Desde que soube da existência de outro filme de Lucas Dhont, o mesmo diretor de Girl, fiquei de olho em que streaming ele apareceria. Demorou, mas em maio Close estreou no Netflix. Embora os dois filmes sejam bem diferentes, há em ambos a dor de quem quer ser apenas quem é mas encontra a intolerância e o preconceito pela frente, nos dois casos, chocantemente, em outros jovens que estão apenas começando a viver.
Close mostra a amizade entre dois garotos de 13 anos numa cidade bucólica da Bélgica. A questão não é saber se se trata de uma relação amorosa; o que se vê é uma inocência patente na maneira como os amigos se tratam um ao outro. Até poderia se tornar uma história de amor, mas não saberemos jamais, tudo porque a violência da intolerância nascente vai abreviar essa história. A possibilidade de vida e amor é minada pelo ódio herdado de uma cultura machista. O título se refere, de antemão, a um comentário que uma colega faz acerca da relação de Leo e Remi, de que eles estavam sempre "perto", sempre juntos, se isso queria dizer que eles tinham um "relacionamento". Leo fica incomodado, pela primeira vez - nunca havia pensado nisso. Remi, uma alma de artista, nem parece se aperceber do comentário maldoso, mas sofre horrivelmente com o afastamento do amigo.
Mais uma vez, Lucas Dhont dirige de forma magistral seus atores, a ponto de nos partir o coração. Mais uma vez, a suavidade das personagens é engolfada pela tragédia. Mas isso não é motivo para não assistirmos ao filme, pelo contrário - é a oportunidade que a arte nos dá de enxergarmos o outro, de lhe emprestarmos a nossa pele e nos deixarmos afetar, sinal indiscutível de que estamos vivos.
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