sexta-feira, 28 de junho de 2019

São João de pizza, pão e plantas

A era dos extremos não se refere somente à história. Ela está também na natureza, com o desequilíbrio climático a que temos assistido pelo mundo e para o qual o Brasil pretende colaborar com as últimas loucuras do governo atual, que estimula o desmatamento desenfreado e o uso de agrotóxicos proibidos ao redor do mundo. 
Tivemos um verão devastador e agora chuvas torrenciais por toda parte. Aqui em casa isso significou inundações, muros caídos e horta destruída (pelo calor e pela chuva excessivos), para ficar só no nível micro. 
A principal lição que tenho tirado desses eventos é que com a natureza ninguém pode. É muito grande a pretensão humana de dominar tudo - afinal, somos o maior predador que existe, com tal capacidade destrutiva que parece infinita. O nosso erro é esquecermos que somos apenas uma parte da natureza, como já disse aqui, mais de uma vez. E é de novo ela que vem me lembrar disso, em seus milagres cotidianos.
A chuva torrencial, que se seguiu ao calor tórrido do verão, como disse, acabou com a horta. Logo os galhos secos deram lugar a um matagal. Nem tive coragem de ir olhar, durante um bom tempo. Mas chegou a hora de refazer, de limpar, de voltar a cuidar. E lá fui eu, ser surpreendida pelos sobreviventes alecrim e lavanda. Não super viçosos, mas firmes e perfumados. Foi um espanto alegre o que senti ao deparar com eles em meio a muito mato.
Isso me deu mais ânimo para retomar a horta, ainda mais uma vez. Busquei mais manjericão e orégano, que são ervas que resistem bem a essa chuva, comprei mais sombrite para proteger do calor e também da chuva. Logo vou refazer as sementeiras. O que for possível consumirmos sem veneno já trará um ganho enorme.
E tudo isso rolou no meio do São João, de novo por aqui. E também rolou uma pizzinha num dos dias e um pão sovado muito macio e gostoso para acompanhar as comidas juninas feitas pela sogra. 

quinta-feira, 27 de junho de 2019

O que aprendemos com Big Little Lies

Adorei a primeira temporada de Big Little Lies, com Reese Whiterspoon e Nicole Kidman. Assisti na HBO de um só fôlego. Pedi ao marido para ver comigo um ou dois episódios. Ele logo se cansou e disse que eram apenas "tretas de mulheres". Tretas. De. Mulheres. Foi como ele resumiu a série para mim e para quem quisesse ouvir.
Acho que não podemos exigir ou esperar que um homem entenda de assuntos de mulheres. O contrário também não. Eu nunca tive a pretensão de compreender uma série como Californication, que meu marido adorava. Não perguntei a ele se se sentia realmente representado pela série que me parecia, vista de longe, algo misógino e machista. Ele, porém, me perguntou se eu realmente me sentia representada por uma série que mostrava mulheres ricas norte-americanas e suas tretas e fofocas (algo, aliás, típico do universo feminino). Tive de explicar a ele que não era esse o ponto, e sim que mulheres têm problemas e dilemas semelhantes ao redor do mundo, como terem de ser bem-sucedidas e socialmente aceitáveis em tudo - como empregadas ou chefes, esposas, amantes, mães. As diferenças sociais é que tornam esses problemas e dilemas maiores e piores - quanto mais pobres e mais escuras as mulheres, bom, já sabemos o que acontece. 
Sinto o desconforto de meu marido diante do meu interesse por temas que envolvem as antigas minorias. Ele ainda acredita que é só porque é politicamente correto que eu me interesso, que eu gosto até mesmo de filmes ruins só porque tratam do empoderamento de mulheres (mas isso vale também para direitos humanos em geral). Ele crê que eu sou apenas levada pela onda, pela moda. Ele está como muitos homens, que assistem, desconfortáveis, a mudanças em um comportamento feminino até outro dia sob controle, e que muitos têm tentado combater com mais violência do que jamais houve. Ele nem se apercebe disso, acha que a mídia é que tem enfatizado aquilo que sempre aconteceu. 
Sempre aconteceu, o que não quer dizer que deva continuar acontecendo. Sinto, e Big Little Lies só vem reforçar essa minha impressão, que não se pode mais conter o vento da mudança. As tradições, já dizia Hobsbawm, são inventadas. A cultura é algo poderoso, mas não é exclusiva de um grupo - ela serve a todas e todos, transforma-se todo o tempo. 
E me parece que não há poder mais ruidoso e transformador do que o de mulheres que resolvem "tretar" juntas, e não mais umas contra as outras, não mais competindo por homens, mas combatendo o machismo sistêmico. 

segunda-feira, 17 de junho de 2019

L'équipement - batedeira de mão

Depois que comprei a maravilhosa batedeira Proline da KitchenAid, deparei-me com um probleminha: como bater pequenas quantidades de massa para bolo em um bowl tão fundo. Para bater claras, OK, tenho me virado com o fouet do processador, mas ele não dá conta de bater uma massa um pouco mais espessa como é a dos bolos. Já havia repassado a planetária da Arno para minha sogra, e espaço continua a ser um problema em casa, então me ocorreu comprar uma batedeira de mão, normalmente mais compacta para guardar em qualquer canto.
Fiz uma busca na internet e achei dois modelos que me encantaram: o da Hamilton Beach, que já vem com um estojinho acoplado para guardar os cinco batedores e encaixar a batedeira, e um da Black & Decker, marca em que normalmente confio bastante, com design moderno e compacto e dois pares de batedores. Ia comprar no site da Americanas, mas Nana estava no exterior e pedi a ela para trazer. 
Ela encontrou uma Hamilton Beach de um modelo um pouco mais simples, com três batedores e o mesmo estojo acoplado, por 17 dólares. Tamanho ótimo, potência esperada para um aparelho desse tipo. Agora é testar com um bolinho para avaliar com maior propriedade. 

