Foram três horas de porrada. Inclemente, incansável, ininterrupta. Necessária.
Clayton Nascimento tem apresentado seu monólogo Macacos desde 2016. Eu descobri Clayton numa novela global ao mesmo tempo que soube de sua peça - imediatamente, pensei que precisava vê-lo no palco. Achava que ele já tivesse vindo a Salvador, quando eu não havia ainda chegado aqui, e torcia para que "voltasse".
Como acredito demais nos milagres cotidianos, estava com a cabeça a mil, angustiada com questões práticas, quando a arte veio em meu socorro: o superagitador Aldri Anunciação lançou sua sexta edição do Festival Melanina Acentuada e trouxe, entre outras maravilhas, a peça Macacos a Salvador. Quando entrei no site para a compra, os ingressos já estavam esgotados. Alguns dias depois, vi novo anúncio da peça e resolvi tentar de novo. E consegui! E era a primeira vez da peça na Bahia, em Salvador, o que Clayton enfatizou várias vezes.
O espetáculo aconteceu no Goethe, mesmo lugar do Pequeno manual antirracista, adaptado por Aldri e interpretado por Luana Xavier. Igualmente impactante, com a mesma questão terrível e persistente do racismo, também monólogo. Mas a arte é esse deslumbramento sempre, com cada artista derramando sua alma e força diante do público de forma única. Clayton fala, dança, gesticula, grita, incorpora, anda, corre por três horas. Em nenhum momento se repete (só quando é necessário "fechar" um assunto). A peça é desabafo, aula, biografia e denúncia, tudo ao mesmo tempo. Houve um momento em que achei que ela ia desandar, mas não, ele amarra tudo com a coerência de quem vive tudo na pele. Ao final, a emocionante presença de Terezinha, mãe de Eduardo, 9 anos, assassinado pela PM do Rio em 2015, que inspirou Clayton a criar o monólogo.
Eles foram aplaudidos de pé por intermináveis e merecidos minutos. A gente se sente miserável de viver num país, num mundo em que tantos Eduardos morrem diariamente pela cor de sua pele. Mas a gente se fortalece por estar ali, junto com Clayton, Terezinha, Aldri, acolhendo a dor, dando as mãos, se energizando para gritar também por justiça.
Eles foram aplaudidos de pé por intermináveis e merecidos minutos. A gente se sente miserável de viver num país, num mundo em que tantos Eduardos morrem diariamente pela cor de sua pele. Mas a gente se fortalece por estar ali, junto com Clayton, Terezinha, Aldri, acolhendo a dor, dando as mãos, se energizando para gritar também por justiça.
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