roubadas por não ter direito à alfabetização. Por isso, choro sempre diante de Fabiano, de Vidas secas, em seu embate com o Soldado Amarelo, com o patrão que lhe rouba o salário. Por isso, me importa tanto que todos tenham acesso à educação de qualidade, para que possam acessar a mágica do conhecimento, do mundo e de si. 

domingo, 5 de março de 2023

"Ah, se eu pudesse"

Na semana passada, assisti ao longo longa Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, com os ótimos Michelle Yeoh (O tigre e o dragão, Chang-shi e a lenda dos dez anéis, Memórias de uma gueixa, Podres de ricos) e Ke Huy Quan (Goonies e Indiana Jones e o Templo da Perdição) - aliás, foi a volta triunfal do ator, afastado há anos do cinema e agora vencedor do Globo de Ouro e do SAG Awards e indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante. 
O filme tem incríveis sequências de luta, efeitos especiais e figurinos e ótima direção, embora pudesse ser realmente menos longo. De qualquer modo, além da representatividade oriental necessária, o que me chamou a atenção no filme foi a temática do "e se eu pudesse voltar atrás", algo que não deixa nunca de figurar em algum filme ou livro mas tem sido mais reincidente na atualidade, especialmente com o fortalecimento da teoria dos universos paralelos. Já vimos isso em Interestelar, e mais atrás, em outra medida, em Feitiço do tempo, além de uma infinidade de outros títulos menos ovacionados. 
Outro dia, ainda, li o livro de ganhei de minha amiga-Thelma-secreta Kate, A biblioteca da meia-noite, de Matt Haig, um título que me chamou a atenção (amo livros sobre livros, filmes sobre livros) em alguma livraria e por isso escolhi como presente. A protagonista desiste, aos 30 e poucos anos (cedíssimo), de sua vida sem sentido e resolve dar cabo dela. Acaba despertando numa estranha biblioteca dirigida por uma bibliotecária que ela conheceu no passado e que oferece à jovem a chance de escolher um livro com um diferente enredo para sua história. Embora bastante teen no início, o romance vai ganhando força a cada vida experimentada (ela tem uma biblioteca inteira à disposição, lembram?), e a constatação a que a jovem chega (spoiler) é que a melhor vida é aquela da qual ela queria desistir, porque, como diz o sempre preciso Gil, "o melhor lugar do mundo é aqui e agora". 
Eu não chego a ter arrependimentos que me levem a esse tipo de questão - como seria se eu tivesse feito outra escolha? - até porque no fundo me pauto numa fala do eterno mestre Nicolau Sevcenko, a de que a história é fato, o "se" é ficção, literatura. Mas é claro que, ciente de tantas possibilidades na vida quantos são os meus interesses, eu sinto falta do que fica de fora - e que não necessariamente deveria - quando escolho algo. Para ser mais exata, fico me perguntando se preciso mesmo abrir mão de algumas coisas porque escolhi determinado estilo de vida. 
Enquanto algumas coisas são dadas pelas circunstâncias (por exemplo, estar longe de um grande centro urbano), outras derivam de um certo tipo de comodismo (achar que a vida a dois restringe viajar, fazer cursos, dar aula). A estas é que devemos prestar atenção, sobretudo no caso de nós, mulheres. Muitas vezes nos acomodamos por força da cultura patriarcal que nos ronda, mas cada vez menos nos amedronta. A personagem de Michelle Yeoh é emblemática: uma mulher tentando dar conta de tudo e que não realiza suas reais possibilidades, e que descobre, à beira do colapso, que pode dizer não, fazer ajustes, mudar, retomar o caminho, retomar seu tamanho.  
Embora pareçam vidas diferentes, como no livro de Haig, todas se encontram num mesmo ponto, o da essencialidade do ser, o que nos faz sermos únicas e únicos, com todas as possibilidades que carregamos em nós. Não nos percamos, seja lá qual for o caminho que decidirmos trilhar. Seguir sendo, esse é o maior poder. 

