segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Meninos, eu vi - Musée d'Orsay no CCBB


O CCBB está se especializando em exposições muito procuradas, o que é ótimo. Como o espaço do centro cultural é limitado, a qualidade da seleção tem de compensar isso. Na exposição dos impressionistas, cujos trabalhos vieram do Musée d'Orsay, conseguiu-se chegar a esse resultado. 
Nossa segunda tentativa de visitar a exposição foi numa noite de terça. A fila estava grande, mas parecia fluir bem. O único problema foi a multidão esparsa nos espaços expositivos - sou contra aquelas procissões que costumam acontecer no Masp, por exemplo, mas as pessoas faziam zigue-zague pelas salas, o que dificultava um pouco contemplar as obras.
De resto, alguns ótimos exemplares do museu vieram fazer a alegria dos paulistanos. Teve até ninfeia! Bem diferente da exposição de Monet no Masp, há muitos anos, que tinha mais estudos que quadros e foi tão reverenciada. Entre os meus favoritos na do CCBB, bons quadros de Pissarro, Monet e Van Gogh. E a arquitetura do edifício de 1901 ainda ajuda a entrar no clima belle époque.
Quando deixamos a exposição, pensamos em tomar alguma coisa nos botecos da vizinhança, mas eles fecham cedo. O sonho de revitalização do centro ainda parece algo tristemente distante.

Meninos, eu vi - John Pizzarelli

Era um nome de que tinha já ouvido falar, mas não tinha ideia da tremenda bossa desse americano de sobrenome latino.
John Pizzarelli é um showman no melhor sentido da palavra. Com repertório eclético e bem selecionado (clássicos do jazz na linha Ellington e Gershwin, ritmos mais suingados e toques de bossa nova em canções de Joni Mitchell, só para citar alguns exemplos), bela e afinada voz (afinal, nem todo bom músico canta bem - já faço exceção aqui a Ron Carter, com sua voz entre veludosa e soturna, linda, cantando My funny valentine), bom humor na medida, Pizzarelli consegue acrescentar ousadia e elegância ao seu inegável apuro técnico.
O pianista que o acompanha, Larry Fuller, também arrasou no show, com dedos que se multiplicavam pelo teclado enquanto braços e ombros quase pareciam não se mexer. O baterista, segundo Guga, lembrava o Luigi do Mario Bros, e era burocrático como um funcionário público (aliás, lembrava também o protagonista funcionário público do filme Guantanamera) - mas não chegou a atrapalhar. O baixista, irmão de Pizzarelli, é bom, embora o baixo estivesse muito "baixo".
Saímos antes do final do show na choperia do Sesc Pompeia, pois ainda havia a festa de um amigo em outro canto da cidade. Mas os 50 minutos de ótima música ainda vão vibrar na memória por um bom tempo.

domingo, 16 de setembro de 2012

Novidade na minha petite cuisine

Depois de fazer algumas buscas em blogs e sites, comprei uma planetária da Arno - já estava ficando com tendinite de sovar a massa de pão no muque (que fracota!). Sei que uma hora ia me acostumar e até desenvolver minimamente os músculos do braço, mas às vezes me batia uma preguicinha ao pensar nessa etapa (fundamental) do fazer-meu-próprio-pão.
Segundo os resultados da minha pesquisa, claro que a KitchenAid é a unanimidade no universo das batedeiras (praticamente um carro blindado, um trator das batedeiras), mas não me dispus por ora a fazer um investimento tão alto (ela custa 1.800 reais, sem choro nem vela). Como meu uso do equipamento será semanal, resolvi apostar as fichas na Arno Deluxe, 1/4 do preço. Preta, na falta de uma vermelha. Luxo só.
Hoje foi a estreia da bichinha. E levei o maior susto quando a massa não se moveu na velocidade 1 (ela tem 8 velocidades!) e a batedeira começou a tremelicar toda e a fazer um barulho de intenso esforço. Passei então pra velocidade 2, e achei que ela fosse decolar. Na dúvida, segurei a tigela (até porque li um comentário em um blog sobre os pinos que seguram a tigela, que podem quebrar com a trepidação).
Mas, quando acertei a velocidade, o resultado foi muito bom: eu jamais teria conseguido misturar a massa daquele jeito. Os pães até cresceram mais. Devem estar ótimos (só vou saber amanhã, pois deixei-os sobre a grade do fogão para esfriar), a julgar pela aparência.
A Deluxe que me aguarde, pois já estou pensando em fazer minha própria massa de pizza...

Gourmandise XXVI - Paella de Helio e Claudia




Tão bom receber pessoas queridas! Convidei Claudia e Helio para conhecer e testar meu fogão novo com a impagável paella do señor Helio (somente um especialista para se virar na minha minúscula cozinha e não sujar quase nada de louça!). Pela aparência da paella, já dá para saber que estava uma delícia! Ainda fiz a maldade de interromper Guga na hora de se servir para tirar uma foto. :)
Só lamentei não ter uma toalha de laranjas (a minha era de maçãs), para deixar o ambiente mais hispânico...

Biblioteca que cresce

Não tenho mais onde colocar livros. Aliás, não tenho onde colocar mais nada em casa. Mas livros para mim são do tipo objeto de desejo irresistível (mais que vestidos e sapatos) - e como tenho alguma dificuldade em me desfazer dos mais antigos, tenho que sambar para realocá-los.
As últimas aquisições são o do Michel Roux, Receitas com ovos, que a Dri Haddad tinha indicado com entusiasmo no seu blog-site, e o do Paulo Sebess (um chef boulanger argentino), Técnicas de padaria profissional, que Guga me deu de presente. Um livro complementa o outro, pois o do Michel Roux traz algumas dicas de pâtisserie também.
Eles não são lindos?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Dona Zica que não é da Mangueira

Tem dias que a dona Zica surge e logo quer se hospedar na nossa casa. E tem semanas que são inteiras assim, zicadas.
Numa semana em que nada deu certo (surpresas malfadadas, briga com comentários homofóbicos em restaurante, corte de cabelo infeliz, aumento de peso), quase me prometi nunca mais planejar qualquer coisa. Talvez eu não consiga e simplesmente compre uma peruca, em vez de enfiar a cara no chocolate.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Quem quer ser a Mulher-Maravilha?

Eu queria, quando pequena, como milhares de meninas. Achava um luxo Linda Carter correndo com aquelas botas incríveis e sacando seu laço mágico com a maior desenvoltura - além de ela ter um avião invisível só para ela.
Também já quis ser a princesa Safire, de A princesa e o cavaleiro, mais intrépida que poderosa (e amada pelo lindo príncipe Fran!). Mais recentemente, identifiquei-me com a Mulher-Elástico, dos Incríveis. Ultraflexível, se desdobrando para dar conta de tudo. Jeannie, da série Jeannie é um gênio, mesmo não sendo exatamente uma heroína, também me deu o que pensar. What's your demand? E plim, lá estava eu fazendo aparecer o pedido diante dos olhos alheios.
No final das contas, descobri que é muito cansativo (e muitas vezes bem chato) ser heroína. Acho sim que precisamos de exemplos pelo resto da vida, até quando já nos tornamos exemplo. Mas só para nos encontrarmos, lembrar quem somos, saber do que somos capazes. E também para saber que somos capazes de dizer não, que preferimos jantar fora a nos esfalfarmos na cozinha. Que podemos, sim, dar conta de tudo, mas que nem sempre queremos. E tudo bem. Aliás, para que exibir superpoderes quando não precisamos provar nada a ninguém? Questão de opção, que deve ser nossa, e não imposta por regras sociais ultrapassadas.
Querem saber mais? O anonimato é uma bênção. Ser maravilhosa quando der na telha, também.

