No final do maravilhoso curso do Paulo Henrique Fernandes Silveira na FEUSP, escrevi sobre a imagem das mulheres no cinema, passando de enfeites e coadjuvantes, durante muito tempo, a protagonistas das narrativas nos últimos anos. Parece que agora demos mais um passo nas películas, no sentido de as protagonistas soltarem o verbo contra o machismo.
Só para ficar no exemplo dos filmes oscarizados deste ano, trago Barbie, Pobres criaturas e (eu acrescento) Anatomia de uma queda. Não fui a única a perceber essa relação, claro, especialmente entre os dois primeiros, puro deboche antimachista, e houve quem relacionasse o terceiro ao ótimo História de um casamento, como se a esposa do filme francês, vivida por Sandra Hüller, tivesse tido a coragem de dar as respostas que a personagem de Scarlett Johansson não conseguiu ao vomitório de insatisfações do marido. Eu colocaria os três indicados deste ano na mesma chave de leitura, com protagonistas que vivem sua vida sem se render à cartilha do patriarcado e, com isso, provocam espasmos e histeria dos machos de plantão - Mark Ruffalo chega mesmo a rolar no chão diante da liberdade plena da Bella Baxter de Emma Stone.
Em outra postagem, comentei sobre Barbie em relação a outros filmes que traziam símbolos da infância, Indiana Jones e Asterix. Não tinha, contudo, enfatizado o discurso feminista, o ótimo texto, a fala exemplar da personagem de América Ferrera sobre tudo o que é exigido de uma mulher, nada menos que a perfeição e mais, se possível for.
Com humor ou com tragédia, os três filmes trazem as mulheres questionando o patriarcado, arregaçando as mangas contra ele e provocando reações masculinas contrárias, dentro e fora dos filmes. Mas o que mais me agrada é que nenhuma das protagonistas se culpa por fazê-lo, algo que muitas de nós ainda precisam aprender.