quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Como uma deusa
Especialmente para meu amigo Rafael: uma lembrança pelo seu aniversário e pela nossa amizade, celebrada tantas vezes... no karaokê!
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Onde todos os caminhos se cruzam
Quando, no século XIX, os urbanistas começaram a usar o termo "artéria" para descrever as grandes vias que brotavam nas cidades modernas (especialmente Paris), nem imaginavam o que viria pela frente: um volume tamanho de veículos que provocaria o entupimento geral das veias urbanas, prenunciando o completo colapso de órgãos urbanos vitais.
Terá chegado o dia do Grande Congestionamento profetizado por Ignácio de Loyola Brandão em Não verás país nenhum?
Parece que estamos perto. E o filme de Phillipe Barcinsky, Não por acaso, de 2007 ("não por acaso" produzido por Fernando Meirelles - suspeito que vêm daí as tomadas maravilhosas do centro de São Paulo, que reapareceriam de forma mais apocalíptica em Ensaio sobre a cegueira, de 2008) mostra o lado humanizado do caos urbano, com personagens que pensam ter controle sobre tudo - um deles, o engenheiro de tráfego Ênio (o sempre ótimo Leonardo Medeiros), pensa controlar inclusive a própria cidade, que enxerga como uma rede lógica e perfeitamente interligada.
Bom, acho que nem preciso dizer que um mesmo evento trágico terá efeito sobre as certezas dos personagens - mas também trará mais luz às suas vidas.
Acho que por isso me encantei tanto com a imagem dessa janela, que traz o sol para dentro de um quarto vazio, onde entra a filha recém-descoberta de Ênio - só um dos exemplos da bela e nada gratuita fotografia do filme.
Terá chegado o dia do Grande Congestionamento profetizado por Ignácio de Loyola Brandão em Não verás país nenhum?
Parece que estamos perto. E o filme de Phillipe Barcinsky, Não por acaso, de 2007 ("não por acaso" produzido por Fernando Meirelles - suspeito que vêm daí as tomadas maravilhosas do centro de São Paulo, que reapareceriam de forma mais apocalíptica em Ensaio sobre a cegueira, de 2008) mostra o lado humanizado do caos urbano, com personagens que pensam ter controle sobre tudo - um deles, o engenheiro de tráfego Ênio (o sempre ótimo Leonardo Medeiros), pensa controlar inclusive a própria cidade, que enxerga como uma rede lógica e perfeitamente interligada.
Bom, acho que nem preciso dizer que um mesmo evento trágico terá efeito sobre as certezas dos personagens - mas também trará mais luz às suas vidas.
Acho que por isso me encantei tanto com a imagem dessa janela, que traz o sol para dentro de um quarto vazio, onde entra a filha recém-descoberta de Ênio - só um dos exemplos da bela e nada gratuita fotografia do filme.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Meninos, eu vi - Bom Retiro 958 metros
Eu tiraria só uns 15 minutos de texto do último espetáculo do Teatro da Vertigem, em sua segunda temporada. Mas só - Bom Retiro 958 metros é praticamente irretocável.
Renascido de uma crise que ameaçou acabar com o grupo, o Vertigem impressiona com sua produção impecável, com atuações envolventes, com a capacidade de nos fazer parte silenciosa do espetáculo - mas nunca meros espectadores.
Andamos pelas ruas desertas (ou quase - bolivianos e coreanos dão as caras volta e meia, numa figuração involuntária) do Bom Retiro em pleno feriado prolongado de Carnaval, ora como multidão de consumidores, ora como zumbis. Invadimos um shopping fechado e sentimos ali o coração que jamais para de bater, junto com o da compradora que se transforma em seu objeto de desejo. Seguindo um Caronte feminino (ou um Diógenes, que leva um tablet em vez de uma lanterna?), assistimos ao próprio Apocalipse se desdobrando ao nosso redor. O Hamlet cracômano (maravilhoso Ícaro Rodrigues) se equilibra no alto de um muro muito alto, e conversa com sua pedra, cada vez maior. A faxineira filosofa (a incrível Mawusi Tulani), a rádio Infinita hipnotiza os insones, a noiva-Ismália tenta chamar à razão. Estamos cercados - só nos resta caminhar em meio aos escombros de manequins desnudos ou em chamas, roupas rasgadas, lixo, mais cracômanos, pessoas socialmente invisíveis. E buscamos um refúgio inútil na sinagoga abandonada.
Como os atores conseguem estar em toda parte ao mesmo tempo? Como o grupo conseguiu convencer a CIDADE a atuar? Como o mergulho no Letes desperta a memória aos gritos? Como ficamos divididos entre a urgência do fim e a estupefação quando tudo acaba? Como ao final o público bate palmas longamente (minutos e mais minutos) sem emitir um som? Parece fruto de encantamento, mas, claro, é só vertigem.
Por isso recomendo: não deixem de assistir até o final de março ao verdadeiro fim do mundo.
Renascido de uma crise que ameaçou acabar com o grupo, o Vertigem impressiona com sua produção impecável, com atuações envolventes, com a capacidade de nos fazer parte silenciosa do espetáculo - mas nunca meros espectadores.
