domingo, 28 de outubro de 2018

Comida da resistência

Lá no Ser o que Soa, como aqui, falei um pouco sobre a comida como forma de resistir a tempos difíceis, como forma de nutrir e fortalecer corpo e espírito. Também falei sobre a necessidade de estar junto com os que não apoiam o terror e a intolerância de qualquer espécie. De ter por perto os amigos, e como tenho sentido vontade de abraçar os meus, de fazê-los sentir que, sim, estamos juntos, pro que der e vier.
Comecei esta semana o projeto de ter mais perto as pessoas que pensam como eu. Eu e Guga desopilamos o fígado na companhia de Cris e Júlio tomando uma cervejinha acompanhada de chilli de carne, guacamole, umas tortillas que viraram pastéis e a indefectível mousse de chocolate. Que leveza final!
Ontem também fiz um novo pão, de farinha branca, integral e de centeio e psyllium; estava com desejo de bolo inglês e também de usar as claras congeladas - daí fiz pudim de claras com calda de damascos e um pouco de suspiros.
Meu espírito, que estava pedindo um pouco de doçura, agradeceu.

Comida de panela

No curso da pós, o Claude Troisgros comentou sobre seu último empreendimento, o restaurante Chez Claude, que tem poucas mesas, organizadas em torno do fogão. Segundo ele, a ideia era retomar a proximidade entre quem cozinha e quem come - ali, os fregueses podem ir até a estação de preparo e até participar do processo. Os pratos saem direto do fogão para as mesas. É o que Troisgros chama de comida de panela, essa culinária voltada para muitas pessoas, mais associada com reuniões familiares. É o que Pollan chama, ao se referir aos cozidos, de comida dionisíaca, conquanto caótica, e Lévi-Strauss, de comida feminina, conquanto festiva e gregária.
Eu sempre gostei desse tipo de comida, mas nunca tinha pensado num nome para ela. Gosto da ideia de cozinhar para bastante gente, de cada um poder se servir como quer, em torno da mesa, enquanto todos conversam, falam de assuntos diversos, calam-se para comer e - suprema glória - elogiam a comida. Pois é, pode ser chamada comida de panela, esse utensílio por si agregador, onde cabem tantos temperos, ingredientes e segredos. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Pão integral com psyllium e amaranto e sorvete de pistache para dar energia em tempos tenebrosos

Estamos muito perto de um desastre político nacional. Além do voto, que mais podemos fazer?
Penso que não nos deixar abater, continuar resistindo ao horror, acreditar no que acreditamos, unir forças, proteger a quem amamos, de todas as formas. 
Nutrir a mente, o espírito e o corpo. Não descuidar de nada que seja importante - nosso trabalho, alimentação, nossos amigos, nossa rede de proteção. Precisamos estar fortes para o que quer que venha pela frente. 
Nestes tempos que prenunciam escuridão, tenho pensado muito no papel da alimentação como forma de resistência, de fortalecimento, de reconhecimento da cidadania. 
No dia de hoje, o sorvete de pistache foi para alegrar o espírito do marido; o pão integral com psyllium e amaranto, para nos dar energia e garra para o dia a dia. 
Porque seguimos, e somos privilegiados, mesmo com algumas dificuldades. Mas é preciso estar pronto para dar força a quem precisar. O presente é hoje, o futuro, não sabemos. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Quibe de quinoa é uma boa

No cardápio da marmita semanal, tinha pensado em fazer quibe. Só não achei o trigo no supermercado, e daí resolvi usar quinoa no lugar. Fácil de fazer, e ficou uma delícia.

Ingredientes:
500 g de carne moída
1 1/2 xícara (chá) de quinoa
1 cebola média picada
hortelã (usei desidratada)
canela em pó
cravo em pó
noz-moscada
pimenta-do-reino
sal a gosto

Modo de preparo:
Cozinhe a quinoa com um pouco de sal. Reserve. Em uma tigela, junte a carne moída, os temperos e a cebola; adicione a quinoa. Coloque tudo em um refratário levemente untado com azeite, apertando bem contra o fundo. Pincele com um pouco de azeite e leve ao forno preaquecido por cerca de 40 minutos. Sirva com tabule ou arroz sírio. 

Fermentação

Livro novo, leitura deliciosa, mil ideias.

sábado, 20 de outubro de 2018

Pizza jamón y morrón com pão sírio, azeite não filtrado e vinho bom

Às sextas, normalmente temos pizza. Não mais de caixinha, depois que comecei a fazer a massa, graças aos céus. Ontem, como fui fazer um procedimento médico chato e ficamos fora a tarde toda, preparei a pizza com pão sírio. Tinha ainda uns pimentões do ratatouille de outro dia, e resolvi copiar a pizza da Sete Pizzas, jamón y morrón, tipicamente argentina. Ficou ótima!
Ainda experimentamos um azeite não filtrado da Olitalia, bem interessante, e um vinho que, coincidentemente, eu e Guga escolhemos, tirando-o de diferentes prateleiras do supermercado - vinho leve, frutado, muito bom para acompanhar nossa pizzinha.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Curry verde de filé mignon

Uma das coisas mais gostosas que já comi na vida foi o curry verde de carne do restaurante Mestiço, em São Paulo. A apresentação não era linda, parecia um sopão verde com carne, mas o sabor era incrível. Durante um bom tempo, na minha ignorância gastronômica, achei que o curry verde era vendido como o curry comum, em pó. Após algumas pesquisas frustradas sobre onde comprar o produto, descobri que era um preparado de temperos feito na hora e tive um pouco de preguiça de executar, até porque faltavam ingredientes.
Outro dia, topei de novo com a receita, porque fui pesquisar um prato tailandês. Como tinha sobrado um pouco de filé mignon do jantar de aniversário de Guga, resolvi fazer hoje. Na verdade, o preparo é bem rápido, só uma masala apimentada que se mistura com o leite de coco, a carne, um pouco de caldo de galinha e açúcar mascavo. Fica uma delícia!
Segue a receita que serve duas pessoas, já com minhas adaptações (não tinha pimenta verde fresca, nem erva-doce, nem gengibre fresco, nem coentro, nem molho de ostra).

Ingredientes:
Pasta de curry verde
1 colher (sopa) pimenta verde moída
1/2 colher (chá) cúrcuma (açafrão da terra)
1/2 colher (sopa) erva-doce ou endro
1/2 colher (chá) gengibre em pó
1/2 colher (chá) cebola roxa picada
1/2 colher (chá) raspas de limão
1/2 colher (chá) salsinha (ou coentro)
1/2 colher (sopa) alho picado
1/2 colher (sopa) pimenta-do-reino
1/4 colher (chá) semente de coentro (não usei, porque não tinha)
1/4 colher (chá) semente de cominho

E mais:
400 g de filé mignon cortado em iscas
200 mL de leite de coco
1 colher (sopa) de açúcar mascavo
1/2 xícara (chá) de caldo de galinha ou legumes
raspas de limão
folhas de manjericão

Modo de fazer:
Processar todos os ingredientes da pasta de curry verde com um pouco do leite de coco. Reserve. Tempere as iscas de carne com sal e leve ao fogo para dourar.  Aqueça o leite de coco em uma frigideira grande ou wok. Acrescente ao leite de coco a pasta de curry, misturando bem, adicione a carne e deixe cozinhar  5-8 minutos. Ajunte o caldo de galinha e o açúcar mascavo e reduza um pouco o molho. Desligue, polvilhe as raspas de limão e as folhas de manjericão.
Sirva com arroz branco e legumes salteados.

Bolo floresta negra maomeno, petit fours delícia e docinhos de uva infalíveis

Inventei de fazer umas gordices pra continuar comemorando o aniversário do marido no final de semana, com a família. Fui testar o bolo floresta roxa da Raíza Costa, mas achei muito denso - prefiro a receita dele de Red Velvet com o chantili e as cerejas. Uma pena, porque tinha a maior expectativa com esse bolo (floresta negra) que Guga adora.
Em compensação, os petit fours que nunca tinha feito ficaram ótimos, receita que encontrei no caderno Paladar do Estadão. Os docinhos de uva, clássicos, ficaram um pouco moles para modelar, mas uma delícia sempre.

domingo, 7 de outubro de 2018

Eleições em época de horror

Hoje teremos o primeiro turno de um dos pleitos mais assustadores dos últimos tempos, porque um dos favoritos é epítome do horror, do retrocesso, da intolerância, e estamos à beira do precipício até o último momento - e espero que não caiamos nele. Do outro lado, o partido que não consegue fazer uma avaliação crítica de si, se eleito, corre o risco de não conseguir governar, e as trevas também se avizinham por ali, embora talvez não de forma tão dramática quanto no primeiro caso.
Ao longo da campanha política, tenho visto de tudo - amigos sendo ameaçados publicamente por serem de esquerda, amigos mais distantes destilando sua amargura contra a esquerda, gente tentando justificar o injustificável: votar em um homem bizarro, que mal consegue articular as palavras e ideias, e logo começa a gritar como plataforma eleitoral, bradando contra mulheres, homossexuais, índios e negros. Quem, em sã consciência, pode considerar que essa pessoa seja a melhor opção para o governo de um país? Certamente, quem está tomado pelo mesmo ódio contra o restante da humanidade, que inclui mulheres, homossexuais, índios e negros. Aliás, como pode uma mulher votar nele? Somente aquelas que não conseguiram ainda se despir da imagem retrógrada de mulher construída por uma sociedade machista, as que dão graças por terem um trabalho, mesmo ganhando menos que os homens, por terem um homem, mesmo que as diminua de alguma forma, por terem uma família, mesmo infeliz. Incompreensível, todavia. Injustificável. Daí se tem ideia do tamanho do abismo social em que vivemos.
Hoje tenho medo, vontade de chorar. Tempos sombrios se avizinham. Já temos experimentado a intolerância e a loucura nos discursos, que sejamos livrados de um mal maior. Hoje tudo me faz lembrar Drummond. Que tenhamos ainda direito à beleza, à arte, à educação, à fraternidade.

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista pela janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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