sexta-feira, 3 de março de 2023

De parede em parede ou Devagar se vai ao longe

Exatamente um ano depois do desejado, consegui pintar a sala e a cozinha. Depois de marido ter me pedido para adiar meu projeto, não porque me ajudaria em outro momento mais oportuno mas porque não queria ver bagunça, passei todo esse tempo imenso remoendo quando e como retomaria a ideia - além da sempre longa temporada de chuvas, que vai de março a novembro, havia ainda a questão de quem, então, me ajudaria a tirar os móveis de lugar. 
Pois neste último Carnaval, talvez energizada pelas águas festivas da rainha do mar e porque, no final das contas, não fomos acompanhar o Microtrio em Salvador porque nossos companheiros de folia tinham viajado, resolvi que ia pintar o que faltava da casa - sala e cozinha, já que fachada, banheiro, escritório e quarto eu fui pintando ao longo dos anos, cada um num momento. Sala e cozinha eram justamente os espaços mais complicados, porque maiores e mais cheios de móveis, quadros, prateleiras etc. 
Quando avisei o marido da empreitada, disse que ia pintar uma parede da cozinha. Antes que começasse a lamúria, atalhei logo que, se precisasse de ajuda, seria mínima, que nem ia tirar algumas coisas das paredes. Enquanto ele assistia TV, eu fui tirando coisas do lugar, colocando fita-crepe no chão (que pintamos no ano passado e já está todo descascado), preparando tinta. Lentamente, sem muito alarde, pintei uma das paredes num dia. Enquanto a tinta secava, ficava estudando as outras paredes, o que seria preciso fazer para pintá-las. A cada olhada, ia ganhando mais coragem para pintar as demais. 
No outro dia, Carnaval pleno, foi a vez de uma grande parede que faz parte de cozinha e sala, com alguns quadros e dois móveis mais fáceis de tirar do lugar, mas com pé-direito mais alto - e foi preciso usar escada maior e extensor de cabo para o rolo de pintura. À medida que pintava cada trecho de parede, ia limpando os respingos no chão - inevitáveis, mesmo protegendo tudo com uma lona. Quando estava perto de acabar, vi que ainda dava tempo de pintar a parede mais alta da sala, e que merecia atenção por conta da umidade ao rés do chão (aliás, devo arrumar alguma solução para isso em breve). Precisei tirar quadros, afastar móveis, remover discos de rack e livros de prateleira.
Bem, no terceiro dia, quarta-feira de Cinzas, restaram duas paredes da cozinha, as piores, com fogão, geladeira, dois armários pesados, e uma parede da sala, a da TV, portanto mais "disputada". Testei puxar delicadamente o fogão, conseguindo o mínimo de espaço para eu conseguir pintar atrás dele, aproveitando para limpar a sujeirama acumulada. Foi relativamente fácil, daí parti para um dos armários, tirando pacientemente cada coisa de dentro dele. Puxei o armário, mesma coisa, usei o extensor para pintar as partes mais difíceis de alcançar. Fui para a parte alta da parede, com um quadro enorme que achei que não ia conseguir tirar, o da ópera "Baile de máscaras", mas tirei, limpei, coloquei de volta após pintar, uma belezinha. Armário de louça, mesma coisa, tirar tudo de dentro, limpar, puxar, pintar atrás, recolocar no lugar, devolver a louça. Por fim, a tão temida geladeira: tirar o que havia de mais pesado, puxar um pouco para a frente, usar extensor para pintar atrás. E acabei a tão temida cozinha, quase sem acreditar. E vou até colocar a plaquinha "Cozinhar é um ato político", que comprei há um ano.
Só restava a última parede, a da TV - tive de pedir para marido sair (ainda protestando que era desnecessária a pintura ali). A única coisa em que não mexi foi a maçaroca de fios atrás do rack. Aliás, nem tentei tirar o rack do lugar, porque seria preciso tirar a TV, entonces, já viu. Continuei no meu ritmo devagar e sempre, parede a parede, e acabei. Simplesmente acabei. 
Esta foi a experiência mais palpável dos últimos anos de que devagar se vai ao longe. Não serve para tudo, mas neste caso foi exemplar - acabou nem sendo tão exaustivo, porque o espírito estava preparado para pequenas conquistas, e ao final o resultado foi imenso e ótimo. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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