Andamos pelas ruas desertas (ou quase - bolivianos e coreanos dão as caras volta e meia, numa figuração involuntária) do Bom Retiro em pleno feriado prolongado de Carnaval, ora como multidão de consumidores, ora como zumbis. Invadimos um shopping fechado e sentimos ali o coração que jamais para de bater, junto com o da compradora que se transforma em seu objeto de desejo. Seguindo um Caronte feminino (ou um Diógenes, que leva um tablet em vez de uma lanterna?), assistimos ao próprio Apocalipse se desdobrando ao nosso redor. O Hamlet cracômano (maravilhoso Ícaro Rodrigues) se equilibra no alto de um muro muito alto, e conversa com sua pedra, cada vez maior. A faxineira filosofa (a incrível Mawusi Tulani), a rádio Infinita hipnotiza os insones, a noiva-Ismália tenta chamar à razão. Estamos cercados - só nos resta caminhar em meio aos escombros de manequins desnudos ou em chamas, roupas rasgadas, lixo, mais cracômanos, pessoas socialmente invisíveis. E buscamos um refúgio inútil na sinagoga abandonada.
Como os atores conseguem estar em toda parte ao mesmo tempo? Como o grupo conseguiu convencer a CIDADE a atuar? Como o mergulho no Letes desperta a memória aos gritos? Como ficamos divididos entre a urgência do fim e a estupefação quando tudo acaba? Como ao final o público bate palmas longamente (minutos e mais minutos) sem emitir um som? Parece fruto de encantamento, mas, claro, é só vertigem.
Por isso recomendo: não deixem de assistir até o final de março ao verdadeiro fim do mundo.
Marcadores:
cidade,
contemporâneo,
cultura,
por aí,
teatro
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Pintar e bordar, é só começar
No blog vizinho, o Ser o que soa, publiquei uma viagem mental que liga Sherazade e Penélope, tudo porque vejo no bordado uma lógica semelhante à da narrativa. Tudo isso porque um dia desses acordei com vontade de bordar, uma coisa que nunca fiz (como milhares de outras ligadas às antigas prendas domésticas - definitivamente, não sou uma mulher prendada). Fiquei com essa ideia Sherazade+Penélope na cabeça até que saiu o texto.
A ideia de bordar também tomou forma quando fui ao armarinho muito antigo aqui perto de casa, administrado por duas velhinhas e um velhinho. Cheguei sem saber direito o que pedir (tamanho de agulha, tipo de linha). Nem mesmo ter encontrado um manual de bordado on-line (como sou feliz de viver na época da internet sem ser fã do "face" - em outro post explico por quê) me impediu de gaguejar na hora de fazer o pedido do material. Uma das senhorinhas me deu umas dicas e me apresentou caixas de linhas ORGANIZADAS POR COR, UMA MAIS LINDA QUE A OUTRA! Pirei, claro. E comprei várias meadinhas coloridas, mesmo sem saber que bicho ia dar. E duas agulhas (não sei o número), e 1,5m de cânhamo (não soa chiquérrimo? sabiam que é a planta da maconha? éééé!). E saí abrindo caminho livremente, sem seguir o que dizia o manual sobre os pontos, primeiro para ver se curtia. Trapaceei um pouquinho usando tecido, uma coisa que adoro desde que trapaceei com ele nas ilustrações do curso do Odilon Moraes e do Fernando Vilela no Tomie Ohtake.
E gostei. É terapêutico, inclusive o fazer e desfazer (com o qual não tenho problema se for para chegar a um bom resultado). É divertido. O bordado é fotogênico (o avesso dele está parecendo um filme de terror, mas a frente até ficou fofinha).
Portanto, já meti as caras - e, incrível, só furei o dedo uma vez.
Agora é só aprender, né?
A ideia de bordar também tomou forma quando fui ao armarinho muito antigo aqui perto de casa, administrado por duas velhinhas e um velhinho. Cheguei sem saber direito o que pedir (tamanho de agulha, tipo de linha). Nem mesmo ter encontrado um manual de bordado on-line (como sou feliz de viver na época da internet sem ser fã do "face" - em outro post explico por quê) me impediu de gaguejar na hora de fazer o pedido do material. Uma das senhorinhas me deu umas dicas e me apresentou caixas de linhas ORGANIZADAS POR COR, UMA MAIS LINDA QUE A OUTRA! Pirei, claro. E comprei várias meadinhas coloridas, mesmo sem saber que bicho ia dar. E duas agulhas (não sei o número), e 1,5m de cânhamo (não soa chiquérrimo? sabiam que é a planta da maconha? éééé!). E saí abrindo caminho livremente, sem seguir o que dizia o manual sobre os pontos, primeiro para ver se curtia. Trapaceei um pouquinho usando tecido, uma coisa que adoro desde que trapaceei com ele nas ilustrações do curso do Odilon Moraes e do Fernando Vilela no Tomie Ohtake.
E gostei. É terapêutico, inclusive o fazer e desfazer (com o qual não tenho problema se for para chegar a um bom resultado). É divertido. O bordado é fotogênico (o avesso dele está parecendo um filme de terror, mas a frente até ficou fofinha).
Portanto, já meti as caras - e, incrível, só furei o dedo uma vez.
Agora é só aprender, né?
Marcadores:
bordado,
correndo riscos,
vivendo e aprendendo
Assinar:
Postagens (Atom)
Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla