Autocuidado é um dos termos mais em voga nos dias de hoje. Muita gente acha que só tem a ver com beleza, fazer um escalda-pés em casa, comprar a make caríssima da Rihanna etc. etc.
Também é isso, se você acha que é. Eu, por exemplo, comprei batons nude da Dailus, que combinam com meu tom de pele amarelo-esverdeado. Amei! Preço de 1/8 de um batom Mac, e ainda é vegano, tem skin tones, ultramacio. Também comprei uma máscara detox da Nivea, ótima, e um hidratante poderoso da Neutrogena, Hydro Boost, com ácido hialurônico, porque, quase aos 50, se não cai, tudo seca.
Mas autocuidado não é só isso. Tem também a ver com tirar um tempo para si, e não só o do escalda-pés, que é maravilhoso, mas também para não fazer nada, para não aceitar desaforos, para aprender algo novo só por esse gostinho, com praticar uma atividade física prazerosa, com comer uma comida gostosa e saudável. Claro que é difícil o autocuidado onde faltam direitos essenciais, como água, luz, saneamento básico, trabalho, comida, mobilidade, educação. E mesmo assim, no Brasil, a indústria de beleza e farmacêutica só cresce, atendendo aos bolsos de todos os tamanhos - há quem economize no mercado para comprar um bom shampoo. Está errado isso?
Parece uma discrepância, mas isso só revela como todo mundo quer se sentir bonito e admirado. Parte da nossa saúde emocional vem mesmo do olhar do outro, mas não pode depender dele. Acho que uma coisa boa da proximidade dos 50 é justamente aprender a depender menos desse olhar (normalmente masculino) e valorizar mais o nosso próprio olhar sobre nós, por dentro e por fora, aceitando o que somos. Acho também que os debates recentes sobre feminismo têm trazido essa pauta com força: cuidarmos de nós e umas das outras, tendo um olhar mais amoroso sobre a diversidade, deixando de seguir os padrões impostos.
Autocuidado, em todas suas acepções, é principalmente feminino. Homens heterossexuais não costumam praticar - embora haja um tantinho em desconstrução - porque nunca precisaram; eles são aceitos com muito menos cobrança por toda a sociedade - a menos que sejam pobres e pretos, e neste caso seria preciso evocar uma mudança social muito maior, para além do autocuidado, para que sua aceitação se desse. O que seria bom para todos, homens, mulheres, velhos, crianças, trans, gays, héteros, todas as cores - a beleza, o cuidado e o respeito estariam em tudo.
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