sábado, 15 de junho de 2019

Os olhos da cobra verde/Hoje foi que arreparei

Volta e meia aparece uma cobra por aqui no sítio. Jiboia, coral, uma cobrinha branca na pia. Uma jararaca apareceu na porta do canil, e Chica nos avisou em tempo. 
Outro dia, porém, quando eu tirava um cochilo, acordei com uma dor excruciante e Zen se jogando sobre meu pé, agitadíssimo. Estranhei que ele tivesse me atacado à toa, e pensei que deveria ter visto um bicho sobre a cama. Procurei por um escorpião e achei a cobra-verde morta no chão. 
Não saberei jamais se ele colocou a cobra aos meus pés como um presente e ela se mexeu, e então ele atacou a cobra e meu dedão, ou se a cobra me mordeu e ele matou a cobra. De todo jeito, em minhas pesquisas, descobri que, embora tenha peçonha, a cobra-verde não consegue inocular veneno devido à posição posteriorizada das presas. Antes assim!

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Jantar dos namorados a quatro mãos

Viver sozinho é, sem dúvida, mais fácil que viver acompanhado. Mas pode ser mais chato. Na verdade, viver com alguém tem que ser melhor que viver sozinho - mais divertido, no mínimo. Ou nem vale a pena - porque dá trabalho, dá sim!
Um dos momentos em que se percebe que vale a pena é fazer coisas legais juntos. Porque se unir pra resolver problema, pagar conta, fazer supermercado, lamentar a vida não pode ser todo dia, pelo amor da deusa. Claro que a vida não é bolinho a maior parte do tempo, e isso faz as coisas bacanas terem um sabor tão especial. Como um jantar feito a quatro mãos.
Porque até quem gosta de cozinhar gosta de ser agraciado com uma comidinha caprichada. Isso estimula o espírito de colaboração, fundamental para qualquer relacionamento. Gentileza gera gentileza, sempre. Amor e sexo se alimentam da prática, sempre. Só se acomoda quem não está disposto, a quem falta anima.
Se o marido diz que vai cozinhar para mim, quero ajudar como posso, deixando-o no papel principal de chef. Me ofereço para fazer a sobremesa. E daí saem coisas lindas e gostosas, como o rigatone com o molho especial que ele faz, e a torta de maçã inédita e já eterna. Assim se alimenta o querer.

domingo, 9 de junho de 2019

Uma surpresa boa de quando em quando

Aí você vai à aula de pilates e sai com um inesperado par de alpargatas novinhas e descoladas.
Surpresas assim dão nova disposição ao dia a dia chuvoso.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

The winter came, e com ele as comidinhas gordas - frango empanado com creme de shitake

Essa receita é do Troisgros, e eu já fiz do jeito que ele ensina, com frango empanado em cubos de pão. Delícia, mas pesadito. Hoje resolvi fazer, aproveitando o shitake seco que comprei na Casa de Saron, e preparei com frango empanado simples.
Ainda com uma certa pegada oriental, o almoço de hoje, ainda mais com o frio súbito e intenso que chegou. O inverno chegou!

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Se oriente, rapaz - na cozinha, na vida

 
Os últimos dias na cozinha estão bem orientais. Andei fazendo yakissoba, lámen e hoje foi a vez de uma carne suína com legumes e guioza também de carne de porco. Todos os pratos visando ao aproveitamento de ingredientes - legumes e carnes - antes que se estragassem na geladeira. Para não perder ingredientes, tenho também congelado muita coisa, antes mesmo de processar completamente o prato, porque nem sempre dá tempo de fazer aquela marmita arrumadinha. 
Também rolou esse viés orientalizante porque comprei gengibre fresco e a única bandeja de nirá que achei no supermercado - caríssima, como sempre. 
Vi várias receitas de guioza na internet e peguei uma de massa da Isadora Becker, adaptei a técnica com uma do Prato Fundo e coloquei um pouco de tudo no recheio com a carne já assada e processada de filé mignon suíno: óleo de gergelim, shoyu, gengibre e nirá refogados. Mesmo no caso da massa acrescentei um pouco mais de água (meia xícara de água quente e meia xícara de água fria) e mais farinha (cerca de mais meia xícara de chá). Como fiz duas massas, porque acabou sobrando recheio, também fiz dois tipos de preparo, um tostando os pastéis e depois acrescentando água para cozinhar na frigideira, e outro cozinhando os pastéis como massa de macarrão e depois refrescando em água corrente para congelar, e ainda pude treinar um pouco as dobras. As primeiras ficaram horríveis, as segundas um pouco melhores, mas ainda bem distantes do ideal. 
O recheio de carne suína ficou delicioso, com aquele gosto de comida boa da Liberdade. Como é importante nutrir-se daquilo a que se pertence para nunca perder o rumo!

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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