quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Reencontro com amigos depois de quase dois anos

Desde que começou a pandemia, deixamos de ver os amigos mais próximos (os distantes, então, nem se fala). Todo mundo quarentenado, e nós, pelo jeito, mais que todos. 
Com o pilates on-line, pelo menos, consegui ver virtualmente esses queridos a quem chamo de A Diretoria. A maioria, estrangeira como eu, mas todos eles, sem exceção, responsáveis por eu me sentir muito à vontade por aqui. Conversas divertidas, inteligentes, éticas, sérias sempre regadas a comidinhas gostosas em encontros organizados por anfitriãs perfeitas como Suely e Cris (e eu de vez em quando). 
Pois então - foram quase dois anos sem nos encontrarmos pessoalmente (só uma ou outra vez en passant e de longe no supermercado, ou no consultório de Jô, rapidamente, para vacinar Chica ou Kong ou Zen). E resolvemos nos ver, todos já vacinados, a maioria já com a dose de reforço. Só ficamos mais juntinhos pra foto, nessa aglomeração de sete.  
Puxa, que bom que foi! Que amadas são essas pessoas, e como é sempre bom lembrar disso.

Marighella, bordado e a necessidade de mais cor e poesia para a luta

Li há alguns dias um texto ótimo da sempre ótima Ana Paula Xongani sobre o filme Marighella, dirigido por Wagner Moura e por fim disponível nos cinemas brasileiros após dois anos de boicote descarado do genocida governo atual. 
Não bastasse o interesse na figura de Marighella, ainda havia a questão de honra de assistir ao filme boicotado pelo Bozo e de formar parte da resistência ao desgoverno e ao desmonte das políticas sociais no país. Eu gostei muito da atuação de Seu Jorge como o destemido líder revolucionário baiano, que eu conheci dos célebres livros de Jacob Gorender e frei Betto, dos relatos de meu primo Takao e da poesia do próprio Marighella. A visão que eu tinha do líder da ALN era de um cara mais incisivo em tudo, um Ogunzão à frente da batalha (mas daí descobri que ele é de Oxóssi, um orixá caçador, mas mais low profile, estratégico, menos atirado). 
Xongani chama a atenção, contudo, para o fato de não se falar tanto do lado poético de Marighella, de todos os camaradas brancos serem heroificados e de tudo descambar para muita violência no filme - sim, acaba sendo um filme de ação e violento, embora não de uma violência gratuita, mas a que temos em mente quando falamos da ditadura brasileira dos anos 1960-70. Imagino que isso se deva a uma escolha do Wagner Moura, de enfatizar uma história que corre o risco de cair no esquecimento. Mas concordo com ela de como essas escolhas acabam por associar não só à galera de esquerda a violência da guerrilha urbana, mas também reiteram a violência associada às pessoas negras - e não era ele o líder da galera que assalta bancos e aterroriza os cidadãos de bem? As demais personagens negras, mulheres, por sua vez, pouco destaque têm na história. OK, há uma licença poética de transformar os freis Ivo e Fernando, da Livraria Duas Cidades, no pastor Henrique Vieira, que aproveita uma deixa para falar do Jesus histórico, provavelmente de pele escura. 
Depois de ler o texto dela, me ocorreu que uma figura importante como Takao não tenha sido mencionado. Sempre me chamou a atenção um revolucionário oriental no Brasil. E ele, que estava à frente do GTA, não está no filme nem mesmo com outro nome, como acontece com Joaquim Câmara ou com Sérgio Paranhos Fleury. Ainda não terminei de ler a biografia que deu origem ao roteiro para saber se Takao aparece na história, mas fiquei pensando se isso não tinha a ver com questões de pele também. Sei lá, me ocorreu.
Calhou que, em meio ao bordado, estava também montando minha paleta de cores de pele para representar esse Brasil tão pouco branco, tão mais mestiço. Como fazem falta, em todo tempo, a cor e a poesia para fortalecer as lutas diárias por igualdade, respeito e justiça.

Quem tem medo do novo?

Nunca fui de ter medo do novo. Aliás, pelo contrário, o novo sempre foi a base sobre a qual me movi. Talvez porque eu sempre estivesse mesmo em movimento, tudo era novo, todas as paisagens eram novas. Sempre fui mezzo heraclitiana, mezzo aristotélica. Por isso me faz tão mal a estagnação. 
Apesar das mudanças constantes, sempre havia alguma segurança, o mínimo de controle de riscos. O problema hoje é que tudo é tão inseguro, tão imprevisível e instável que, no lugar da esperança, vem a ansiedade. Até o novo é outro, soa mais a má notícia que a novidade. Não sou eu que me movo, é o chão que se move sob meus pés. 
Eu me lembro de uma época de carestia, na minha juventude, em que a cada dia os produtos no supermercado tinham um preço diferente. Isso voltou a acontecer agora, com dimensões agigantadas, lançando muito, mas muito mais pessoas à penúria alimentar. Hoje não consigo só lamentar como está tudo tão caro para nós - sendo repetitiva, não é humano ignorar a fome de milhões. Isso me deprime enormemente. 
As surpresas más de que falo são desse teor de desumanidade - qual a notícia ruim do dia, sempre me pergunto - mas também englobam o crescimento de aproveitadores da miséria. 
No final das contas, não há como evitar o novo, e há quem tente tão somente ignorá-lo, o que não quer dizer que não está ali. E por que o ignoraríamos, em vez de aprender a dançar com ele, às vezes duelar com ele? Tudo muda o tempo todo, no mundo. Já dizia Heráclito, sempre nos lembra Lulu.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Bordado libérrimo

Por esses dias, resolvi iniciar o projeto do vestido bordado. Já não me lembro qual foi a motivação, talvez um grupo de artistas em Piaçabuçu que lutam pela preservação do rio São Francisco por meio da arte, talvez a busca de algo para combater a ansiedade. Até ia aproveitar pra dar uma praticada na aquarela, fazendo um esboço do bordado, mas já fui logo traçando as margens do rio para depois pensar nos elementos que colocaria. 
Não desenhei tudo de uma vez, como costumava fazer, para manter o foco no que estiver bordando e assim evitar a ansiedade de terminar logo, o que poderia me levar a desistir da tarefa. 
Aos poucos estou pesquisando pontos novos e antigos, imagens ribeirinhas e decidindo aos poucos a disposição das cenas. Andei apanhando bastante no nó francês, que já fiz tanto, ao decidir bordar um ipê amarelo. Quando canso (porque, como o ponto areia, o nó francês "rende" pouco), trabalho em outro desenho, como o dos queridos mandacarus, usando ponto-atrás e corrente. Até começo a inventar umas soluções, e me sinto mais criativa que nos outros projetos, em que acabava repetindo uma meia dúzia de pontos. Um bordado mais livre mesmo.
Gosto do que vai saindo, apesar de saber que o processo ainda é longo. Mas já ouvi elogios ao trabalho feitos pelo marido, que, quando soube que eu ia bordar um vestido, achou pouco provável que seria algo "vestível", pois um vestido todo bordado "é mais coisa de artista", não é algo que pessoas normais usam (ou fazem). Prova de que nunca sabemos tudo sobre as pessoas, nem mesmo sobre as pessoas com quem convivemos. 

sábado, 16 de outubro de 2021

Subversões alimentares

Daí que, dos 7,5 kg perdidos com orientação da nutricionista em cerca de seis meses, reencontrei 5 kg ao longo da pandemia. Não é de espantar, já que andei cozinhando muita comfort food, doces, receitas com manteiga e gordura e me exercitando muito menos, além do estresse com pandemia, contexto nacional e trabalho triplicado. 
No primeiro semestre deste ano, também recomeçaram minhas alergias, que tinha associado à época - só porque calhou de acontecer na mesma época em anos anteriores; se estivesse em São Paulo, diria que é pelo ar mais seco do outono, o que, claro, não é o caso aqui. O muco, eu já sei, tem a ver com consumir muitos lácteos, mas não tinha pensado em nenhuma relação da alergia com permeabilidade intestinal. Quando fui procurar outra nutricionista, porque a anterior entrou em licença-maternidade, encontrei uma que trabalha com essa abordagem, de considerar uma alimentação menos inflamatória para possíveis casos de intestino permeável. 
Eu já tinha lido algo a respeito no livro sobre digestão, que comprei há dois anos, quando estive em SP e passando muito mal. Agora me aprofundei um pouco mais, depois da conversa com a nutri, que me recomendou reduzir um pouco os lácteos e a carne, apostando em proteínas vegetais para complementar as refeições. Adoro leguminosas, mas tinha cortado a pedido de Guga, que estava reduzindo bastante os carboidratos de todo tipo. 
Claro que não dá para ficar só no arroz com feijão - e eu já vinha comprando grão de bico, feijão fradinho e lentilha para cozinhar de vez em quando. Depois de experimentar as almôndegas de lentilha e ter conseguido congelá-las, resolvi fazer também falafel (e congelar) e homus. O falafel foi inclusive subvertido com o acréscimo de um pouco de cenoura. Também usei feijão fradinho em uma receita de curry com cogumelos (usei shitake fresco) e molho de tomate - ficou ótimo, e ainda aprendi a fazer chapati, um dos pães indianos. 
A quinoa é bem versátil e substitui o arroz, com a vantagem do aporte proteico e nutritivo que ela traz. Como hoje tinha sobrado espinafre, fiz um "quinoto" (achei que tinha inventado a palavra, mas já tinha gente usando) de espinafre, salsa, parmesão e castanha do pará ralada. Eu adorei - o marido achou OK. 
Já tenho ideias para arroz negro, quiche de grão de bico, alho poró e palmito, pão de ervilha e pasta de ervilha (esta sugerida pela nutri). 
Na verdade, emagreci pouco depois de ter mudado a alimentação. Estou retomando, aos trancos, os treinos na academia, sempre cheia. Mas já sinto que meus episódios alérgicos têm reduzido bastante. Ainda como doces de gula, mas se pensar um pouco mais nem sinto tanta vontade assim. 
Com a alta dos preços, a tendência é realmente aproveitar tudo que temos na geladeira, porque não está fácil não. Reduzir as quantidades, aproveitar a sazonalidade, mas manter a qualidade do que comemos. Uma coisa de cada vez. 

E, afinal, prosseguimos

O brazyl está uma desgraceira tão grande que é difícil até pensar como é possível prosseguir em meio a tanta corrupção, iniquidade e ódio - porque não é mais possível falar apenas em intolerância já que pululam as violências diárias contra quem representa a diversidade ou queira levantar-se contra a opressão histórica colonialista e patriarcal. Ao redor, a hecatombe mundial ganha contornos mais fortes, com a crise financeira na China, os movimentos antivacina, o crescimento de governos antidemocráticos. Em toda parte, tem mais gente passando fome, adoecendo, vivendo precariamente, sendo assassinada de uma forma ou de outra.
Não tenho, pessoalmente, muita esperança no futuro próximo. Meu desânimo é enorme, de um tamanho que nunca vivi antes. Supera, de longe, as dores de amor, as frustrações pessoais. Porque é difícil fazer planos no meio do Apocalipse, e, embora soubéssemos desde sempre das desigualdades que nos cercam, todo o horror foi de tal modo desvelado que soa como indecência ter desejos, aspirações, sonhos. 
De repente, o discurso de "fazer diferença" parece vazio se não tiver como escopo realmente arregaçar as mangas e atuar concretamente na realidade - é muito vago só pensar "serei um ótimo profissional" e pronto. Minha pergunta diária, para mim e, secretamente, para os outros, tem sido: o que você tem feito pelo outro? Ainda que reste algo do ranço ocidental utilitarista nesse pensamento, há também nele uma implosão do pensar somente em si, tão próprio do Ocidente capitalista. 
As respostas acabam vindo justamente do outro lado, de tudo que não representa a cultura ocidental, patriarcal e colonialista. Vêm das mulheres, dos negros, dos indígenas, da comunidade LGBT, dos pobres. Dos éticos, dos solidários. E da natureza. Aliás, foi a flor da rosa-do-deserto brotando que me fez lembrar que tudo prossegue, apesar do horror e apesar dos meus descuidos com as plantas. As sobreviventes, resilientes, continuaram sua existência sem mim, mas exultaram quando receberam nova camada de composto e voltaram a ser regadas no final da tarde. Ver o milagre da multiplicação nas espadas-de-são-jorge, que chegaram em quatro e hoje são mais de vinte, a resistência da árvore da felicidade, que por fim se enraizou e buscou o céu - tudo isso me dá outra dimensão do viver e do presente. Tento imitá-las nessa vocação de contrariar o que é instituído, o peremptório, o definitivo, movendo-me ainda, lembrando-me de respirar e de descascar cebolas quando me cabe descascá-las.  Prosseguindo. 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Cadê a boa-nova a andar nos campos?

Meu espírito romântico sempre me traz à mente os versos de "Sol de primavera" logo nos primeiros dias de setembro. Mesmo vivendo um dia por vez, buscando o presente a toda prova, espero também, junto com Beto Guedes, que a boa-nova venha andar nos campos. Mas está cada vez mais difícil na distopia real em que vivemos, no mundo mas principalmente neste brazyl desgovernado e colonial velho de guerra. 
Não sabemos como será o futuro no trabalho, já que a área de educação, especialmente a pública, tem sido solapada sem descanso pelo desgoverno. A coisa é tão séria que, no dia do centenário de Paulo Freire, em que posto um comentário sobre o recifense-careca-querido-patrono-da-educação-reconhecido-mundialmente, tenho que ler um "Já foi tarde", e depois a manjada fala com colorações fascistas de que o que Freire queria mesmo era formar militantes, e não educadores, e por culpa dele a educação brasileira está um fiasco. Mas gente.
É chato ter que bloquear uma pessoa, mas não dá mais pra perder tempo com quem escolhe a ignorância, a injustiça, as inverdades. Apesar de seus posicionamentos duvidosos, eu a mantinha entre meus contatos por um carinho pelo passado (muito passado, na verdade, e en passant) comum. E para quê? Para a pessoa, tão estudada, vir veicular mentiras na minha página. Que tempos! 
A situação é mesmo tão feia pra educação que vemos, eu e Guga, nosso projeto de segunda graduação fazendo água com a má qualidade dos serviços prestados pela universidade (não pública). Optamos por cursos semipresenciais, mas tudo é muito desorganizado, a ponto de o conteúdo da aula síncrona não bater com o material didático digital nem com o que é pedido nas tarefas ou no simulado. Simplesmente, é impossível saber o que estudar. A bibliografia de referência, por exemplo, é para especialistas, não para principiantes, e os professores, em seis aulas de 50 minutos, repetem as mesmas informações seis vezes, o que não ajuda em nada. Pela primeira vez na vida, resolvi não fazer uma tarefa dada - e mesmo assim fiquei na média. A atividade mais tosca que entreguei, feita de qualquer jeito, mereceu 10. Como é possível levar a sério? Que tipo de profissional pode se formar assim?
Hoje, ainda por cima, o nefasto inominável fez seu discurso de realidade paralela na ONU, lançando mais uma vez o país à chacota geral, para coroar a horrível situação social e econômica em que já estamos. Como é possível alguém duvidar do poder transformador da educação diante disso tudo? A ignorância só deixa cada vez mais longe de nós qualquer tentativa de primavera, afasta de nós o sol e as boas-novas. 

domingo, 8 de agosto de 2021

Quase um ano e meio na direção do apocalipse zumbi

Ando bem sem vontade de escrever qualquer coisa. Cansaço pelo trabalho triplicado e repetitivo, o horror diário nas notícias, a galopada vertiginosa dos preços de tudo, a dificuldade de enxergar um futuro no meio disso tudo. Em meio às pandêmicas olimpíadas, a segunda temporada da CPI, e oscilo entre a alegria de testemunhar vitórias femininas e periféricas e a desesperança de ver qualquer mudança na realidade mais disparatada da história brasileira. 
Tenho esquecido até de respirar, sinal de que as coisas não estão bem - a respiração suspensa como o futuro. Tento um simulacro de porvir me inscrevendo numa segunda graduação, mas isso ainda não me aquece nem devolve completamente a respiração. Demorei mais de duas semanas para agradecer aos amigos que se lembraram do meu aniversário - algo quase impensável, no meu caso, memoriosa de efemérides que sou. Sonhos ruins vêm, noite sim, noite não, amargando temores antigos, metamorfoseados em ira.  
Ensaio uma volta à academia local, munida de cadeado, perfex, álcool, máscara, e acabo trancando tudo no armário com a chave dentro - e tenho que ir buscar um chaveiro para quebrar o cadeado, algo que nunca me aconteceu antes. Dou-me conta de que, além do estresse por tudo e pela pandemia, a idade também vem cobrando seu preço na memória, na pele que resseca cada vez mais fácil, nos cabelos que caem abundantemente. Sou tomada por um súbito pavor do que significa essa queda capilar quando lembro que preciso refazer meus exames médicos, com mais de um ano de atraso. 
Tenho uma boa ideia para um trabalho final da pós como ouvinte, mas desanimo a cada tentativa de respirar. Desânimo é alma que se esvai aos pouquinhos. 

sábado, 31 de julho de 2021

Maníaca dos fitocosméticos

Nessa pandemia, virei a maníaca dos fitocosméticos. Com a resolução de gerar menos plástico (embora alguns, como na foto, tenham embalagem de vidro), fui atrás de condicionador e xampu em barra. Já falei aqui da estranheza nas primeiras vezes que usei os produtos da Besunté - depois, fiquei abismada com a redução do frizz (algo que, insisto em dizer, eu não sabia que existia até me mudar para a mais úmida das cidades depois de Manaus) e a maciez dos fios. Tinha achado complicado manter as barras porque derretem rápido, mas logo adquiri uma saboneteira apropriada, de outra marca, a Moaralê, que deixa tudo mais sequinho, portanto mais duradouro. 
Aliás, como tem crescido o número de mulheres investindo em suas marcas de fitocosméticos! Só na ECDE, a cada vez que navego pela página, descubro uma nova investidora, como a Moara, da Moaralê, a Dani, da Amor Perfeito, a Carla, da Made in Casa. E tudo parece sempre lindo, confiável, mais ecológico. Não à toa, Emma Silliprandi louva o papel das mulheres na proteção da natureza, na promoção da agroecologia. Ora, alguma coisa de boa teria de advir do papel a nós imputado por séculos na área de cuidados.
Além da coragem para empreender, para correr atrás daquilo em que acredita, essas mulheres demonstram, na atenção a cada detalhe, na qualidade dos produtos, num site ou catálogo caprichado, no atendimento, muito amor pelo que fazem e entregam. De cada marca de que comprei, tenho pelo menos um produto maravilhoso a destacar, como os já mencionados xampu e loção facial da Besunté, o óleo para sobrancelhas e o sabonete de açafrão milagrosos da Amor Perfeito, os óleos, o xampu (que nem carece de condicionador) e o balm labial, tudo cheirosíssimo, da Moaralê. E já estou aguardando mais coisas, agora da Made in Casa. Daqui a pouco virarei testadora de fitocosméticos. Com muito gosto, aliás. 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Sometimes it hurts instead - compras on-line que não dão certo

Muita, mas muita gente mesmo começou a comprar mais pela internet durante a pandemia. Eu, que já comprava porque aqui não temos serviço de entrega postal, aumentei ainda mais o volume de compras. Normalmente, deram certo, com entregas no prazo e produtos corretos. 
Nas últimas semanas, porém, tive alguns problemas. Comprei um sapato da Insecta Shoes, uma loja de sapatos veganos, para saber somente duas semanas depois que ele não estava disponível; o monitor cardíaco da Garmin que comprei na loja oficial chegou e não liga; um vestido da Complexo B, uma marca carioca de que gosto muito, que foi trazido pelo próprio Beto, um querido, veio com defeito no corte (tive que trocar todos os botões de lugar para alinhar o barrado da estampa, que formava um "degrau", além de refazer um lado da bainha e aplicar uma pence na gola do outro lado) - por alguns momentos, o vestido, tão bonito, até perdeu a graça. 
Me parece que o excesso de demanda de compras on-line gera essas confusões/desatenções - imagine quantas pessoas como eu estão fazendo a mesma coisa? Talvez isso explique alguém não conferir a qualidade do produto ou mesmo o estoque. Também essas quebras de expectativas vêm me lembrar de comprar menos. Precisava de sapatos e vestidos? Certamente, não. E a questão realmente não é simplesmente reclamar, mas refletir sobre o consumo em si, as partes envolvidas e que tais - até porque, com relação aos pequenos empreendedores, só tenho tido surpresas boas, nos cuidados com o pedido, com o produto desde a fabricação, passando pela embalagem e envio até o acompanhamento de feedback. Uma das diferenças talvez seja justamente a pouca pressa, esse modo slow de produzir e comerciar, sem desespero, com atenção aos detalhes e à qualidade. 

sábado, 26 de junho de 2021

Vacinados - um alívio no meio do caos

Em uma semana que começou confusa, com pane elétrica que durou dois dias e já atrasou o trabalho sempre de prazos justos, conseguimos nos vacinar, na xepa do posto de saúde de Monte Gordo. 
Quando vimos que a fila por idade estava se aproximando da nossa, fomos ao posto, na segunda-feira, para fazer nossas carteirinhas do SUS, coisa que ensaio há uns 3 anos. Lá fomos muito bem atendidos e soubemos que havia uma lista para a xepa, aparentemente bem pequena. 
No dia seguinte, quando eu estava fazendo almoço - enquanto o eletricista terminava de arrumar as instalações que nos transtornaram a vida desde o dia anterior -, recebi uma ligação de número desconhecido. Atendi e ouvi: "Querida, vem vacinar. É Sandra, do posto." Perguntei se Guga poderia ir também, mas acho que ela não atinou que ele também estava na fila da xepa, acabou dizendo que não era mais para ir. Dali a pouco, os cubos de frango dourando na panela com curry, cebola e maçã, Guga grita pra eu largar o que estava fazendo e irmos para o posto. Sandra tinha ligado pra ele também. Eu, legalista, fiquei temerosa de ir sem ter sido confirmada, mas ele já foi pegando a chave do carro, e só tive tempo de jogar a panela do semi-almoço dentro do forno. 
Saímos correndo e chegamos ao posto quase vazio. Uma moça chegou ao mesmo tempo que nós, com cara de postulante à xepa. Logo encontramos a moça que nos ligou, que foi quem tinha feito as carteirinhas no dia anterior. Ela sorriu debaixo da máscara, disse que a enfermeira estava voltando do almoço. 
Dali a pouco, o bracinho que estava quase caindo de tanta espera recebeu a tão desejada vacina. Coronavac. Fomos tão felizes e aliviados pra casa que nem sei descrever. Foi outra grata surpresa local, a vacina tão à mão, ou tão ao braço. Com um atendimento tão eficaz e simpático. Sim, mil vivas ao SUS e aos profissionais da Saúde.
Somente no dia seguinte tivemos um pouco de sonolência, mas, à parte isso, nenhum sintoma mais sério. 
E agora aguardamos outra vacina, a Covaxin, operar uma maravilha contra o desgoverno que aí está. 

sábado, 19 de junho de 2021

Bandeira

Mais bandeirosa que nunca. Com patrocínio de Use Prida e Emicida. É só o que nós tem - nós mesmos. Mesmo. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Um jantar perfeito de Dia dos Namorados


No dia dos namorados do ano retrasado, fizemos um jantar a quatro mãos, e foi ótimo - eu fiz uma torta, Guga cuidou da massa. Já no ano passado, passei dois dias preparando o jantar, fazendo biscoito e mascarpone caseiros para o tiramisù, que, modéstia às favas, ficou maravilhoso. Também fiz um mil-folhas de batata lindo, um filezão de carne boa, pão italiano, tudo no capricho, mas cansativo. E não fez esse sucesso todo não. 
Daí, este ano, como ainda por cima eu estava louca tentando escrever 15 mil palavras além de trabalhar em duas frentes e fazer almoço e lavar roupa e louça, marido sugeriu conhecermos a hamburgueria do bairro, Brutu's. Combinamos que se estivesse lotada voltaríamos pra casa e descongelaríamos a quiche de alho-poró. 
Tivemos a maior surpresa positiva dos últimos tempos. O lugar tem poucas mesas, e apenas duas estavam ocupadas quando chegamos. Decoração bonita, atendentes usando máscara (que hoje é um megadiferencial), e tinha chope. Pedimos chope, e veio gelado, bem tirado, ótimo. Escolhemos o hambúrguer clássico, 150 g de carne, com bacon, cebolas empanadas, molho de picles, queijo. Vinte e três reais, mais barato que lanche do Bob's ou do McDonald's. Pedimos batatas fritas pra acompanhar, que vieram bonitas num cesto de imersão fazendo as vezes de prato. Dali a pouco chegaram os hambúrgueres, lindos, bem montados, sobre tabuinhas de madeira. Apesar da altura do sanduíche, não desabaram e o molho também não vazou. Uma delícia!
Voltamos felizes e impressionados pra casa, e ainda tomamos vinho e comemos chocolates gostosíssimos e assistimos Lupin. Perfeitos, o dia dos namorados e o nosso jantar. 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Falta do que fazer

Como eu não tinha mais nada pra fazer na vida, resolvi escrever um ensaio, para participar de um concurso desse gênero sobre o tema feminismo. Porque estava sobrando tempo entre editar um volume inteiro, revisar caderno de aluno, fazer tarefas de casa, aguardar originais de um job com prazo estourado, bordar um pouquinho entre uma coisa e outra é que resolvi me aventurar a iniciar e tentar terminar um texto com pelo menos 15 mil palavras. 
Só ontem fui fazer a conta do quanto já tinha escrito - míseras mil palavras - e do quanto faltaria, em média. Caraleo, é o tamanho do meu TCC. Estranhei um tanto, já que o gênero ensaio é tão mais leve; ainda que defenda uma ideia central com argumentos plausíveis, não é o espaço/momento do aprofundamento, não é uma tese, não é sequer uma dissertação, nem mesmo um TCC. 
Enfim, os olhos cheios de areia, reservo para mais um dia a tentativa de ultimar a tarefa. A ver (se os olhos velhos deixarem).

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Mais tentativas ecológicas - Besunté

Amei de cara o nome da marca, Besunté, remetendo a manteiga, coisas cremosas e francês. Conheci no ECDE. Reservei para algum momento em que estivesse precisando de sabonetes, xampus etc. Porque o apelo dos produtos que não precisam de embalagens grandes é muito bom para quem pensa em reduzir o lixo que produz. Some-se a isso adorar uma novidade, que é o meu caso também. Quando chegaram ao Brasil os produtos da Lush - que eu conheci na Inglaterra, pobre de marré mas chique -, comprei o equivalente à minha coragem de desembolsar um bom dinheirinho. Mas valiam muito e duravam um tanto. 
Hoje já é uma ideia muito mais comum, a dos cosméticos artesanais, que valorizam insumos mais naturais e formas de produção menos agressivas ao meio ambiente e que não envolvam testes em animais. Como sigo com a ideia de comprar do pequeno produtor/comerciante e continuo querendo experimentar coisas novas, resolvi encomendar alguns produtos com a Camila, proprietária da Besunté, que fica em Mogi das Cruzes, SP. Aliás, tem várias mulheres no grupo empreendendo na área de cosmetologia que também me parecem merecer chances futuras. 
Bueno, experimentei já o sabonete de carvão ativado com melaleuca e o tônico facial de lavanda, rosa mosqueta e melaleuca. Amo melaleuca, acho que é o próprio perfume da limpeza, além de anti-inflamatória. Gostei do tônico (Guga não gostou do cheiro, mas me lembra chá); o sabonete, achei que dura pouco, mas pode ser que não deva ficar direto no boxe, pois derrete um bocadinho; ainda estou aprendendo a lidar com o condicionador, sentindo falta de mais cremosidade. Mas, mesmo com pequenos poréns, quando é que, além de me sentir cuidada e ajudando uma mulher a cuidar de si, eu receberia numa loja chique um mimo com bilhetinho escrito à mão por ter comprado alguma coisa? 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Dias de estupefação

Das menores às maiores surpresas. Das comezinhas às ontológicas. Ando estupefata (ou estupefacta, que tem uma carga dramática adicional), mais que nunca. 
Nos últimos dias, descobri, indo a uma ótica perto de casa, que meus óculos, pelos quais paguei muito caro há dois anos, não são multifocais. A optometrista constatou isso só de movimentá-los para lá e para cá. Ainda maior o preço pago pelos óculos "normais", para miopia apenas, em comparação ao orçamento da pequena ótica de vila, que cobra menos de um terço pelas tais lentes do tipo freeform (a marca, não sei). Fiquei muito chocada com o contraste e me senti um tanto otária.
Também descobri, no salão de cabeleireiro local, onde Guga foi duas vezes, que meu cabelo estava tortíssimo, desde novembro de 2020. O cabeleireiro não tinha espelho avulso, então tirou uma foto com o celular e me mostrou - mais um choque! O lado direito estava muito, muito maior que o esquerdo. E de repente me lembrei do cabeleireiro no salão todo arrumado de Salvador - no finalzinho, ele inventou de fazer uns repicados artísticos, e aí deve ter-se dado a merda. Para aumentar o choque, novo contraste: corte de salão local por 31 reais versus corte salão do shopping por 200 reais. 
Outro motivo de espanto: fiz uma publicação simples no Facebook, comentando que não me lembrava de como Highlander era um filme tosco. Foi o suficiente para aparecer um defensor da película, um colega de Bienal, ufólogo, que vive postando sobre suas superações na vida. Longe de mim desmerecer as batalhas alheias, mas achei um tanto irritante que ele, que outro dia se doía por uma "carteirada" acadêmica que levou de alguém, tenha vindo ao meu post, do nada, para trazer informações retiradas da Wikipédia (sim, sim) como argumento de defesa do filme em questão. Que ele era historiador, especialista em cinema, que já assistiu 6 mil filmes, que o filme tosco na verdade era kitsch, que não era bom usar o termo "tosco", porque assim parecia que o filme era ruim, o que não era verdade, tudo era muito pensado e só quem tinha mais profundidade no assunto podia perceber isso. Ou seja, um falso modesto biscoiteiro querendo aparecer de forma tosca e com argumentos pífios. Acabou que um amigo comum, também da Bienal, mas alguém mais próximo a mim, veio participar da conversa, trazendo O nome da rosa (que o outro disse ter assistido umas 30 vezes, meodeos), e acabou concordando com nosso colega ufólogo que eu não tinha razão, que Highlander é ótimo, porque as luzes neon e tal. Mesmo uma amiga que concordou com a tosquice do filme foi questionada, porque, afinal, temos que zelar pela arte. Pensei em ser mal-educada, mas me contive. Porque, afinal, isso dá pano pra manga de outro post, sobre o sentido da arte, de que já falei aqui, mas que abre outra frente - o da importância da experiência individual diante da obra. A minha experiência, na conversa maluca no Facebook, por exemplo, foi totalmente desconsiderada. (Curiosamente, por dois homens. E aí me lembrei do outro "amigo" de FB que entrou no meu post só pra "discordar" da forma como chamei um prato. É muita petulância, por coincidência ou não, desses homens.)
Por fim, os espantos diários diante do desgoverno e de seus abduzidos asseclas que têm comparecido à CPI, como Nise Yamaguchi, que insiste no uso de medicamentos ineficazes, nega sua parceria com o Bozo e, por fim, foi pega no pulo pelo ótimo Alessandro Vieira, senador do Piauí, um dos poucos a fazer a lição de casa, mais preocupado em obter informações do que em falar do púlpito. 
Eu quase que não consigo mais trazer o queixo de volta nestes dias. 

sábado, 29 de maio de 2021

Desafio (bor)dado

Depois da semana com as meninas Dumont, retomei o bordado. Primeiro, finalizando meus poucos trabalhos, pra mandar emoldurar e virar essas páginas. Depois, adquirindo outros insumos, como as linhas de cores metálicas da Cairel e da Silko (ambas distribuídas pela Corrente) para novos projetos, como o do vestido bordado. 
Sempre gostei de roupas bordadas, e tinha algumas peças da Brazoo com bordados singelos. Anos depois, conheci o site das bordadeiras de Penedo, Alagoas, o Pontos e Contos, em que elas apresentam blusas, saias, camisas e vestidos bordados lindamente, via de regra com a temática do rio São Francisco. Até me arrisquei a perguntar quanto custava um vestido daqueles, e quando ouvi a resposta achei que deveria eu mesma tentar bordar o meu. Não porque não ache que valha cada centavo dos 750 reais pedidos, mas porque integro a categoria intelectuais sem plano de saúde, ou seja, o que não for gasto do que ganho ou vai pra doações, ou vai pra poupança emergencial. 
Portanto, fui atrás das linhas indicadas pelas Dumont e de um vestido que pudesse bordar. Acabei achando um de linho misto da Hering, em promoção, maravilha dupla (o tecido e o preço). Agora é abraçar o desafio. 

segunda-feira, 24 de maio de 2021

O espaço em branco

Há alguns (na verdade, muitos) anos, quando fiz uma oficina de ilustração de livros infantis com o Odilon Moraes e o Fernando Vilela, me vi no meio de um grupo supertalentoso, de artistas iniciantes e profissionais, com domínio maior ou menor de técnicas diversas. Eu estava lá de absolutamente atrevida que sou, beirando o sem-nocionismo, ou porque simplesmente me encanta estar no meio de gente talentosa e interessante e inteligente. A ideia era trabalhar um tema comum - o circo - para criar, individualmente, um livro ilustrado. Já fui logo avisando que não era artista, que não desenhava bem e tal. 
Escolher o que fazer, para mim, foi algo bem fácil. Não poderia ser outra coisa além de O grande circo místico, de Chico Buarque e Edu Lobo. A canção "Ciranda da bailarina" é cheia de imagens poéticas e engraçadas, e foi ela então a convocada para a tarefa. 
Com o ascendente em Áries, normalmente eu topo a parada para depois pensar em como é que vou executar. Como disse, o desenho, sobretudo no meio de um grupo de artistas, não era minha primeira opção. A pintura, menos ainda. E, no entanto, a oficina era de ilustração. O que fazer? O que me salvou foi a colagem. 
Penei com o Fernando, que não se interessava, nos momentos de orientação, em ver meu projeto de livro, ainda muito incipiente. Mas que se surpreendeu com a apresentação final e fez um comentário revelador: de que eu sabia trabalhar muito bem com o espaço em branco, que o espaço em branco era parte da própria linguagem. De fato, as colagens conversavam com o branco da página o tempo todo. A partir desse comentário, percebi como gosto dessa possibilidade do espaço em branco, dos vazios debaixo do risco do meu desenho minimalista, das minhas colagens (como a que fiz para as gêmeas de Gleice). Pensando bem, confirma o meu senso de "incompletude" de que outro dia falava minha orientadora. 
Ainda acerca do espaço em branco, o querido Wagninho me enviou há algum tempo umas imagens de bordados feitos pela sueca com ascendência sámi Britta Marakatt-Laba, compondo uma espécie de tapeçaria de Bayeux dos bordados, mostrando uma longa narrativa, toda em linha preta sobre branco. Uma das coisas mais bonitas que já vi. Porque, embora ache lindíssimo o que fazem as meninas Dumont, preenchendo todos os espaços do tecido com cores e pontos, me fascina a capacidade de desenhar com a linha. Mas pode ser também porque não sou muito boa em preencher os espaços - a aquarela que o diga. 
Transferindo para a página em branco do texto, seria como deixar coisas por dizer, à imaginação do outro. Uma história por construir. 

domingo, 23 de maio de 2021

Pizza de pão pita com gorgonzola, alho-poró e castanha de caju

Já um clássico aqui em casa, a pizza feita com pão pita (ou árabe, ou libanês, ou sírio, tout le même). Guga falou em comermos pizza, em princípio buscar uma na nossa pizzaria favorita, mas depois sugeriu que fosse de pão pita. Daí, para sairmos do lugar comum, resolvi fazer um dos sabores da 7 Express, o de alho-poró, gorgonzola e castanha de caju, sobre mussarela e molho de tomate, claro. Não é que ficou muito, muito boa? Com a vantagem de que, feita em casa, a gente sempre faz recargos de ingredientes, sem miséria.  

sábado, 22 de maio de 2021

Férias na pandemia

Fazia muito tempo que eu não tirava férias. A última vez - também a última em que viajei - foi há um ano e meio ou mais. No começo do ano, fui obrigada a tirar, porque o prazo estava vencendo. Mas não tirei de fato - foi justamente o período em que estava chegando um primeiro lote de materiais para edição. A partir dali, ao longo do primeiro semestre, permanecemos num vórtice louco de trabalho, duplicado pela nova realidade digital, além da impressa. Suspeito que estava à beira do burnout, que se não tivesse comunicado à galera que íamos tirar, eu e Gustavo, duas semanas de férias, ia mesmo entrar em colapso. 
Montei logo uma lista de coisas a fazer em duas semanas, sem muita preocupação em realizar tudo. Fundamental era descansar e pintar e reorganizar o escritório, o resto era lucro. Porque limpar e organizar livros à medida que se finaliza uma parede - sim, não tirei nada de dentro do escritório, fui movendo as coisas de lugar, pintando, limpando, realocando - não é bolinho, ainda mais sozinhazinha. No final do dia de pintura (o dia anterior foi só para aplicar massa e lixar), parecia que eu tinha sido atropelada por um trator, ida e volta. Só tomando um Tandrilax para conseguir dormir sem dor. 
De repente, já na arrumação, parecia que eu tinha mais livros do que antes. Aparentemente, a estante de metal me daria mais espaço que a já empenada de madeira, mas não. Também a redistribuição de quadros na parede pede mais reflexão. Chica ainda não se encontrou debaixo da minha mesa, agora em outro lugar. Mas herdei um armário-escaninho de Guga, que deve comportar vários objetinhos expatriados. 
Já entrei no lucro porque, além de conseguir pintar e arrumar o escritório sozinhazinha, ainda lavo roupas, louça, cozinho, tenho assistido a uma oficina do Matizes Dumont e uma do Olivier Anquier. A ver se consigo dar uma geral nas plantas, assassinadas no período mais louco de trabalho, além de colocar em dia leituras da pós, bordar, escrever a sério - pelo menos, dar o primeiro passo em várias coisas, essas sim, que desejo rotineiras. Além de entregar a declaração de IRPF, enfim. Em outras férias, em outro contexto, estaria pensando em fazer uma viagem, mesmo curta, para a qual precisaria convencer o marido. Com a total impossibilidade de isso acontecer - viagem e convencimento -, resta aproveitar as férias tornando melhor meu espaço, exercitando habilidades, recriando a rotina. Maratonando a CPI da Covid, imagine - o retrato mais fiel da época em que vivemos. 

domingo, 16 de maio de 2021

Graham crackers texturizadas com amassador de batata

Receita da incrível Carol Labaki, confeiteira brasileira que vive no Chile. Como não tinha silpat texturizado, fiz uma textura "rústica" com amassador de batata. Ficou parecendo Lego. 
Poderiam ser mais fininhos, para ficar mais crocantes, ou então ficar mais tempo no forno com temperatura mais baixa. Mas, mesmo mais macios, lembrando cookies, ficaram uma delícia.  

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Quando dá certo é tão legal!

Aquela história de "o que tem na geladeira ou no armário" é muito válida aqui em casa. Normalmente, uma coisa puxa outra, um ingrediente chama o outro, e logo temos coisinhas diferentes saindo do forno ou do processador. 
Comprei outro dia, na promoção, o tal leite condensado Tirol, que é do Sul. Como tinha comprado biscoitos cream cracker pra fazer nuggets caseiros, pensei: por que não fazer uma torta com massa de biscoito e creme com leite condensado? E podia ser de maçã, já que tinha recém-adquirido um pacote. Então, de uma feita, saíram torta de maçã com creme de confeiteiro e nuggets caseiros. Duas descobertas ótimas: o nugget é perfeito (abaixo, a receita) e o creme de confeiteiro com leite condensado, que eu nunca tinha feito, é muito mais firme que o tradicional (usei 250 mL de leite condensado, 1/2 xícara de leite integral, 1 gema, 2 colheres rasas de sopa de amido de milho e 1 colher de sobremesa de extrato de baunilha). Logo imaginei a torta com uva verde ou morango, delícia. 
Numa dessas pesquisas de geladeira, resolvi fazer creme de avelã com o que tinha à mão: avelãs, amendoim, leite de coco, 2 quadradinhos de chocolate 60% cacau derretidos e xilitol. Tudo de restinhos mesmo, pra acabar, liquidação. E ficou ótimo - o único senão é que, depois que vai para a geladeira, a consistência e o sabor mudam um pouco. Isso já tinha acontecido com o óleo de coco, que fica muito sólido na geladeira. 
Agora, os nuggets: estudei algumas receitas que encontrei, como a do Tastemade e a da Panelaterapia, e resolvi arriscar o nugget com frango processado com alho e cebola e depois empanado. Mudei, claro, algumas coisas. E o resultado foi fantástico - segundo marido, o melhor nugget que ele já comeu. 

Nuggets caseiros perfeitos (16 nuggets médios)
500 g de filé de peito de frango em pedaços pequenos
1/2 fatia de pão integral
2 dentes de alho sem casca
1/2 cebola sem casca
50 g de biscoito cream cracker integral
1 colher sopa cheia de flocos de milho (usei flocão, para cuscuz)
1 colher chá de páprica (usei a doce, porque a defumada tinha acabado)
pimenta-do-reino a gosto
sal a gosto

Processe o biscoito com os flocos de milho, a páprica, pimenta e sal. Reserve.
Processe o frango até obter uma pasta. Adicione o pão, o alho e a cebola e processe novamente, até ter uma consistência uniforme. Tempere com sal e pimenta. Modele pequenas bolas (o equivalente a uma colher de sopa de massa) e empane na farinha de biscoito e milho, achatando-as levemente. Você pode assá-las no forno, em uma forma untada, ou fritá-las por imersão, ou na fritadeira sem óleo, como eu fiz. 
Prepare um molhinho com quantidades iguais de maionese e ketchup e umas gotinhas de shoyu ou molho inglês. 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Um ano e dois meses

Com direito a pegar numa espécie de urtiga-cansanção achando que era muda de mamoeiro e ficar com os dedos e palmas das mãos vermelhos e queimando e coçando vários dias, a ser atacada por mutucas e cigarras, a ter que deixar baldes e bacias em pontos estratégicos da sala e do escritório porque, afinal, começou o inverno baiano e as goteiras se multiplicam - e por conta da chuva também arrumei um minijump, pra substituir as caminhadas nos arredores (15 minutos e quase tenho um treco, mas já tenho melhorado meu desempenho).  
Também começou a CPI para apurar responsabilidades na condução do combate à pandemia. Mas seguimos descrentes de tudo. Sempre detestei juízos de valor com relação ao Brasil, mas está sendo impossível não pensar que somos filhos do atraso travestido de cordialidade. A violência, as chacinas, a intolerância brotam de toda parte. A carestia não dá trégua. E a alma pesa, pesa, pesa. 

Éclair anos depois e polpetone

Fiz éclair só uma vez em casa, há alguns anos, e me pareceram satisfatórios. Segui a receita do livro do Sebess de confeitaria. 
Aí resolvi repetir, mas seguindo uma receita da Dani Noce, que pra mim é uma guru da confeitaria e podia dar umas dicas preciosas. 
Segui o máximo que pude a receita, e não deu certo. A massa embatumou. Fiz de novo. Embatumou de novo. Consultei o site da Raiza Costa, meu livro da Ladurée, o livro do Sebess, pra ver onde tinha errado. Com exceção do livro do Sebess, todo mundo falava em fazer a massa perder vapor para ficar mais sequinha e assim criar os alvéolos próprios da pâte à choux. Tinha a questão do tempo e da temperatura também. Não me lembrava nem do vapor nem da demora no forno. Mas segui as novas dicas. 
A massa, na terceira vez, cresceu, murchando só um pouco na saída, após quase 40 minutos. Creio que não se deve tirar do forno em tempo nenhum (embora a Dani diga pra se fazer isso para furar o fundo e devolver os éclairs ao forno). Também a velocidade da batedeira deve contar - usei a de mão, que é muito mais rápida que a grande, e isso pode ter aumentado as cadeias de glúten, o que, imagino, não é desejável. 
Fiz um creme de confeiteiro delicioso, mas acabei doando pra sogra, já que entre as duas primeiras tentativas e a terceira se passou uma semana, e eu não queria jogá-lo fora. Na terceira tentativa, fiz um outro, outra receita, que não ficou tão consistente. O fondant também poderia ter ficado mais firme. 
Mas, enfim, ficou gostoso. Não perfeito, mas aceitável para sobremesa de um jantar e melhor que a da Perini. 
Aliás, o jantar foi realmente salvo pelo polpetone, que fiz rapidinho, pá pum, inclusive usando na massa de carne um pouco de pâte à choux encalhada. Pimenta, sal, um pouquinho de mostarda Dijon, uma gema, e filetes de queijo no meio. Muito molho em volta, e levei para assar uns 30 minutos. Ficou muito, muito bom. 

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Multi, pluri, inter, trans

Mulher de sorte, encontrei uma disciplina on-line na Faculdade de Educação que tinha tudo a ver com minhas pesquisas solo atuais. Mais sortuda ainda, fui aceita como ouvinte pelo professor. Fiquei felicíssima, porque ia ouvir muitos alguéns - o professor e todos os interessados no tema - tecendo relações entre multiculturalismo, educação e Paulo Freire, bell hooks, Rancière e tal. Freire, por quem me apaixonei antes da faculdade e que voltou muito a propósito e com força nos últimos tempos, sobretudo nos meus questionamentos sobre existir no mundo e fazer o que dessa existência, e bell hooks, que conheci há pouco tempo e que já amo. 
Fiquei animada ao atestar a organização do professor, que disponibilizou os textos e o link das aulas com antecedência. Apliquei-me nas leituras, em princípio mais simples para mim. Em princípio. 
Como estou me iniciando nos debates específicos sobre multiculturalismo, tema premente, fico mais observando que arriscando pitacos. E só depois de muito ouvir resolvi organizar minhas ideias e compartilhá-las, por escrito, com o professor, que parece muito disponível na interação para além da videoconferência semanal.
Enviei-lhe então um e-mail com várias percepções pessoais sobre o tema, considerando as sincronicidades todas que têm acontecido desde que tive um clique a respeito. 
Porque havia assistido a Ailton Krenak no Roda Viva, com sua linda imagem da dança cósmica, falar sobre os inter-universos possíveis na imensa diversidade indígena, a nos lembrar que índio não "é tudo igual". Como povos negros. Como povos orientais - e me lembrei de minha irmã sendo agredida no metrô do Rio, chamada de "chinesa suja", o preconceito e a ignorância mastigados pela boca de uma mulher idosa. Essa mulher provavelmente gostaria do texto de João Pereira Coutinho, colunista da Folha, intitulado "Escrita inclusiva não passa de uma fantasia da indústria de justiça social", que li um dia depois de ver Krenak brilhando na TV Cultura - o cronista ultraconservador ridicularizava as reivindicações culturais particulares dos grupos não dominantes, dizendo, em resumo, que dali a pouco a ciência seria contaminada pelas mandingas próprias desses grupos (chegando a dizer, para se ter a medida de seu preconceito, que seriam colocados búzios sobre os olhos de um paciente em vez de se receitar um fármaco qualquer). No texto de Coutinho, em inteira oposição à fala de Krenak, o padrão da branquitude conservadora, talvez defensora do multiculturalismo desde que adequado a esse padrão.
Escrevi também porque, sincronisticamente, havia assistido a Sankofa, na Netflix, documentário sobre as Áfricas possíveis e existentes na viagem de um fotógrafo e de um professor universitário. De novo, as diversidades exigindo serem vistas. 
Ainda por cima, ouvi Rita von Hunty indagando sobre quem cuida das crianças trans, em meio ao debate da aprovação do PL 504, que pretendia proibir a publicidade LGBTQ+. Rita falava da insistência no padrão familiar hetero e branco que acaba por, de novo, invisibilizar todos que sejam diferentes dele, como a população negra e LGBTQ+. Como Fernando, Alexandre e Lucas, os garotos desaparecidos no Rio de Janeiro desde dezembro e sobre quem ninguém fala, como Keron e Pietra, jovens trans assassinadas no Ceará este ano. 
Falei da minha consciência tardia acerca dos abusos e da falta de representatividade de mulheres, não heteros e não brancos. Tão perto dos 50 anos me dei conta de que sempre estivemos à margem e que acabamos reproduzindo os estereótipos, procurando nos igualar ao padrão correto e, pior, fortalecendo a opressão. 
Comentei sobre minhas pesquisas recentes e sobre o que ouvi de colegas do curso atual a respeito de acolhimento, lugar de fala, assumir ou não o privilégio branco e como tudo isso me leva a pensar de que forma podemos construir um mundo de aceitação das diversidades, uma aceitação de fato, integral, levando em conta que nem sempre haverá harmonia entre elas. Falei sobre a angústia que permeia esses questionamentos, já que estamos tão condicionados a chegar a conclusões últimas, a solucionar coisas e, por isso, sofremos com a falta de repostas. Que talvez as perspectivas nos livrem da completa angústia, sobretudo se forem pautadas na justiça social. Que talvez não precisemos de uma resposta pronta, mas de um caminho possível, trilhado sobre luta, arte, compaixão e justiça. Porque penso que esse caminho teria mais a ver com a ideia de se deixar atravessar pelo outro, de aceitar o plural, de promover a interação, de não se render ao conceito do mero multiculturalismo que temos discutido. 
Ele me respondeu rapidamente, lamentando uma "visão fechada", que depois leria minha "carta" com calma. Ah, como senti não me ter feito entender! Especialmente por quem eu cria que pensasse o mesmo que eu. Mas, para além de uma inépcia minha para a clareza da escrita, isso denota também os riscos próprios da transculturalidade, da pluralidade, da diversidade, enfim. Mesmo que nos ofereçamos de peito aberto, nem sempre o outro desejará passar através de nós. Talvez, apesar do discurso, não saiba como. Talvez, apesar do discurso, o problema seja justamente o silenciar, como diz Krenak. 

domingo, 18 de abril de 2021

Thelmas & Louises

Outro dia, revi Thelma e Louise (1991) na TV. Na minha memória, é um dos primeiros filmes com protagonistas femininas e a tratar de temas sensíveis para as mulheres, mesmo sendo dirigido por um homem, Ridley Scott. Assistindo-o hoje em dia, porém, parece até um pouco ingênuo, apesar da violência contra a mulher. Ou talvez seja pelo fato de, além de possuir um olhar masculino, o do diretor, o nosso olhar feminino ter mudado após 30 anos, e tudo o que vivemos ter ficado tão às claras.  
Não foi um acaso eu ter visto esse filme. Na verdade, procurei por ele, após ter criado com queridas de longa data um grupo de WhatsApp, Thelmas & Louises. Porque, para além das aventuras e desventuras vividas pelas maravilhosas Susan Sarandon e Geena Davis, a película, na minha opinião, fala sobretudo sobre amizade. Amizade entre mulheres, algo que tem sido redescoberto com a importância da sororidade nos debates feministas atuais. 
Conheci as cinco integrantes do T&L no trabalho. Lembro-me de um amigo de lá me dizer que eu era muito ingênua de pensar que colegas de trabalho formavam uma família - ele, inclusive, é um irmão para mim até hoje. Mas não se tratava disso: eu sabia que a maioria das pessoas só passaria por mim como águas heraclitianas, para nunca mais voltar. E que uma parte, apenas uma parcela mesmo, ficaria, desembarcaria no meu porto e fundaria cidades no interior, criaria memórias e que tais. Assim tem sido com as cinco, há quase 30 anos. 
Tão diferentes somos! Quantas combinações de qualidades diferentes há em cada uma, mas vejo em todas, em momentos diversos, humor, inteligência, sensibilidade, força e muita doçura. Sinto, mesmo à distância, a dor de cada uma, vibro com o sucesso de cada uma. Em nossas lives, vejo ainda as meninas que trabalhavam comigo, mas sobretudo com quem organizava amigos-secretos, festas de aniversário e à fantasia, com quem viajava, ria e compartilhava dramas, com quem aprendi tanto nesse longo aprendizado de ser e de ser mulher. Estão aí, elas. As mesmas meninas, o mesmo afeto. 

domingo, 11 de abril de 2021

Aquele empurrãozinho na criatividade

Outro dia, uma amiga de faculdade recém-reencontrada nas redes sociais comentou que ela sempre precisa de estímulos externos para criar algo. Que ela não era naturalmente talentosa ou criativa, que para escrever um texto precisava de um acontecimento pitoresco, que executava as coreografias de dança direitinho mas sem brilhantismo etc. Identifiquei-me completamente com ela. Não sei criar coisas do zero. Era meio atrapalhada no flamenco, embora amasse estar ali no meio daquelas palmas e sons de tacones. Escrevo textos mais burocráticos que criativos. Preciso de modelos para desenhar. 
Depois fiquei pensando que a criatividade, na maioria das vezes, também se cria. Como ser mulher, não se nasce criativo, talvez "torne-se". Eu já comentei que, quando necessário, me meto a aprender algo para dar conta de um projeto. Normalmente, aprendo o básico. Não me lembro de ter algum aprendizado muito aprofundado. Enfim. 
De posse da necessidade, arregaço as mangas e mergulho as mãos na demanda. Senhora das demandas, isso sei que sou. Demanda, motivação, o empurrãozinho que me leva a criar. E assim ideias ganham corpo, como o convitinho para o chá de fraldas das gêmeas de Gleice. Aquarela e colagem. Aquarela, o quanto baste, e colagem, para suportar o desenho insuficiente. Sobre branco, sempre ele, a me dar espaço, a me permitir respirar. O espaço em branco, o próprio lugar da criatividade. 

Guiozas da Tchu, a revanche

Da única vez que fiz guiozas, elas ficaram boas, mas meio pesadinhas e feiosas. Agora, só agora, descobri que tem a ver com os tempos de sova e descanso e a forma de abrir a massa. Provavelmente, a outra vez, abri a massa inteira e usei cortador. Quem me deu as dicas agora foi de novo a Tchu, que manja muito das massas e, principalmente, de comida oriental. 
É preciso misturar farinha e água quente na proporção 2 para 1 (usei 300 g e 150 mL). Depois de agregar bem, deixar descansar 10 minutos dentro de um saco plástico para então sovar mais um pouco e então deixar descansar pelo menos 30 minutos dentro do saco. Na hora de abrir - o ideal é já ter o recheio pronto, e desta vez usei shimeji fresco, nirá, cebola, repolho, tudo picadinho e temperado com sal, shoyu e óleo de gergelim e levado a refogar -, é preciso furar a bola de massa no meio e então ir formando um círculo como se fosse um donut grande. Daí se corta o donut de massa duas vezes, para criar duas minhocas, como quando a gente faz nhoque. Corta-se cada minhoca em pedaços pequenos, girando a 90 graus a cada corte, para manter a seção do corte mais redonda. Achata-se com a mão cada pedaço, que é aberto com rolo. Um a um. Imagine a diferença que faz todo esse processo.
Então é só rechear e fazer as famosas dobras (aqui já bateu aquela impaciência e fiz cada guioza de um jeito, mas a massa é tão boa que até que tudo bem, ficou infinitamente melhor que da outra vez). Marido foi contrário a fritar as guiozas, então aproveitei para estrear, após uns 6 anos, minha panela de bambu. Protegi cada andar com papel manteiga furado a faca, para passar o vapor e não deixar as guiozas grudarem no bambu. Acoplei tudo em uma panela já com água e levei para cozinhar pelo tempo médio de 8 minutos. 
Para acompanhar, preparei um molho com shoyu, óleo de gergelim, gotas de limão, nirá picadinho e um pouquinho de molho de ostras. Ficou tudo delicioso. "Profissional", disse Guga. Acho que esse é o elogio máximo que poderia receber. 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Tem gente com fome em meio ao genocídio

Tenho cá pra mim que toda a extravagância jupiteriana chocolateira foi para aplacar a tristeza com o Brasil chegando a 4 mil mortos por dia, mais de 330 mil pessoas em um ano. Porque realmente não sabemos o que será. Ainda rolou brownie a pedido do marido, uma comilança pascoalina sem fim nos últimos dias do fechamento de trabalho. 
Mas também já decidi que no lugar desse tipo de "consolo" vou me organizar para ajudar outras pessoas a terem o que comer, a última fronteira entre o humano e o desumano. Dá pra cozinhar pra galera? Não, com pandemia não dá. E também estamos longe dos grandes centros, onde costuma haver sempre quem se mobilize para preparar e distribuir comida a quem precisa. Que podemos fazer? Doações para esses projetos preciosos. Quanto? Quanto pudermos, enquanto pudermos. 
Volto a dizer da importância da luz que essa pandemia jogou sobre a iniquidade nacional. Sempre soubemos que assim era. Mas, como disse minha amiga Liu, a questão agora é: o que eu posso fazer para ajudar? Porque a luz pandêmica também mostra como somos privilegiados em comparação a quem não tem o básico. 
Não sei se estamos testemunhando por fim o declínio capitalista de que falava Marx. Temos visto, porém, os efeitos extremos de viver em uma sociedade capitalista, baseada na exploração de uma pessoa por outra, ou de muitas pessoas por poucas. Enquanto, durante a pandemia, aumentou o número de bilionários no país, cresceu em quase 10% o número de pessoas em pobreza extrema, que não tem o que comer nem a quem recorrer, porque o Estado brasileiro, coerente com a desigual sociedade brasileira, dá completamente as costas aos miseráveis. Para o Estado e o atual governo, quanto mais pobres morrerem, tanto melhor - é uma forma sórdida de se resolver o problema da pobreza, por meio da eliminação, por uma torta seleção "natural". 
Gente com fome, o auge da iniquidade. Tantas, tantas pessoas. O horror arrancou o véu só pra que a gente visse atrás dele todas essas pessoas. Tantas, tantas. Que a gente possa aprender a realmente dividir o pão, iniciar a mudança. 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Sandes cubanos, sorvete de chocolate perfeito e extravagância chocolateira

Na semana passada, fiz os sanduíches cubanos do filme Chef, com o Jon Favreau. Usei lombo fatiado e marinado em suco de laranja e limão, cominho, alho, azeite durante um dia inteiro, presunto de Parma, queijo minas padrão, picles agridoce e mostarda amarela. Não deu tempo de fazer pão, então usei pão francês do supermercado mesmo. Grelhei lombo (podia ter cortado mais fino), tostei o pão besuntado em manteiga, montei o sandes com lombo, presunto, queijo, picles e um fio de mostarda e levei, de novo besuntado em manteiga derretida, ao George Foreman. Ficou uma delícia, a marinada é um perfume só - mas cortaria mais fino o lombo e deixaria mais um dia marinando. Uma observação importante: esses sandes, embora chamados cubanos, parecem ser criação de expatriados que vivem em Miami, tipo o nosso bauru, inventado por um paulista.
De sobremesa, o melhor sorvete de chocolate que já fiz. Usei 200 mL de leite condensado caseiro, 200 mL de creme de leite, 100 mL de leite de coco, 1/2 xícara de chocolate em pó 70% cacau. O leite condensado foi feito com 50 mL de água quente, 60 g de xilitol e 60 g de leite em pó. Perfeição.
E, pra continuar na farra chocolateira, fiz uma extravagância. Lá no querido grupo ECDE dei de cara com os chocolates Monjolo, feitos com cacau baiano pela Luana Vieira, de Barão Geraldo, Campinas. E um ovo de Páscoa de chocolate branco com limão siciliano, gengibre e castanha de caju. E barras rústicas. E um creme de cupuaçu com amendoim e cupuaçu cristalizado, de comer rezando - comi o pote todo em 3 dias, já que marido não curte muito cupuaçu, pra minha sorte (aliás, o creme também é produzido na Bahia, em Olivença). O ovo de Páscoa de 200 g é caro pros nossos padrões, equipara-se em preço a um da Kopenhagen. Mas vale cada centavo - sério, os melhores chocolates que já comi foram estes da Monjolo, que, ainda por cima, são lindos (confesso que tive um certo preconceito de classe quando vi a sofisticação toda, e logo pensei que o pensamento e a ação de esquerda não pode ser restringido por isso, especialmente no contexto capitalista em que vivemos). Só houve o incidente de o pote de creme de cupuaçu ter amassado o ovo. Também a barra rústica não era o sabor que eu queria - são dois, e eu achava que tinha indicado o de frutas secas, mas Luana também não perguntou, e acabou enviando justamente o outro, com frutas secas e flores. E ela tinha prometido enviar uns bombons de presente, mas não rolou. Pontuei tudo isso com ela, que me prometeu enviar outro ovo e a barra correta. A ver. 

quinta-feira, 25 de março de 2021

Frozen yogurt de whey protein e tortinha do McDonald's na airfryer

Duas receitas no final da semana passado: frozen yogurt com whey protein no lugar do leite em pó e com um pouco de xilitol e tortinha do McDonald's de minha amiga Luciana Tchu. 
O sorvete, sem muito segredos: troquei o leite em pó por whey, adicionei um pouco de xilitol, a coalhada que tinha feito, um pouco de baunilha. Bati na sorveteira e pronto. Ficou um pouquinho flocado na consistência, mas o sabor é ótimo, quase tão perfeito quanto o frozen costumeiro.
Quanto à tortinha, cismei de experimentar primeiro uma receita de massa semifolhada da Rita Lobo, mas não deu certo. Ficou muito quebradiça, imprestável. Daí, depois de um quase acesso de raiva, retomei a receita da Tchu, pá-pum, e na hora do jantar tivemos uma tortinha deliciosa preparada na airfryer. Imagino que no forno fique ainda melhor, inclusive quanto à aparência. Aliás, a forma ficou meio atropelada porque eu estava no meio de uma chamada de aniversário de minha amiga Marise. Enquanto conversava com as outras bruxas, fui abrindo massa de torta e finalizando lasanha de berinjela. Daí a tortice da torta. 

domingo, 21 de março de 2021

A obra que podia ter sido

Terminei de ler Torto arado, do Itamar Vieira Jr., esta semana. Tinha muitas expectativas quanto ao livro, que descobri pouco depois de ter sido lançado, já premiado em Portugal mas ainda sem o Jabuti subsequente. Comecei animada, querendo saber a história das duas irmãs quilombolas que vivem no coração da Chapada Diamantina. Itamar é geógrafo e começou a escrever o romance ainda jovenzinho. Depois tornou-se funcionário do Incra, e pôde se aproximar, por conta do trabalho, dessas populações interioranas. 
De fato, há muitas descrições de paisagens naturais - mas pouca exploração dos hábitos cotidianos. Fala-se um pouco do que acontece no terreiro, fala-se dos alimentos que os moradores da região encontram na seca e na enchente. Mas há poucos aromas, poucos gostos, poucas cores. Inevitável pensar em autores que exploram a luminosidade extrema em paisagens assemelhadas, como Graciliano, Jorge Amado, até Camus, com seu Meursault cego pela luz do sol. Graciliano e toda a geração de 30, assumida referência de Itamar, que conseguem nos guiar pelos desertos, nos fazem ter sede, fome, ilusões de ótica. 
O que mais me incomodou, porém, foi, como sempre, a construção das personagens, mais especificamente a forma como falam com o leitor. Uma das irmãs se interessou por estudar, a outra se interessou pela lida na terra. No entanto, ambas se expressam em sua apreensão da realidade de forma muito sofisticada. Claro que a sabença não está só no saber dizer, mas principalmente na forma como se pensa. Mas, mesmo no pensar, a linguagem acompanha o pensante, ou é o que costuma acontecer. Não é o que acontece no livro. A linguagem pensante de ambas tende ao rebuscado, inclusive com pouco do vocabulário local. As expressões locais, tanto da Chapada quanto da Bahia, pouco integram os pensamentos das irmãs. Poderia ser uma história de qualquer lugar. 
Alguém pode alegar que uma boa história é uma história de todo lugar. Sim, mas neste caso é tão importante o lugar em si - tudo gira em torno do pertencer àquela terra - que é estranho que ele não se entranhe completamente no falar-pensar das personagens. 
Por fim, surge uma terceira voz narrativa, a de uma entidade. Descobrimos, sem que tenha sido dada nenhuma pista anterior, que o elemento sobrenatural explica a morte de um algoz da comunidade quilombola. A ideia é ótima, aliás, o argumento geral do romance é todo ótimo. Mas daí chegamos ao título do post, sobre o que poderia ter sido a obra, e não foi, pelo menos para mim. Talvez para o autor tenha sido suficiente, acredito que foi sim. Para mim, foi como dar muitas braçadas, mesmo sem muita esperança, sabendo que ia morrer na praia. E morri, eu, leitora, à beira-mar, cheia de sabão na boca. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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