domingo, 9 de setembro de 2012

Meninos, eu não vi - Teatro Cego

Ou melhor, vi. Ou melhor, senti. E por isso vi, de outro jeito, de olhos fechados.
As questões relativas à visão sempre me interessaram bem de perto. Provavelmente por conta da miopia, descoberta aos 11 anos pela professora de Estudos Sociais (sim, tive aula disso!). Depois, pela visão diminuta da minha mãe, perdida pouco a pouco para o diabetes. Sempre pensei que não ver seria pior que não falar (é sério; para a mudez sempre haveria o antídoto da escrita). Por isso as histórias de perda de visão, cegueira etc. me tocam tanto. Li o Ensaio sobre a cegueira aos prantos (o contexto ajudou, claro), fiquei hipnotizada por Janela da alma, de João Jardim e Walter Carvalho. Ganhei um premiozinho de melhores crônicas (mais um conto, na verdade) escrevendo sobre Paulinho (na época nem pensei na história do apóstolo homônimo, perseguidor de cristãos que fica cego e de cujos olhos caem escamas), uma criança míope como eu fui e que de repente precisa usar óculos (um acessório que lhe parece inútil quando ele tem à mão todo o colorido do universo literário). Uma amiga, quando soube dessa croniqueta, me apresentou o doce Miguilim (cuja história também li entre lágrimas). E, por fim, escrevi um pouco sobre essas questões de ver no blog vizinho:

http://seroquesoa.blogspot.com.br/2010/02/os-olhos-de-saramago.html
http://seroquesoa.blogspot.com.br/2009/12/amplidao.html

Mas a experiência do último sábado foi inédita. Quando convidei o namorido para assistir a uma peça feita por atores cegos, ele não botou muita fé. Perguntou: "Mas por que mesmo você quer assistir a essa peça?" Eu disse que seria uma experiência sensorial diferente, porque a peça se passava toda no escuro (algo já experimentado com sucesso na Argentina). "Ah", ele respondeu, menos animado ainda.
Só para aumentar a emoção, quase perdemos a hora da peça, porque confundi o horário com o de outro evento. Já estava conformada em comprar ingresso para outro dia, mas o motorista de táxi se solidarizou comigo e voou para o teatro.
Na verdade, a peça acontece em uma sala na Vila Madalena, a Sala Crisantempo. Infelizmente, só ficará até o final do mês em cartaz (eu soube dela na semana passada, folheando o Guia de Teatro). Então, quem puder, vá ver. Ou não ver, como já disse, porque tudo se passa realmente no mais puro breu. Entramos na sala em fila, tocando no ombro da pessoa à frente. Um "lanterninha" nos conduziu ao nosso lugar. Todo mundo acomodado, a escuridão completa se instalou.
E tiveram início cheiros, sons, gemidos do viúvo rodrigueano. Eu assisti de olhos fechados. E vi tudo o que aconteceu. Ao final, quando as luzes se acenderam, a surpresa com os donos das vozes. Só para não esquecermos como as aparências muitas vezes enganam. Claro que não posso dar detalhes da peça, para não estragar a surpresa.
O namorido? Também adorou, e engrossa comigo o coro de recomendações.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Gourmandise XXV - O primeiro pão com casca

Adorei: fiz uma receita de pão de alecrim e mel, do ótimo blog La Cucinetta (foi lá que vi as dicas preciosas sobre farinha para pães etc.), e produzi meu primeiro pão com casca de verdade. Os outros ficaram gostosos, mas macios por fora e por dentro, quase com a mesma textura.
Ou seja, a Ana Elisa, dona do blog e ilustradora, entende mesmo do assunto e, mais importante, compartilha a informação (eu sei, eu sei, ando repetindo muito isso, mas dou tanto valor a quem sabe proceder assim que não resisto a fazer o comentário). No curso da Masseria, o professor falou do uso do vapor , mas pareceu algo muito complicado de fazer em casa (colocar pedras numa forma, usar uma placa perfurada, essas coisas que soavam bem imodestas). Nos outros blogs que costumo consultar (e que já me ajudaram muito mais que a famigerada apostila do curso) não há essa dica. Do jeito que a Ana explicou, é muito fácil: colocar uma forma com água fervente sob a forma do pão, por 10 minutos, e depois retirar (o forno já deve estar aquecido a 230 graus).  Fiz e deu certo. E o pão é uma delícia!
Ah, sim: acabei de postar que agora vou maneirar na alimentação. Não se preocupem, não há nenhuma contradição nisso. Na verdade, continuar fazendo meu próprio pão (integral) tem tudo a ver com o projeto de me alimentar bem. Também é um pequeno passo na mudança de estilo de vida, da qual as ervas frescas em casa fazem parte.
Incrível como a vida começa a ganhar outro sabor.

domingo, 2 de setembro de 2012

Choque de realidade

Que eu já sabia do meu processo de engorda, isso ninguém pode negar. Aliás, para falta de sorte dos meus amigos, falo disso há alguns anos (no início, provavelmente, mais por perseguir outra autoimagem que pelo fato gritante que ora se apresenta!), um sinal claro de que não tomei nenhuma atitude eficaz para cessar as reclamações.
Pois nada como um choque de realidade para resolver as coisas e parar com a palhaçada: engordei 15 kg em dois anos! Nunca tinha pensado que podia chegar a esse ponto, embora tivesse um histórico de sobrepeso e obesidade na família - o lado paterno completo e pelo menos 25% dos irmãos. Tinha uma esperançazinha de ter puxado o lado materno (que sofre, todavia, de outras mazelas).
Como mantive a mesma faixa de peso por muitos anos, com atividade física intermitente e comendo sempre muito bem (em quantidade, não em qualidade), não faz muito tempo que fui visitar uma endocrinologista. Fiz isso quando comecei a engordar lenta, mas consideravelmente. Comecei uma reeducação alimentar, cheguei a tomar uma dosagem mais leve de sibutramina por um mês e meio e emagreci bastante. Mantive o peso por uns dois anos, até começar a trabalhar em uma editora, sentada por mais de 8 horas todos os dias.
De novo, a escalada do peso, e nada de atividade física. Comecei a fazer pilates, procurei uma nutricionista, e voltei a emagrecer. Por alguns meses e mesmo em um novo trabalho de muitas horas sentada, mantive o peso até receber o convite para ser editora de novo, com bem mais responsabilidades e sem horário fixo, praticamente full time (já perceberam que atribuo parte da culpa da engorda - minha, pelo menos - ao trabalho de edição, não é?).
Aí veio a cereja do bolo: engatei nas experimentações grastronômicas. Aliás, basta ver como principalmente neste ano o blog está mais voltado para gastronomia do que para comentários sobre shows e filmes. Sintomático.
Não pretendo parar de fazer algo de que gosto tanto, então voltei com a carga toda às atividades físicas, incluindo as mais prazerosas, como dança e artes marciais. Nem sempre consigo cumprir a meta da academia (que não curto de fato), mas tento me exercitar pelo menos 4 vezes por semana. E, é claro, preciso fechar a boquinha. Especialmente depois da visita a um novo endocrinologista (indicado pela Clau, bem mais sério do que a que visitei no início do ano), responsável pela notícia bombástica, a de que engordei OITO kg em QUATRO meses (a menos que a balança da médica anterior - ou a própria médica - estivesse completamente louca). E coisas que me pareciam inofensivas, como a fileira de chocolate meio amargo após o almoço, estão sendo abolidas, ou pelo menos repensadas. Ou, ainda, "reagendadas" - a mousse de chocolate, por exemplo, vai ficar para o final de semana.
Além disso, para tornar irreversível o processo de mudança, o resultado dos meus exames já mostrou os índices de colesterol explodindo. Se fiquei desanimada? Muito pelo contrário, acho que precisava de um desafio para tomar uma atitude pontual. Isso também quer dizer que mais uma vez a tônica do blog deve mudar: comidas mais saudáveis, volta a outros programinhas, redescoberta do mundo.
Novos voos, que bom!

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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